Não existe super-herói como o Homem-Aranha, e também não existe filme de super-herói como Homem-Aranha no Aranhaverso. O primeiro longa-metragem animado do personagem, produzido pelo estúdio Sony e pelos produtores de Anjos da Lei e Uma Aventura Lego, consegue ser ao mesmo tempo uma história em quadrinhos filmada, uma homenagem ao conceito de super-herói, uma animação de qualidade impressionante e uma bela história sobre amadurecimento e passagem. E tudo isso só é possível por causa do Aranha.
A trama mistura referências dos quadrinhos, dos filmes anteriores – há até uma citação hilária à dancinha embaraçosa de Homem-Aranha 3 (2007) – e dos desenhos animados do herói, numa narrativa que usa a metalinguagem com inteligência e carinho. O herói do filme é o jovem Miles Morales, fã do Homem-Aranha e que um dia é picado por uma aranha modificada, igual como aconteceu com o seu ídolo. Quando um plano do vilão Rei do Crime causa uma tragédia em Nova York e abre portas para outras dimensões, Miles se vê forçado a se tornar herói e salvar a cidade, acompanhado de outras versões do Homem-Aranha vindas de outros universos: a versão tradicional, um pouquinho mais calejada; a Mulher-Aranha; o Aranha Noir; a versão nipônica e até o Porco-Aranha.
O filme é movimentado, divertido, cheio de referências para quem conhece o herói a fundo desde as HQs, mas acima de tudo possui um coração e conta uma história emocionante – até o plano do vilão possui um fundamento emocional e um núcleo trágico que ajuda o filme a adquirir uma força que nem sempre percebemos em filmes animados. Há também uma participação especial singela do Stan Lee… E a animação impressiona pela riqueza e quantidade de detalhes: Em algumas cenas podemos até ver retículas e pontos na imagem, como as que vemos em revistas em quadrinhos. As sequencias de ação são altamente dinâmicas, as cores, exuberantes, onomatopeias aparecem e as recapitulações na história a cada entrada de um novo Homem-Aranha são divertidas e ajudam a equilibrar a exposição com humor.
2018 foi um ano triste para o Homem-Aranha, pois seus dois criadores se foram: o desenhista Steve Ditko e o inigualável Stan Lee faleceram em pouco menos de seis meses de diferença um do outro. Em meio à tristeza, Homem-Aranha no Aranhaverso se configura como um verdadeiro presente para o personagem e seus inúmeros fãs no mundo todo, e a dedicatória a ambos no final do filme demonstra isso. O Aranha é especial por ser muito humano e por tocar no heroísmo dentro de todos nós. Por nunca perder de vista essa ideia, Homem-Aranha no Aranhaverso diverte, emociona e pode se tornar um marco nas animações e já é de cara o segundo melhor momento do herói nas telonas – só atrás do clássico Homem-Aranha 2 (2004). Mas não muito atrás…