Um problema ambiental que aflige o mundo pode se tornar solução de sustentabilidade em Manaus. De acordo com estimativas do Banco Mundial, os mais de oito bilhões de habitantes do planeta produzem cerca de 2 bilhões de toneladas de lixo por ano. Um dado que deve passar para 3,4 bilhões até 2050. Só no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), foram produzidos em 2022, 82 milhões de toneladas de resíduos, dos quais apenas 4% foram reciclados.
Estes dados aparentemente assustadores, no entanto, podem ser vistos como oportunidade. O novo Centro de Tratamento e Transformação de Resíduos da Marquise Ambiental (CTTR), por exemplo, possui em seu projeto uma planta de biometano, um combustível renovável derivado do biogás. Com tecnologia de ponta, o CTTR terá capacidade instalada de produção de 60 a 90 mil metros cúbicos de biometano por dia a partir dos resíduos ali depositados. Uma solução que beneficia duplamente o planeta já que gera energia sustentável e evita a poluição do ar.
"Nosso aterro é 100% seguro para a população e para o meio ambiente. A partir dos resíduos ali depositados, é possível gerar energia limpa ao mesmo tempo que protegemos a natureza evitando que enormes quantidades de gases de efeito estufa sejam jogados na atmosfera", explica Hugo Nery, presidente da Marquise Ambiental.
O CTTR atende as diretrizes do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, em vigor no país desde 2022. Entre as metas estabelecidas pelo decreto Nº 11.043, estão acabar com os chamados "lixões" (simples depósitos de resíduos, sem qualquer proteção e tratamento), ampliar a reciclagem e encontrar alternativas para a transformação do lixo em energia. A estimativa é que, por exemplo, com o abastecimento da Zona Franca de Manaus com o biometano, um combustível mais limpo e sustentável, haja redução de cerca de 300 mil toneladas equivalentes em gases de efeito estufa emitidas na atmosfera por ano. Uma iniciativa que beneficia o meio ambiente e também a competitividade internacional do parque industrial da região. Tornar-se cada vez mais sustentável ajuda a produção brasileira a se destacar em relação às concorrentes de outros continentes, como a Europa e a Ásia.
O objetivo é replicar o modelo de negócio da GNR Fortaleza, a primeira planta de biometano do Nordeste. A unidade corresponde hoje a até 20% de todo o gás natural comercializado pela Companhia de Gás do Ceará (Cegás).
“Replicar esse modelo no Amazonas fortalecerá a indústria da região, abrindo novos horizontes no mercado estrangeiro”, explica Nery.
O biometano desponta como uma das soluções mais promissoras na substituição do combustível fóssil e altamente poluente para uma alternativa renovável, com menos emissão de gases de efeito estufa. Ele é um gás oriundo do biogás, gerado a partir da decomposição da fração orgânica dos resíduos e que possui maior poder de combustão. Nos aterros sanitários, os resíduos sólidos geram, naturalmente, metano e gás carbônico, dois gases de efeito estufa que, sem tratamento, são lançados na atmosfera e contribuem para o aquecimento global. O metano, por exemplo, é 28 vezes mais nocivo ao meio ambiente do que o CO2 (dióxido de carbono). A operação planejada pela Marquise Ambiental para o Amazonas já traz na bagagem os dados concretos de sucesso coletados na GNR Fortaleza: todos os anos, aproximadamente 610 mil toneladas de gases de efeito estufa deixam de ser lançados no meio ambiente do Ceará.
“Para conseguir transformar resíduos em biometano é preciso ter soluções inteligentes nos aterros. Hoje, as tecnologias estão totalmente dominadas para isso e temos um case de sucesso para comprovar. Uma nova era desejada por muitos países e cidades e que chega agora ao Amazonas”, comemora Hugo Nery.