A igreja de Santo Antônio, também conhecida como 'Capela do Pobre Diabo', abriu as portas neste 13 de Junho, dia do santo, para receber os devotos desde às 8h. Os fiéis começaram a chegar para rezar em frente ao altar e amarrar pedidos em agradecimentos escritos em pequenas tiras de papel para serem e amarrados à imagem de Santo Antônio, com fitinhas do próprio santo casamenteiro.
Localizada na rua Borba, bairro de Cachoeirinha, a capela só abre as portas do dia 1º a 13 de junho, permanecendo fechado o resto do ano.
— Moro na Cachoeirinha a vida toda e desde menina venho à capela no dia de Santo Antônio. Se não fizer isso, não fico em paz comigo mesmo, poucas vezes faltei –, disse Maria do Carmo, enquanto amarrava seu pedido à imagem de Santo Antônio, uma obra no estilo barroco com mais de 100 anos.
Neste dia, os fiéis também participam da tradicional distribuição de pães de Santo Antônio, benzidos e doados o dia inteiro até à saída da procissão, pontualmente às 18h. Reza a lenda que essa tradição surgiu a partir de um ato praticado pelo próprio santo padroeiro que alimentava os pobres e os doentes com os pães do convento onde morava. Alimentados pela fé em Santo Antônio, eles alegavam ficar curados ao comê-los. Assim, surgiu a tradição de abençoar os pãezinhos durante as missas de Santo Antônio e distribuí-los ao povo.
Mais que devoto
Hoje, quem cuida da capelinha é Fernando Ricardo Coelho que, a duras penas, mas como muita fé, consegue mantê-la limpa e conservada, tudo com dinheiro do próprio bolso pois não consegue ajuda nem de empresários de lojas instaladas no bairro.
— Esta é a única igreja de Manaus que é pintada todos os anos. Este ano comprei as trintas e nós mesmo pintamos, você podem ver que a capela está linda, toda pintada em azul e branco – diz, orgulhoso, Fernando Coelho.
História
Existem várias versões para a construção de Capela do Pobre Diabos. Uma delas conta é a do Diário Oficial do Estado do Amazonas, publicada em 11 de junho de 1927, contando que o português Antônio José da Costa mudou-se para Manaus em 1875 e montou, em sociedade com José Joaquim de Souza Júnior um comércio na rua da Instalação, chamado Costa & Souza. Devoto de Santo Antônio, Costa reservou um espaço em uma das prateleiras do comércio para uma imagem do santo, adquirida em Belém do Pará. Ao final de cada dia de trabalho, Costa rogava a seguinte frase ao santo antes de fechar o comércio.
— Meu Santo Antônio, protegei este pobre diabo!.
Provavelmente foi daí que o comerciante recebeu o apelido de Pobre Diabo. Findada a sociedade em 1878, Costa montou um novo comércio chamado O Pobre Diabo em referência ao próprio apelido. Em 1896, mudou-se para o bairro de Cachoeirinha e adquiriu o terreno onde hoje se situa a capela, próximo à então praça Floriano Peixoto, já extinta, entre as ruas Santa Isabel e atual Ipixuna.