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Do outro lado da ponte – O sonho de desenvolvimento da Região Metropolitana acabou

A esperança de progresso que veio com a construção da Ponte Rio Negro não se confirmou e hoje sobram relatos de estagnação do lado de lá

Do lado de lá da Ponte Rio Negro - Foto: Mário Adofo Filho/ BMA.

A Ponte Rio Negro é a maior ponte estaiada (seção suspensa por cabos) do Brasil - 400 metros. Quando começou a ser construída, em 2007,  as promessa 'pipocaram' de todos os lados. “A Região Metropolitana de Manaus vai ter um boom de empresas instaladas, um salto desenvolvimento e o município de Iranduba passará a ser o município mais desenvolvido do Amazonas em curto espaço de tempo”, diziam os especialistas de plantão. No entanto, o tempo passou e... nada.

Por conta dessas e outras promessas ufanistas, muita gente alimentou o sonho. Comprou terreno do outro lado da ponte, ergueu postos de gasolina, abriu cafés da manhã, supermercados e até comprou vastas áreas de terras para instalar condomínios fechados. Chegaram até a anunciar que a Região Metropolitana receberia o primeiro outlet da região Norte, e também, a Cidade Universitária da Universidade do Estado do Amazonas (UEA)

Mas o tal “boom”  mesmo nunca chegou.

Hoje, quem visitar Iranduba   (distante 19,89 quilômetros de Manaus) vai perceber que o município parou no tempo e mergulhou na estagnação. Postos de gasolina foram abandonados; mato avançando sobre antigas instalações do que seria uma empresa; restaurantes e comércios à beira do rio vazios – até mesmo num dia de domingo –, e o projeto da Cidade Universitária, o mais almejado sonho dos corações de estudantes, pedido no meio da floresta.

— Rapaz, o que houve foi uma invasão de incorporadoras, construtoras e imobiliárias que instalaram um monte de condomínios na área, gerando uma especulação imobiliária “f...”. E as Prefeituras de Iranduba, Manacapuru e Novo Airão não souberam atuar para atrair empresas. Poucas se instalaram lá –, resume um morador do município que prefere não se identificar.

Frutos da corrupção

"A estagnação em que se encontra Iranduba também é fruto de prefeitos corruptos. Alguns Até chegaram a ser presos"

Um cenário ainda mais decadente, o visitante vai encontrar quando pegar a estrada em direção à zona portuária. Ali, o quadro é desolador com a esqueletos de barcos fantasmas, palafitas desabitadas e caindo aos pedaços e uma estrada de barro coberta de buracos e lama. A área é um convite à criminalidade.

A estagnação em que se encontra o município de Iranduba também é fruto de péssimas administrações de prefeitos eleitos pelo povo, que não honram o voto que receberam, metendo a mão nos cofres públicos. Alguns deles chegaram a ser presos. VEJA:

Zé Maria Muniz – Em 212, a Justiça Federal no Amazonas condenou o ex-prefeito do município de Iranduba, José Maria Muniz Castro, a quatro anos e seis meses de prisão pelo crime de responsabilidade, em ação penal promovida pelo Ministério Público Federal no Amazonas (MPF/AM).

Xinaik – Em 215, outro  prefeito da cidade de Iranduba, desta vez  Xinaik Silva Medeiros, foi preso pela Polícia Civil por suspeita de integrar um esquema de desvio de dinheiro e fraudes em licitações na Prefeitura do município. O desvio ultrapassava R$ 56 milhões em recursos municipais e estaduais.

Chico Doido – Em 2019,  o Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE) condenou o prefeito do município de Iranduba,  Francisco Gomes da Silva, mais apelidado “carinhosamente” pelo povo como ‘Chico Doido’, a devolver R$ 3,823 milhões referente a contratações por dispensa de licitação de empresas para serviço de transporte escolar de alunos em 2017.  A representação com pedido de liminar foi apresentada pelo vereador George Reis. Chico doido também investigado por desvio de  R$ 4,2 milhões do Imprev que foram retidos dos contracheques dos servidores municipais durante todo o exercício de 2017 e de junho a novembro de 2018. A acusação contra o então prefeito foi baseada em denúncia feita pela servidora Rosane Lira Correa de que ele havia desviado Chico Doido nega que tenha cometido crime.

Iranduba se arrasta, como se o tempo estivesse cansado de esperar por mudanças

Iranduba: onde o tempo parece que parou esperando mudanças - Foto: 

Uma cidade verdadeiramente boa de se viver é aquela que oferece qualidade de vida aos seus habitantes. Era o que esperavam os habitantes de Iranduba quando a ponte sobre o Rio Negro  tocou o outro lado da margem esquerda do Rio Solimões. Sonhavam em ver o município se transformar numa cidade moderna e dinâmica, cheia de energia, inovação e oportunidades de empregos. Com dinheiro circulando, saúde, educação e segurança. Um bom lugar pra se viver, com todos os componentes que fazem uma cidade verdadeiramente moderna e evoluída.

Não foi o que aconteceu com o município de Iranduba. Apesar da moderna ponte que o tirou do isolamento, mergulhou no atraso. E como já sabemos, uma cidade atrasada parece presa em um relógio que não avança. Ela se arrasta, como se o próprio tempo estivesse cansado de esperar por mudanças, que nunca virão.

Compra-se votos

Iranduba, especialmente, não deu sorte com os últimos prefeitos. As eleições no município  transformaram-se em leilão. E o povo também é culpado, porque se vende e depois não pode cobrar. Ninguém esconde – mas também não se identifica –, que na último eleição no município, um voto para vereador custou R$ 300.

—  Acredite! Manacapuru e Novo Airão seguem a mesma tendência –, comenta um ex-candidato a vereador.

Tráfico de drogas

A corrupção eleitoral não é o único problema. O tráfico de drogas dominou comunidades inteiras, a exemplo do Distrito do Cacau Pirêra, que vivia da travessia das balsas e, abandonado depois da ponte, passou a ser um antro de marginais, inclusive os que vão de Manaus se esconder lá.

A ponte facilitou o transbordo da droga que vem da fronteira para Manaus. Iranduba e Manacapuru viraram rota de passagem. A droga desembarca nos portos dos dois municípios, banhados pelo Solimões, e vem pra capital via estrada.

Turismo caro

Falta uma política industrial. Exemplo: o polo oleiro de Iranduba é fortíssimo, mas não é incentivado. E o turismo, muito desenvolvido em Novo Airão, é caro para os brasileiros. Virou produto de consumo internacional.

As ruínas de Paricatuba, atrativo tusítico do outro lado da ponte, não recebe atenção devida do poder público local - Foto: Portal do Manozinho

Apesar da ponte, município não fez A travessia do atraso para progresso

A ponte sobre o Rio Negro foi inaugurada no dia 24 de outubro de 2011, justamente no aniversário de Manaus, e contou com a participação da presidente a presidenta Dilma Rousseff e do ex-presidente  Luiz Inácio Lula da Silva. Com investimentos de R$ 1,099 bilhão, sendo R$ 586 milhões do BNDES e R$ 513 milhões do Governo do Amazonas, a obra teve duração de 3 anos e 10 meses, gerando 3.400 empregos diretos.

Na cabeceira da ponte, onde aconteceu a cerimônia de inauguração, o então governador Omar Aziz (PSD) garantiu que  a ponte não representava apenas um  monumento arquitetônico, mas também “oportunidade de desenvolvimento para os municípios da Região Metropolitana de Manaus (RMM) e das regiões dos rios Solimões e Purus”.

O governador disse ainda que o Estado já trabalhava  em outros projetos para fomentar o desenvolvimento a partir da Ponte Rio Negro, como a duplicação da rodovia  AM-070  e o incentivo ao crescimento de polos econômicos, como a produção oleira em Iranduba e o turismo em Novo Airão, municípios da RMM.

Aziz também garantiu novos investimentos em infraestrutura na Região Metropolitana, entre elas a implantação da Cidade Universitária da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em Iranduba, que também ganhará uma Central de Abastecimento, orçada em R$ 5,5 milhões, para atender feirantes, comerciantes e produtores rurais deste município, além de Manacapuru, Novo Airão, Careiro e adjacências.

Algumas dessas promessa foram cumpridas. Outras, como a Cidade Universitária, nem tanto.

Autoridades na inauguração da Ponte Rio Negro, em 2011 - Roberto Stuckert Filho/PR
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