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Computação quântica pode redefinir o futuro do Polo Industrial de Manaus

Tecnologia promete otimizar cadeias produtivas, reduzir custos logísticos e impulsionar a inovação em setores estratégicos para a economia regional, de acordo com especialista da FPFtech

Impactos práticos já são estudados (e testados) por empresas e centros de pesquisa ao redor do mundo - Foto: Divulgação 

Assim como a inteligência artificial revolucionou processos em apenas uma década, a computação quântica desponta como a nova força capaz de transformar a indústria e a logística mundial. No Polo Industrial de Manaus, o impacto pode ser decisivo: desde a aceleração no desenvolvimento de novos produtos até soluções inéditas para os desafios logísticos da Amazônia, a tecnologia já atrai investimentos e ganha espaço em pesquisas e aplicações práticas.

Se há 20 anos alguém dissesse que escreveríamos com a ajuda de uma inteligência artificial ou que ela seria capaz de gerar diagnósticos médicos em poucos segundos, a ideia pareceria absurda ou coisa de filme. Hoje, tudo isso é real e a computação quântica segue o mesmo caminho.

‘’Estamos vivendo uma revolução silenciosa’’, afirma Edierley Messias, cientista de dados da Fundação Desembargador Paulo Feitoza (FPFtech). ‘’Hoje, já é possível rodar algoritmos simples em computadores quânticos reais, via serviços de empresas como IBM, Google ou Microsoft. Há 10 anos isso era ficção científica’’, aponta.

A comparação com a IA não é gratuita. Assim como a inteligência artificial precisou amadurecer seus algoritmos e ganhar acesso a poder computacional e dados massivos para se popularizar, a computação quântica avança em uma trajetória semelhante e com ainda mais impacto potencial. Segundo a consultoria McKinsey, em 2024 foram investidos mais de US$ 2,7 bilhões no setor, somando recursos públicos e privados.

Para Edierley, a resposta para a pergunta de ‘’o que é computação quântica?’’ começa onde termina nossa intuição. “É difícil encontrar uma metáfora perfeita, porque estamos falando de um mundo subatômico. A física quântica se comporta de um jeito diferente do que estamos acostumados. E a computação quântica é justamente o uso desses comportamentos para processar informações de maneira inédita”, explica.

Enquanto os computadores tradicionais operam com bits (0 ou 1), os computadores quânticos trabalham com qubits, que podem ser 0 e 1 ao mesmo tempo, um fenômeno chamado superposição. Além disso, o entrelaçamento quântico permite que dois qubits compartilhem um estado mesmo a distância, tornando os cálculos muito mais rápidos.

‘’É como se, em vez de iluminar cada canto de um quarto com uma lanterna, a gente acendesse todas as luzes ao mesmo tempo’’, exemplifica Edierley. ‘’Determinados problemas que levariam milhares de anos para serem resolvidos com computadores tradicionais podem ser solucionados em horas com computação quântica’’, completa.

Aplicações na indústria e no dia a dia

Apesar de ainda estar na fase de desenvolvimento, os impactos práticos já são estudados (e testados) por empresas e centros de pesquisa ao redor do mundo. Na FPFtech, por exemplo, já foram realizados experimentos com simuladores e computadores quânticos acessados remotamente. A instituição também organiza trilhas educacionais internas para formar profissionais preparados para essa nova era.

Os ganhos são ainda particularmente relevantes para setores industriais com problemas de alta complexidade, como logística, bioquímica, energia e finanças. ‘’Calcular rotas de navios e caminhões de forma otimizada, projetar a rede elétrica de uma cidade ou desenhar a logística de uma fábrica são tarefas com custo e tempo elevados, sendo muitas vezes inviável achar a solução ideal”, reforça Edierley. “Com algoritmos quânticos, conseguimos encontrar soluções mais rápidas e próximas do ideal”.

Outro campo de aplicação é o desenvolvimento de novos medicamentos. A simulação da organização e interação entre moléculas para testes químicos é um processo custoso e demorado, e a computação quântica pode acelerar esse processo exponencialmente. “Você pode gastar dez anos pesquisando uma nova molécula. Um computador quântico, no futuro, pode fazer isso em minutos”, diz.

A revolução, no entanto, não vem sem riscos. Um dos temas mais sensíveis é a segurança digital. Hoje, muitos sistemas de segurança se baseiam na dificuldade de fatorar números inteiros extremamente grandes que são o produto de dois números primos grandes.

“O algoritmo de Shor já consegue, teoricamente, reduzir um cálculo que levaria milhares de anos a apenas algumas horas”, alerta Edierley. “Ainda não temos computadores com esse poder, mas a corrida está em andamento. Por isso já se trabalha com criptografia pós-quântica, para que não sejamos pegos de surpresa”, adianta.

O papel da FPFtech na vanguarda

Com forte atuação tecnológica em pesquisa e desenvolvimento, a FPFtech aposta na computação quântica como um dos pilares do futuro. “Já estamos fazendo testes, experimentando simuladores, e acompanhando de perto os avanços das big techs. Nosso objetivo é estar prontos para desenvolver soluções quando o hardware viável estiver disponível”, diz Edierley.

E ele conclui que “assim como a inteligência artificial mudou o mundo nos últimos anos, a computação quântica também vai mudar, pois esta década promete avanços práticos da computação quântica para o mercado, onde poderemos vivenciar este novo paradigma, por isso a importância de estarmos nos preparando e atuando nessa nova realidade”.

Para Edierley Messias, se a primeira revolução digital foi a computação tradicional, e a segunda veio com a inteligência artificial, a terceira já está no horizonte: invisível para a maioria, mas inevitável para o futuro. Messias lembra que a computação quântica pode até ser silenciosa agora, mas logo será impossível ignorá-la.

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