“Mais uma vez a violência contra os Povos Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana e Quilombola derramou sangue humano sobre a terra de nossos Ancestrais”. Foi com esse tom de lamento e ao mesmo tempo indignação que o coordenador geral da Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Tereitod de Matriz Africana (ARATRAMA ), Alberto Jorge reagiu ao assassinato da yalorixá
Maria Bernadete Pacífico, 72, líder quilombola da comunidade de Pitanga de Palmares, no município de Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador. A sacerdotisa foi executada a tiros na noite desta quinta-feira (17), após ter o terreiro de Candomblé que liderava invadido por homens armados. O crime causou repercussão.
— Mais uma Sacerdotisa de Axé entra para a macabra estatística, perversa, da ausência do Estado brasileiro para com os afrodescendentes - disse Alberto Jorge, que há mais de 20 anos vem combatendo a barbárie contra os terreiros no país.
— Quem se importa com nossas denúncias? Quem leva em conta as ameaças diárias, constantes, e cada vez mais ousadas contra nós Povos e Comunidades Tradicionais? - questiona.
— Ela há dois meses denunciou o fato, e as ameaças que vinha sofrendo, para a mais alta autoridade do Poder Judiciário do Brasil, a Ministra Rosa Weber. O que foi feito pelo Governo do Estado da Bahia? Pelo próprio todo poderoso STF que recebeu a denúncia? Nada foi feito para dar a segurança necessária -, cobra o coordenador da Aratrama.
Para ele, infelizmente, o Brasil é sim um país racista, com milhares de pessoas cheias de intolerância, disfarçadas de cristãs.
— Mas nossos Ancestrais nos ensinaram a viver da cicatriz do coração arrancado do peito, pois ninguém arrancará nossa fé no Axé Sagrado, ninguém destruirá a nossa raiz-, desabafa.