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Foi emblemático, ao final da minha sessão de Vidro,que muitos espectadores não se levantaram durante os créditos, como se estivessem esperando uma cena pós-créditos dos filmes do Marvel Studios. Ora, Vidroé sim um filme de super-heróis, um bem maluco e diferente, conduzido pela visão do roteirista/diretor M. Night Shyamalan. É também a culminação de uma trilogia conectada do diretor que se iniciou com Corpo Fechado(2000) e prosseguiu com Fragmentado(2017).

É o filme no qual o herói de Corpo Fechado,David Dunn (Bruce Willis) encontra o vilão Kevin Wendell Crumb (James McAvoy) de Fragmentado.Tanto Dunn, que opera há alguns anos na Philadelphia como “o Vigilante”, quanto Crumb, o psicopata das 24 personalidades, são jogados no mesmo hospital psiquiátrico onde está o “Sr. Vidro”, Elijah Price, o fascinante mentor/vilão de Corpo Fechadovivido por Samuel L. Jackson. No hospital, os três passam a ser tratados pela doutora Staple (Sarah Paulson), que acredita que eles sofrem de um delírio. Para ela, não existem super-heróis. Em alguns momentos, ela soa como um daqueles críticos de cinema pedantes que joga no lixo qualquer filme com um personagem mascarado lutando.

Shyamalan, no entanto, está firmemente do lado do conceito super-heróico. De fato, ele o relaciona com o tema recorrente em grande parte da sua filmografia: os esforços para aprender a viver com seus dons aparecem emO Sexto Sentidoe Corpo Fechadoe acabam sendo levadas às ultimas consequências aqui. O diretor também parece determinado a não tornar o filme uma experiência, digamos, tão fácil para o grande público. O meio do filme é muito “tagarela”, consistindo de cenas até meio chatas de diálogos entre os personagens. Apesar da promessa de lutas super-heróicas, o filme tem poucas cenas assim, e Shyamalan as filma de forma inventiva, com ângulos estranhos. É um filme onde decisões inteligentes, como a de ter um esquema de cores para cada um dos três personagens, e a de incluir cenas cortadas de Corpo Fechadode forma orgânica na história, convivem com o estranho senso de humor de Shyamalan – o mesmo que nos deu momentos bizarros envolvendo a ventania assassina há alguns anos.

A meia hora final traz nada menos que três (!) plot twists,reviravoltas de roteiro que sem dúvida devem deixar muitos espectadores confusos e/ou decepcionados. Mas é a expressão de uma visão artística muito particular, feita numa época em que cada vez mais filmes convidam o público a pensar de onde vem a nossa necessidade por heróis e porque as narrativas de super-herói se tornaram tão importantes nos últimos anos. M. Night Shyamalan celebra a individualidade, as características inatas dentro de cada pessoa que as tornam “diferentes”, “esquisitas” e, às vezes, maiores que a vida. Resumindo, em VidroShyamalan encerra uma fase da carreira e uma trilogia sendo mais autor do que nunca e voltando a acreditar nos seus “poderes”, para o bem e para o mal. O resultado é fascinante.

Link da crítica do Cine Set: http://www.cineset.com.br/vidro-shyamalan-fascina-para-o-bem-e-o-mal-em-esquisita-ode-as-hqs/

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