A invencionice do “do marco temporal” é uma estratégia de governo que funciona como uma limpeza étnica afrontando a Constituição Federal é como se deixasse os povos indígenas pendurado no ar visto que se nega a história destes povos, o direito originário, sua tradição e o respeito à cultura.
Esta é a opinião do antropólogo e professor Ademir Ramos, coordenador do Núcleo de Cultura Política do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), sobre o mega acampamento de indígenas de diversas regiões do país, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para protestar contra o chamado "marco temporal" para a demarcação de terras.
Ignorada pela grande mídia, o Movimento Indígena Nacional é a única força no Brasil que resolveu enfrentar o governo Bolsonaro contra o genocídio, o destombamento do patrimônio cultural brasileiro. Aliás, é a garantia da demarcação das terras indígenas como determina a Carta Constitucional, em seu artigo 231, que assegura a estes povos seus “direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam”, avalia o antropólogo, que também é fundador da Fundação Estadual dos Povos Indígenas do Amazonas formulador da política indigenista do Estado.
Ademir Ramos chama atenção para o fato de que o Amazonas tem participação direta neste processo porque concentra a maior população indígena do País em quantidade e diversidade linguística e cultural.
— Somos o maior Estado da Federação a concentrar mais de 30% de terras indígenas demarcadas em seu território com outras dezenas a reclamar o cumprimento Constitucional – observa o professor.
Pé de guerra no Planalto
O peso pesado da mídia vem ignorado, de forma desumana – para não comprometer a fatia de verba de publicidade veiculada pelo agronegócio –, que mais de 5 mil indígenas de 170 povos estão acampados em Brasília para acompanhar o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) que pode analisar o marco temporal para demarcações de suas terras.
O julgamento deve prolongar-se pela semana que entra, por isso, as lideranças indígenas decidiram permanecer acampadas no Distrito Federal até quinta-feira (2) para acompanhar de perto o julgamento da matéria referendada pelo governo Bolsonaro em favor dos latifundiários, ruralistas e da indústria da grilagem que opera com fogo e bala na Amazônia.
Na visão de Ademir Ramos, é bom esclarecer de uma vez por todas que os povos indígenas são tratados no Brasil como posseiros da terra porque quando demarcadas não são propriedades privadas e nem comunal dos povos indígenas.
— A terra demarcada ou não continua sendo da União. O que a Constituição assegura e garante é o usufruto da terra de forma comunitária como expressão de uma política indigenista que reconhecesse os Direitos originários desses povos históricos.
Para o antropólogo, o que o governo Bolsonaro está fazendo é implementando a política de integração dos indígenas no Brasil, visto que sem terra tradicional e histórica, sem uma política de sustentabilidade, saúde, cultura e identidade afirmativa, os povos indígenas se transformam em presa fácil dos “gatos” que são os aliciadores dos trabalhadores avulsos para as grandes lavouras no sertão brasileiros ou para servir de “bucha de canhão” nas frentes de ocupação na Amazônia.
— Todo poder aos povos indígenas do Brasil. Lamenta-se a não participação dos movimentos populares e, principalmente, o destrato de como a mídia nacional vem abordando o fato em seus noticiários carregados de preconceito e discriminação com as exceções devidas –, critica o professor.