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Em entrevista publicada ao site UOL, no último domingo, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), usou a mesma intensidade com a qual atacava o ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enquanto foi senador (2003 a 2011) para se referir a seus companheiros de partido, aos 71 anos, ele quer ser presidente da República.

Nos últimos dias, ele anunciou seu desejo de participar de prévias no PSDB. Arthur Virgílio diz tentar quebrar a polarização interna no ninho tucano, dividido entre os apoiadores dos projetos presidenciais do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do prefeito da capital paulista, João Doria.

Durante a entrevista, Arthur Neto disse que o senador Aécio Neves não tem mais condições de continuar na presidência do PSDB, que Alckmin é “paulistocêntrico” e que Doria não tem “legitimidade” para ser candidato à Presidência da República. Sobrou até para o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC- RJ), que, segundo o tucano, é “fascista” e “homofóbico”.

Confira a entrevista na íntegra:

UOL – Seu partido está rachado e marcado por denúncias de corrupção. Por que o senhor quer ser candidato à presidência pelo PSDB?

Arthur Virgílio — Mais que rachado, eu vejo o PSDB petrificado. É um partido que ainda vive certos mitos como o de que as denúncias sobre corrupção atingiram os partidos ao redor, mas não ele mesmo. É um partido que não trabalha com ares vitoriosos em relação às eleições. Vi que o Doria vai ao Círio de Nazaré, em Belém, neste ano. É uma festa imperdível, mas ele vai lá pra fazer aquele show… Isso é uma coisa velha, caduca. Será que ele vai andar com os fieis no Círio? Será que ele vai tocar na corda?

Mas como o senhor classificaria a estratégia de Doria neste momento?

É caduca, sim. Ele não percebe qual é a vitrine correta pra ele. Ele prometeu o fim das filas no atendimento de saúde, fim de não sei mais o quê. Nada disso aconteceu. Nada disso teve prosseguimento. Agora, ele anuncia um programa de privatizações, e as pessoas que trabalham comigo dizem que falta solidez jurídica sobre o que ele está falando. É coisa muito mais pra ir pro Twitter e pro Facebook, pro Instagram. Quando a Prefeitura de Manaus tem algo bom a divulgar e não o faz, eu brinco com meus secretários dizendo pra gente mandar essa notícia pra equipe do Doria. Eles são muito bons nisso. Governar a cidade de São Paulo é mais importante que governar a Argentina, mas ele fica dando a entender que pode ser candidato (à Presidência) e ainda com insinuações de que, se não for candidato pelo PSDB, pode ser por outro. Que história é essa?

O senhor o considera um bom companheiro de partido?

Não lidei com ele no partido.

Por que, diante do racha entre Alckmin e Doria, o senhor decide se lançar como a terceira via dentro do partido?

Em primeiro lugar, eu tenho o objetivo de prestar serviço ao país. Prestar serviço à região Norte, uma região relegada ao quinto plano na visão desse pessoal que governa a partir de São Paulo. A mesma coisa com o Nordeste. Não vejo empecilho em entrar no Rio de Janeiro. Quando a gente falar a sério sobre segurança, a gente esvazia o (Jair) Bolsonaro. Há um espaço enorme para crescer na medida em que a gente explicar tudo o que se pensa de verdade.

O senhor faz críticas a Doria, mas também se coloca como alternativa a Alckmin. Por que o governador de São Paulo, na sua avaliação, não poderia ser um bom candidato à Presidência?

Ele é uma pessoa que tem serviços prestados ao partido, mas também precisamos mostrar quais são as fragilidades do governador Alckmin.

E quais são?

Essa visão “paulistocêntrica” dele. Ele já fez Adins (Ações Diretas de Inconstitucionalidade) para retirar incentivos fiscais e prejudicar a economia do meu Estado, de Goiás. Ele não entende de Amazônia. É cafona não entender de Amazônia. É out, pra usar linguagem de colunista. O Brasil sem a Amazônia seria um Chile mais gordinho. Um país sem grande expressão. O Alckmin precisa ser beliscado e acordar para as regiões Norte e Nordeste. Eles não olham. Eles tentam impedir a descentralização da indústria automobilística como se Moisés tivesse dito que a terra prometida desse setor fosse São Paulo.

O PSDB terminou 2014 como a principal força de oposição do país, mas hoje, é apontado por pesquisas de opinião como um dos partidos mais rejeitados do país. O que aconteceu de lá pra cá que causou esse efeito?

O PSDB é um partido rejeitado como todos os demais. Não conheço nenhum que não seja rejeitado, e a solução não está em sair dele. Dia desses, vi um grupo de deputados insatisfeitos com a permanência de ministros do partido no governo dizendo que estavam pensando em sair do PSDB para ir para o DEM ou o PSD. Eu achei a notícia tão falsa, porque fora disso ela só poderia ser jocosa. Então a pessoa acha que a solução para suas queixas éticas é ir pro DEM ou PSD? Nada contra ser do DEM ou do PSD, mas, pelo amor de Deus… Temos que olhar com realidade a forma como os brasileiros olham hoje para os partidos. Eu estou insatisfeito com o meu partido, mas não vou sair.

O senhor diz que todos os partidos são rejeitados, mas não foram todos os partidos que terminaram 2014 com o capital eleitoral do PSDB. O que explica essa queda?

Havia o fato de que o PSDB era considerado um partido intocável, até certo ponto esnobe. Nosso partido nunca foi um partido de militância. Sempre foi um partido que parecia uma plêiade de homens preparados, ilibados. Então quando acontecem essas coisas (denúncias) e você sente alguma coisa parecida com a traição, aí o partido cai na vala comum.

Foi isso o que aconteceu em relação ao senador Aécio Neves?

Acredito que sim.

Qual o peso das revelações da Operação Lava Jato em relação a Aécio para a situação do PSDB?

Acho que o PSDB causou essa decepção como um todo. No caso do Aécio, isso acontece porque ele foi protagonista de uma eleição em que ele terminou com 48% dos votos. Óbvio que ele virou uma esperança. Em 2014, ele veio a Manaus. Levei ele a um shopping. Fiquei com medo da reação das pessoas em relação a ele, mas, ao chegar lá, ele foi ovacionado. As pessoas saíram das lojas para cumprimenta-lo. Havia muito entusiasmo. Hoje, ele não teria condições de repetir essa visita ao shopping.

O senhor ficou surpreso em relação ao que foi revelado? O senhor acredita na versão dele?

Fiquei. Pedir empréstimo não é crime juridicamente, mas politicamente não é uma coisa positiva. E por lidar com uma pessoa como aquela (Joesley Batista), é um preço que ele vai pagar e vai pagar de maneira amarga. Agora, se você me perguntar sobre a situação dele, eu vou dizer que um senador que não foi condenado, não foi julgado, ser preso e com a restrição de não sair à noite… eu acho que não foi a melhor decisão que o Supremo tomou e acho que o próprio Supremo vai acabar se entendendo com o Senado. Tanto o Senado quanto o Supremo estão muito desprestigiados. Agora, o fato é que ele (Aécio) perdeu densidade política.

O senhor acha que ele deveria deixar a presidência do partido?

Acho que já é uma coisa inevitável. O partido deveria se reunir e escolher um novo presidente. Alguém agregador, capaz de unir as pessoas. Que se dispusessem a cumprir esse trabalho. Não o vejo mais dirigindo o partido.

Tê-lo na direção do partido ajuda ou atrapalha?

Não ajuda em nada.

O PSDB erra ao compor o governo do presidente Michel Temer?

A questão não está em ter o ministro ou não ter. Está em se dispor ou não a efetivamente apoiar a agenda das reformas que o governo tem tentado fazer.

Mas, em nome das reformas, vale apoiar um governo com tantos integrantes investigados por crimes de corrupção?

Então… Eu nem sequer discuto isso… Não há dúvidas de que o governo está mal politicamente. Mas o que nós vamos fazer? Vamos adiar as reformas, fazer oposição ao Temer, aceitar a denúncia e colocar o Rodrigo Maia no governo? E ele, por acaso, também não vai virar alvo? A gente vai passar este tempo todo até 2018 perdendo a oportunidade de fazer o crescimento econômico? Como é que faríamos essa travessia?

O senhor acha que Temer é a pessoa correta para fazer essa travessia?

Eu não acho que ele seja a pessoa correta. Ele está lá por acaso. Como foi acaso o Itamar (Franco), o (José) Sarney, o próprio Fernando Henrique. Mas a questão é política. Então a gente deveria derrubar o Temer, depois derrubar o Rodrigo Maia, depois a gente derruba o Eunício (Oliveira), sei lá quem… E vamos chegar em 2018 com que Brasil? Essa é uma pergunta que eu me faço. A situação é muito grave. No dia em que o (Henrique) Meirelles acordar e pensar que já está de saco cheio, for embora e levar a equipe econômica embora, o que vai acontecer? Eu olho pro Brasil e vejo um cenário muito grave. Com a minha experiência, eu não posso deixar minha sensatez de lado.

O senhor não teme que o que o chama de sensatez seja interpretado como oportunista? Seu partido se colocou como oposição ao PT pregando o combate à corrupção, mas faz parte do governo Temer que é o primeiro presidente denunciado na história do país. Isso não soa como incoerência?

Mas aí eu pergunto: [como pode] o partido não olhar para os seus próprios casos e achar que se purifica porque está atacando o outro? Isso é bizarro.

De qual partido o senhor está falando?

Eu estou falando do PSDB. É bizarro o PSDB achar que se purifica aos olhos da opinião pública, que ela vai voltar a vê-lo como diferente, apenas por fazer oposição ao governo Temer. Eu fico impressionado. Por que o PSDB não mergulha nele próprio e começa a perceber o que existe de errado? Veja, neste momento, eu deveria estar cheio de punhos de renda para falar sobre os deputados, senadores. Mas eu não estou nem um pouco preocupado com isso. Estou preocupado é com a opinião pública e com o futuro do país.

Mudando um pouco de assunto, o senhor diz ser um defensor da legalização da maconha. Por que?

Sou a favor da legalização da maconha por ter sido convencido pelos argumentos do ex-presidente Fernando Henrique. Sou a favor da legalização da maconha e veja quantos integrantes do meu partido têm coragem de dizer isso? No momento em que a pessoa pode adquirir maconha de forma legal, e quem sabe até outras drogas, isso vai prejudicar o tráfico de drogas. Nos países que tentaram isso, caiu a violência. Nós não estamos notando, mas estamos vivendo aquela realidade que era a da Colômbia há alguns anos. Esse clima de medo dá voto a uma pessoa sem qualificação como o Bolsonaro porque ele fala coisas que não têm começo, meio e fim. Ele se aproveita do desalento das pessoas com os partidos como o PSDB, PT e outros.

Ele aparece como segundo colocado nas principais pesquisas sobre 2018. Qual sua opinião em relação a ele?

É um sujeito de caráter fascista, homofóbico e que solta os jargões e faz piadas sobre o Lula e a Dilma para ganhar voto. O que é pior, quando ele veio a Manaus, foi buscado no aeroporto por 2.000 pessoas. Elas foram lá espontaneamente. Jovens. E ele fica justificando tortura… Isso é a falência de todos os partidos. O Bolsonaro não aguenta um peteleco num debate com ninguém. Pelo menos, não comigo. Ele é uma pessoa que não merece ter 18% de votos, não terá e, se depender de mim, não vai ter nem 1% porque eu levo todos os votos dele de maneira sensata.

Como é que o senhor viu a aliança entre PT e PSDB em relação à salvação do Aécio?

Tem duas coisas aí. A primeira é que realmente soa como uma aliança espúria para proteger uma pessoa. Por outro lado, é preciso se discutir em profundidade sobre se foi correta ou não a decisão do STF, sobre se os poderes são independentes ou não. Agora, é uma pena que os atores estejam tão desacreditados.

Nesta semana, uma reportagem publicada pela revista “Piauí” conversando sobre o apoio a João Doria como candidato à Presidência e sobre um projeto de enfraquecimento do PSDB. Como o senhor avalia a relação entre o MBL e o seu partido?

Esse caso é interessante… Eles (MBL) perdem ou não perdem a legitimidade como movimento social? Na minha opinião, perdem. Porque eles fizeram tudo o que disseram que não iam fazer. Se ligaram a uma liderança política, se ligaram a candidaturas, tiveram até candidaturas. Quando eu vejo isso, eu fico impressionado. Na medida em que o MBL trabalha por uma candidatura à Presidência e que tem como objetivo o enfraquecimento de outro partido, esse movimento não tem mais legitimidade nenhuma. Quais são as bandeiras desse movimento? Apoiar o João Doria? Isso não é bandeira. Essa bandeira eu não empunho. O fato é que já é voz corrente que só eles não sabem que todo mundo sabe que eles estão do lado do João Doria.

Como o senhor avalia a postura de João Doria em relação ao MBL?

Eu acho que ele não deveria ser candidato. Acho que ele não tem legitimidade para ser candidato, não tem preparo. Ele vai dizer o quê? Que administrou a empresa dele? A empresa dele nunca produziu nada. A empresa dele produzia eventos com empresários e propunha algumas benemerências. E sempre com auxílio de governos de Estados e municípios. Não dá pra compará-lo com um Antônio Ermírio de Moraes, com um Abílio Diniz. Ele não tem vivência. Não tem cacife do plano privado e nem vivência pública para pleitear a Presidência da República. Está pleiteando por pura vaidade pessoal. Se embebedou com o poder. Em São Paulo, as pessoas já começam a reclamar. Ele tem nove meses de governo e o que ele fez muito foi mexer no Twitter, no Facebook e no Instagram.

O senhor se coloca como crítico à corrupção e defensor da moral na política. Mas o senhor nomeou seu filho como chefe da Casa Civil, ainda que a lei permita. O senhor não teme a mensagem que isso envia para a população?

Trouxe ele para trabalhar na Casa Civil para resolver uma crise gerada pela mudança na instituição de previdência privada da Prefeitura de Manaus. Houve muita confusão na forma como isso foi conduzido e, desde que ele chegou, esses problemas acabaram. Aí me perguntam: por que não nomeou outro deputado? Eu não tenho outro deputado de confiança em Brasília e que tenha a habilidade que ele tem. A lei permite. E ele não recebe salário da prefeitura. Ele escolheu ficar com o salário de deputado. E não é só ele. A minha mulher cuida do Fundo Manaus Solidária. Ela é arquiteta e abandonou o escritório dela pra cuidar disso. Ela não posa de dondoca e diz que dispensou o salário pra fazer benemerência. Ela recebe salário porque trabalha. Eu não tenho nada a esconder.

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