Após percorrer mais de 4.000 quilômetros de Brasília a Manaus, passando pela BR-319, o deputado federal Amom Mandel (Cidadania-AM) denunciou o abandono das comunidades que vivem no entorno da rodovia. Em coletiva de imprensa, o parlamentar relatou os desafios enfrentados durante a viagem e reforçou que, independentemente do asfaltamento da estrada, é urgente garantir serviços básicos para a população local.
“Ouvimos o relato sobre a morte de um motociclista que fazia o trajeto quando sofreu um acidente e morreu porque não tinha como ser socorrido. Foram mais de 24 horas esperando resgate do corpo. Isso é muito triste, porque quem passa mal em alguns desses municípios, como Manicoré, não tem atendimento médico e precisa recorrer ao sistema de saúde de outro estado, como Rondônia. Essas pessoas não podem viver em estado de abandono. Isso independe de questões ligadas ao asfaltamento ou não da BR-319”, destacou o deputado.
Mandel relatou que enfrentou dificuldades ao longo da rodovia, ficando preso em dois momentos devido ao barro escorregadio em virtude das chuvas e sofrendo acidentes devido às más condições do trajeto, onde foi resgatado por um grupos de jipeiros e cidadãos que passavam pelo local. Além disso, constatou a precariedade da fiscalização, com postos da PRF inoperantes e a ausência de blitz ao longo de todo o percurso.
Para ele, a falta de estrutura coloca em risco tanto os viajantes quanto as comunidades locais. “Queremos que as pessoas tenham acesso à saúde, à educação e à segurança, mas, na prática, não tem nada disso”, afirmou.
Outro ponto levantado pelo parlamentar foi a degradação ambiental e a falta de execução de projetos de recuperação. “Vimos trechos desmatados com placas indicando recuperação da área, mas nada é feito na prática. Isso é lamentável ", criticou.
O deputado anunciou que, nos próximos 90 dias, apresentará um documentário sobre a realidade da BR-319 e levará relatórios detalhados ao Ministério dos Transportes e ao Ministério do Meio Ambiente. O objetivo é cobrar medidas imediatas para melhorar as condições da rodovia e das comunidades ao redor.
“Se não asfaltar, precisamos de veículos adequados, de um plano de manejo e recuperação que seja executado. O governo precisa dar uma resposta hoje, além dos discursos inflamados de um ministro ou de outro”, concluiu.
Principais constatações da expedição:
• Ausência de fiscalização: Durante todo o trajeto, não foram observadas operações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), evidenciando uma ausência do Estado nas estradas, com bases fechadas e viaturas estacionadas. Uma realidade que compromete a segurança dos motoristas e facilita práticas ilegais, como o transporte irregular de cargas e crimes ambientais.
• Condições precárias das rodovias: As equipes enfrentaram trechos com pavimentação deteriorada, sinalização inadequada e manutenção insuficiente, aumentando os riscos de acidentes e atrasos no transporte de mercadorias e passageiros.
• Sucateamento da BR-319: A rodovia, que liga Porto Velho a Manaus, encontra-se em estado crítico. A falta de infraestrutura adequada resulta em prejuízos econômicos e isolamento de comunidades, afetando diretamente o desenvolvimento regional. O trecho conhecido como “trecho do meio” é especialmente problemático, com condições que tornam a viagem imprevisível e perigosa.
• Devastação ambiental ao longo da BR-319: Foram identificadas extensas áreas de desmatamento, especialmente próximas à Igapó-Açu, localizada no “trecho do meio” da BR-319, que se destaca como o maior foco de desmatamento. A ocupação nessa área tem levado à destruição acelerada da floresta, ameaçando a biodiversidade e contribuindo para o avanço do desmatamento na Amazônia.
• Solidariedade entre viajantes: Apesar das adversidades, a expedição testemunhou uma forte camaradagem entre os que se aventuram pela rota. Motoristas e moradores locais se ajudam mutuamente, compartilhando recursos e informações para superar os desafios impostos pelas estradas. A expedição de Amom Mandel passou por diversas situações de risco e foi auxiliada pelo grupo Lavradeiros Club, que fazia uma trilha no mesmo trajeto.