“Eu jamais ofenderia o pai do presidente Jair Bolsonaro. Posso dizer coisas muito duras para ele, como por exemplo que ele é um incapaz, um completo incompetente e não sabe para que lado vai o governo brasileiro. Ele não está à altura de governar um país grande, complexo e valoroso. Estamos diante de um presidente despreparado para o exercício dessa função”. A reação é do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, sobre o vazamento do conteúdo de parte do vídeo da reunião ministerial, no qual Bolsonaro o classifica como “vagabundo”, conforme matéria publicada na revista Veja, e faz insinuações maldosas sobre o ex-senador Arthur Virgílio Filho, pai do prefeito, com a expressão “também, sendo filho de quem é”.
“Sou muito orgulhoso de ser filho de quem sou. Meu pai foi um homem valoroso, que trouxe energia elétrica, trouxe a Universidade do Amazonas, que tem um histórico respeitável como senador e é admirado pelos mais velhos, que o conheceram pessoalmente, e pelos mais jovens, que o conhecem pela sua história. A referência do presidente ao meu pai é uma tentativa de ‘piada’ de mau gosto, como a que ele mesmo fez em relação ao Fernando Santa Cruz, pai do Felipe, atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil. Ele quis me atingir porque meu pai resistiu à ditadura, não calou a sua voz diante dos generais de plantão no Senado e teve sua história brutalmente interrompida pelo ominoso AI-5”, reagiu Virgílio. “Sei a amargura que o presidente provocou no Felipe, como provocou em mim, na minha família”, lamentou.
Arthur Virgílio atribui o uso da imagem de seu pai ao fato de que o ex-senador atuou fortemente contra a ditadura militar, a qual o atual presidente faz apologia. “Certamente porque meu pai foi contra a ditadura militar, o presidente fez esse ataque desnecessário a sua memória. Meu pai era contra a ditadura, que torturou, que matou muita gente, que é responsável pela desgraça de muitas famílias, que desapareceu com muitas pessoas. O Bolsonaro é saudoso do torturador Brilhante Ustra”, criticou. “Meu pai fez muita coisa pelo Amazonas e pelo Brasil, muito diferente do presidente, que nunca fez nada pelo Rio de Janeiro e não está fazendo nada pelo Brasil. Essa é a diferença!”, afirmou.
Virgílio também reagiu ao título de “vagabundo”, utilizado pelo presidente Jair Bolsonaro. “O presidente me chamou de vagabundo. Mas só me tocou porque usou a expressão ‘sendo filho de quem é’. Não fosse isso, eu iria dar um puxão de orelha nele, porque ele é um presidente que não se dá ao respeito. Ele insultou a memória do meu pai, um dos maiores parlamentares da história desse país. Eu poderia ser grosseiro e dizer: poxa, mas meu pai nunca se meteu em rachadinha, meu pai não tem um Queiroz na vida dele, meu pai não estava preocupado em trocar delegado da Polícia Federal para se beneficiar ou beneficiar pessoas suas”, disse.
“Eu pergunto: vagabundo, eu, que trabalho até de madrugada para enfrentar a Covid-19 aqui em Manaus ou quem fica batendo perna pelas ruas dizendo bobagem? Eu, que fiz, junto com empresários locais, um hospital de campanha para salvar vidas ou quem fica desinformando o povo? Vagabundo, eu, que faço minhas atividades físicas de madrugada depois de trabalhar durante o dia ou quem, abordado por uma jornalista na porta de um hospital, diz foi ali fazer um teste de gravidez? Isso choca, vindo do homem que está presidindo o país”, rechaçou o prefeito de Manaus.
Em um longo vídeo publicado em suas redes sociais, Arthur Virgílio Neto fala do mal que o presidente está provocando à economia do país, com suas declarações desestabilizadoras, da má relação que ele tem com os jornalistas, do caso das nomeações para a Polícia Federal do Rio de Janeiro, das constantes querelas que o presidente provoca com vários setores e do seu comportamento incompreensível diante do quadro de pandemia no país.
“No ano passado, deveríamos ter um crescimento de, ao menos, 3% e isso não aconteceu. Este ano, sem o quadro de pandemia, já havia de previsão de crescimento menor do que 1%”, apontou Virgílio. Na opinião do prefeito, esse quadro é provocado pela insegurança intrínseca à figura e falas do presidente Jair Bolsonaro. “O quadro seria muito diferente se ele não quebrasse, constantemente, as expectativas internacionais”, defendeu.
O prefeito de Manaus também responsabilizou o presidente por grande parte dos casos de Covid-19 ocorridos no país e pelas mortes, em consequência. “Porque ele estimula as pessoas a irem para as ruas. Ele fica batendo perna em Brasília, ao invés de cuidar do governo. É uma irresponsabilidade ambulante”, afirmou.