Com o principal argumento de custo elevado para os cofres públicos, o Governo Federal resolveu colocar a Eletrobrás em processo de privatização em algumas regiões do País, principalmente no Norte. A intenção é fazer com que a empresa ganhe eficiência e cesse o custo que gera aos cofres públicos, que nos últimos 15 anos ficou em aproximadamente R$ 85 bilhões no Brasil inteiro. No Amazonas, a concessionária de energia deve ser vendida por R$ 8,9 bilhões.
Os funcionários da Amazonas Energia não estão muito confiantes com o processo de privatização. Nesta semana, o processo administrativo foi concluído já tendo à frente o novo presidente da empresa no Estado, Tarcísio Rosas, que assumiu o cargo no mês passado, mesmo respondendo denúncia no Tribunal de Contas da União (TCU) por “práticas de ato de gestão ilegal, infração de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional ou patrimonial”.
Internamente, funcionários têm informações de que nas próximas semanas haverá uma demissão em massa e que pode atingir ao menos 200 trabalhadores, principalmente os mais antigos. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas do Estado do Amazonas (STIU-AM), Ediney Martins, falou que ameaças são diárias. Ele tem certeza que as dispensas serão consequência natural do processo de privatização.
“Tá um clima ruim. É difícil, porque os funcionários sabem que com a privatização podemos perder nossos empregos. Tem muita ameaça acontecendo e a última que chegou foi da empresa querendo demitir cerca de 220 trabalhadores da antiga Ceam (Companhia Energética do Amazonas). Para que isso aconteça, precisa ser deliberado pelo conselho de administração. Se for efetivado, deve ser questionado na Justiça”, afirma Ediney.
O presidente do sindicato ainda prevê consequência desastrosa para o interior do Estado quando o processo de privatização for concluído. Isso porque, muitos municípios não dão lucro para a concessionária de energia, que trabalha com subsídios do governo federal para poder gerar energia elétrica aos moradores destas cidades, muitas delas carentes.
“O interior do estado vai passar por um processo permanente de racionamento, apagão constante e o preço da energia deve aumentar muito mais com novos reajustes e a qualidade do serviço na capital deve cair”, aponta Ediney.
Por fim, o sindicato informou que não pretende mais fazer greve por tempo indeterminado, pois acredita que o processo de privatização não será paralisado. Os movimentos estão sendo feitos nos bastidores, tanto na ordem jurídica quanto na política.
“Os movimentos são mais na ordem jurídica com ações na Justiça para tentar ir barrando o avanço do processo, e ordem política, a fim de convencer os atores políticos no sentido de proporem uma outra alternativa que não seja a privatização”, encerra o presidente.
RESPOSTA
A assessoria de comunicação da Eletrobras Amazonas Energia informou que “a empresa procura manter os empregados informados sobre as fases e o andamento dos processos. A Empresa realizou, recentemente, um evento com os colaboradores das distribuidoras para esclarecer as dívidas sobre o processo de desestatização”. Sobre o novo presidente, a assessoria informou que não está programado nenhum anúncio de corte e que Tarcísio Rosas não fará qualquer anúncio.
“Ele veio contribuir com sua experiência para, junto com os outros diretores e demais colaboradores, dar continuidade ao trabalho de melhoria dos indicadores da distribuidora”, encerra a nota.
Ainda segundo a Eletrobras, a desestatização permitirá que um novo acionista especializado em distribuição de energia elétrica otimize os recursos das empresas e realize os investimentos necessários para torná-las mais eficientes, atendendo às expectativas dos mais de 13 milhões de habitantes dos estados do Acre, Alagoas, Amazonas, Piauí, Rondônia e Roraima, que juntos totalizam uma área territorial de 2,46 milhões de km², correspondente a 29% do território nacional.
Reportagem: Nickson Maciel/ Toda Hora