Deputado propõe proibição de atendimento médico a bonecos e ‘nana neném’ em plenário

Em uma cena inusitada, o deputado estadual João Luiz (Republicanos) levou uma boneca reborn à tribuna da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) para defender um projeto de lei que proíbe o atendimento médico a esses bonecos e pune profissionais de saúde que o fizerem. A proposta ainda prevê encaminhamento psicológico a pessoas que desenvolvam vínculos com as bonecas.

O projeto, no entanto, escancara um descompasso entre o Legislativo e os reais desafios da saúde mental no estado. Sem qualquer dado concreto que comprove a existência de atendimentos médicos sendo direcionados a bonecas reborn — muito menos de impacto na rede pública — a proposta desperdiça tempo e energia legislativa com uma “solução” para um problema que não existe.

O parlamentar afirma que pretende “coibir absurdos”, mas não apresenta qualquer levantamento de casos no Amazonas, nem articula o projeto com especialistas em saúde mental ou conselhos profissionais. Ao invés disso, opta por uma medida de caráter moralista e simbólico, com alto apelo midiático e baixa eficácia prática.

Falta do que fazer

Enquanto isso, o estado enfrenta problemas graves e urgentes: escassez de psicólogos na rede pública, filas por atendimento psiquiátrico, aumento nos casos de depressão e ansiedade — especialmente após a pandemia. Propor uma lei para regular o atendimento a bonecas, além de ser juridicamente frágil, beira o anedótico.

A iniciativa ignora que, em muitos casos, o uso de bonecos reborn pode ser parte de terapias clínicas autorizadas, como nas áreas de geriatria, saúde mental e autismo, sob orientação técnica. Ao tentar proibir de forma genérica, o projeto ainda corre o risco de ferir o exercício profissional de psicólogos e médicos.

Populismo simbólico

Na prática, o projeto se insere no rol de legislações simbólicas que apenas reforçam narrativas morais ou tentam criar polêmicas em torno de pautas sensacionalistas, sem oferecer solução real a problemas concretos. É o tipo de política que gera manchetes, mas não melhora a vida de ninguém.

Enquanto isso, o Amazonas segue esperando políticas públicas de verdade.