A entrevista do superintendente da Suframa, Bosco Saraiva, ao Grupo dos Seis (G6), na terça-feira (25) causou alvoroço e reações acaloradas de bolsonaristas, tentando negar as molecagens praticadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, contra a Zona Franca de Manaus.
Bosco Saraiva afirmou, ao relembrar o passado sombrio, que “o plano era fechar o Polo Industrial de Manaus. Isso ficou claro nas ações do governo”. O atual superintendente lembrou das ações do ministro Paulo Guedes e de como a bancada do Amazonas no Congresso, com o apoio do partido Solidariedade, atuaram para evitar o pior.
Assim que o trecho da entrevista ganhou manchetes dos principais sites de notícias, veio a reação de políticos ligados ao ex-presidente Bolsonaro tentando negar o passado recente.

Vamos aos fatos: o ATUAL publicou inúmeras matérias que relembramos abaixo.
10 de fevereiro de 2020: ‘Deixem a Zona Franca em paz’, diz Plínio Valério ao governo Bolsonaro. Plínio Valério é um aliado de primeira linha de Bolsonaro. Na ocasião, ele afirmou que o ministro Paulo Guedes ao mexer no subsídio do polo de concentrados instalado em Manaus, coloca a Zona Franca no “corredor da morte com data marcada para morrer”.
Leia a frase completa: “Quando Guedes diz que vai retirar o subsídio do polo de concentrados, que está em 8% (já foi de 20%, vai para 6% e vai para 4%), ele nos coloca no corredor da morte com data marcada para morrer. Eu não consigo entender: há tanto que se ocupar no país para gerar emprego, e o ministro Paulo Guedes se ocupa com a Zona Franca de Manaus permanentemente. São 92 mil empregos diretos e 500 mil a 600 mil empregos indiretos num país que precisa, urgentemente, gerar emprego.”
18 de fevereiro de 2021: Bolsonaro quer acabar com Zona Franca, causar tragédia e retirar direitos, afirmam deputados. Na ocasião os deputados estaduais Serafim Corrêa, Dermilson Chagas, Alessandra Campêlo e Álvaro Campelo se manifestaram contra a decisão do presidente Jair Bolsonaro que reduz a alíquota de imposto de importação de bicicletas de 35% para 20% até dezembro de 2021. Os deputados disseram que o objetivo era acabar com a Zona Franca de Manaus, causar tragédia, retirar direitos e destruir a Floresta Amazônica.
25 de fevereiro de 2022: Decreto de Bolsonaro que reduz IPI ‘fere de morte’ a Zona Franca de Manaus. Um ano depois de mexer no Imposto de Importação de bicicletas, Bolsonaro editou um decreto que reduziu em 25% o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para todos os produtos fabricados no Brasil, levando a uma perda significativa de competitividade da Zona Franca de Manaus. Para políticos e empresários, a medida “feria de morte” a ZFM.
O então presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), economista e empresário Wilson Périco, afirmou que “Paulo Guedes não honrou o compromisso e desrespeitou mais uma vez a Constituição”.
29 de abril de 2022: Bolsonaro amplia redução do IPI para 35% e ‘sufoca’ ainda mais a Zona Franca. Enquanto os políticos se mobilizavam para minimizar os impactos da redução de IPI realizada em fevereiro, o governo Bolsonaro aplicou mais um golpe contra a Zona Franca de Manaus.
A estratégia do ministro Paulo Guedes, de reduzir o IPI para toda a indústria brasileira, fora anunciada no primeiro ano do governo Bolsonaro, quando de uma fala irônica contra a Zona Franca de Manaus. Em entrevista à Globo News, em abril de 2019, o ministro disse que não precisava mexer na Zona Franca de Manaus para acabar com o modelo econômico instalado no Amazonas. Bastaria, segundo Guedes, “simplificar impostos” para o Brasil.
🏭ZONA FRANCA DE MANAUS👷🏽
— Mário Adolfo Filho (@marioadolfo) February 25, 2025
1. Em entrevista ao G6, o superintendente da Suframa, Bosco Saraiva, revelou que o objetivo real do Governo Bolsonaro era acabar de fato com o Polo Industrial de Manaus;
2. Ele chegou a receber ligações de empresários dizendo que só iriam manter a… pic.twitter.com/HQE4NX9GS2
6 de maio de 2022: Alexandre de Moraes suspende decretos de Bolsonaro contra a Zona Franca de Manaus. O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou o decreto do então presidente Jair Bolsonaro (PL) que zerou a alíquota do IPI dos concentrados de bebidas e trechos dos decretos que reduziram o imposto em até 35% para os produtos que são fabricados na Zona Franca de Manaus. Ele julgou ação ajuizada pelo partido Solidariedade, do então deputado federal Bosco Saraiva.
Houve outros ataques à Zona Franca de Manaus orquestrados pelo ministro Paulo Guedes e consumados pelo presidente Jair Bolsonaro, como o imbróglio dos concentrados de refrigerantes, citado no parágrafo anterior.
Além desses ataques diretos, concretizados via decretos, o governo, na segunda metade do mandato de Bolsonaro, decidiu sufocar a própria Suframa. O superintendente general Algacir Antônio Polsin reduziu o quadro de pessoal e o orçamento da autarquia, esvaziando totalmente a instituição. Polsin substituiu outro militar, o coronel Alfredo Menezes, que ficou no cargo até junho de 2020.
Quando Bosco Saraiva assumiu o comando da Suframa, encontrou um prédio quase fantasma. Foi nesse contexto que o atual superintendente disse: “O plano era fechar o Polo Industrial de Manaus”.