Segundo pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, para cada policial de esquerda que concorre a cargos políticos, há pelo menos 20 de direita. Em Manaus não é diferente. Depois da eleição dos bolsonaristas Capitão PM Alberto Neto (PL), Delegado Pablo, da Polícia Federal, Capitão PM Carpê (PL) e outros que abandonaram a farda para vestirem o paletó de políticos, a maioria de agentes de segurança pública acredita que pode se eleger sob a bandeira da extrema-direita.
São todos? Não, o delegado João Victor Tayah, 38 anos, candidato a vereador pelo PT na eleição de 6 de outubro, abraçou a bandeira da esquerda petista ainda na época estudantil, aos 18 anos. Durante a passagem de 10 anos pelo Psol disputou o cargo de vice-governador na chapa de Luiz Castro, na eleição suplementar de 2017. Depois do golpe que desfechou o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), Tayah retorna ao PT onde hoje disputa uma cadeira na Câmara de vereadores.
— Quando me filiei na juventude, o bolsonarismo como movimento político sequer existia. Em 2006, o Amazonas reelegeu Lula com 80% dos votos. Então nem sempre Manaus foi tomada pelo fascismo, como vemos hoje – comenta o candidato, que nesta entrevista ao marioadolfo.com fala de sua história política desde o movimento estudantil e antecipa qual será o foco de seu mandato no parlamento municipal. Confira:
marioadolfo.com – Quem é João Victor Tayah e por que quer ser vereador?
Delegado Tayah – Sou bacharel em Direito pela UFAM, Especialista em Gestão Pública pela UEA, especialista em Direito Público pela Universidade Anhanguera (Uniderp) e Mestre em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos pela UEA. Sou filho de uma família tradicional que já tem um político (Isaac Tayah, primo de minha mãe, que está no 5º mandato de vereador), pertencente a um aspecto ideológico diferente do meu. Quero ser vereador porque acredito que a boa política, apesar do desgaste dos políticos tradicionais, pode mudar a vida das pessoa e de uma cidade.
marioadolfo.com – Geralmente policiais são de direita, em sua grande maioria bolsonarista. O senhor disputa uma eleição pelo PT. Então, se considera de esquerda?
Delegado Tayah – Eu me considero de esquerda por me enxergar como trabalhador. A direita defende o estado mínimo e a redução de direitos sociais, inclusive dos trabalhadores. Tal visão de mundo aprofunda desigualdades sociais e pobreza, que desencadeiam o aumento da criminalidade que nós, policiais, enfrentaremos com nossas próprias vidas. Portanto não há motivo plausível para que policiais sejam de direita.
marioadolfo.com – O que o levou a decidir pelo PT, partido do presidente Lula, numa cidade tida como bolsonarista?
Delegado Tayah – Eu me filiei ao PT com 18 anos de idade. Depois fui para o PSOL, onde permaneci por 10 anos e me candidatei ao cargo de vice-governador ao lado do meu amigo Luiz Castro. Retornei ao PT após o golpe contra Dilma, para engrossar as fileiras de luta contra o fascismo. Mas quando me filiei na juventude, o bolsonarismo como movimento político sequer existia. Em 2006, o Amazonas reelegeu Lula com 80% dos votos. Então nem sempre Manaus foi tomada pelo fascismo, como vemos hoje.
marioadolfo.com – Caso eleito, seu programa de governo vai focar na segurança, um dos problemas mais graves de Manaus, já que é um delegado?
Delegado Tayah – Sim, temos muitas propostas para a segurança pública, como o fortalecimento da Guarda Municipal, a criação de uma patrulha especializada na proteção da mulher, a criação de uma patrulha especializada ambiental, a criação da ronda escolar. Mas também temos muitas propostas nas áreas de educação e defesa dos direitos humanos.
marioadolfo.com – Por sinal, como o senhor avalia a segurança de Manaus, uma das cidades que lideram. Os índices de assaltos e narcotráfico?
Delegado Tayah – A segurança pública em Manaus está abandonada. Não só porque o governador precarizou as polícias, mas também porque o prefeito não tem feito a sua parte. A guarda municipal é minúscula. A iluminação nos bairros é deficiente. As praças estão abandonadas e tomadas pelo vandalismo e pelos traficantes. O ambiente que a prefeitura criou é propício à prática de crimes. Manaus é a capital com mais roubos e furtos de celular do Brasil. Possui uma média diária de três assaltos a ônibus. Então a situação é perigosíssima.
marioadolfo.com – O senhor pensa também pautar como plataforma de um mandato as mudanças climáticas, que vêm provocando desastres ambientais no país, principalmente no Amazonas que vive uma grande estiagem?
Delegado Tayah – Manaus está no centro da maior floresta tropical do mundo e é a segunda capital menos arborizada do Brasil. Caso eleito, irei plantar uma árvore para cada voto que eu tiver. E irei lutar pela criação da patrulha especializada na proteção ambiental da Guarda Municipal.
marioadolfo.com – Quando a política entrou na sua vida? O senhor é de uma família tradicionalmente política?
Delegado Tayah – Eu pertenci ao Grêmio Estudantil da antiga Escola Técnica Federal do Amazonas. Fui diretor do Diretório Central dos Estudantes da UFAM e Vice-Presidente da União Estadual dos Estudantes do Amazonas. Fui presidente e fundador do Sindicato dos Servidores do Ministério Público do Amazonas. Portanto, sempre estive à frente das lutas que visavam garantir a preservação e conquista de direitos aos grupos mais necessitados. Ser candidato é apenas uma das formas de fazer política. E eu decidi me candidatar pela primeira vez somente depois de já ser delegado de polícia, quando já havia conquistado minha estabilidade profissional, pois não pretendo fazer da política o meu meio de sobrevivência.
marioadolfo.com – O senhor acredita na tese de que a classe política está desgastada? O que fazer para mudar esse má fama?
Delegado João Tayah – A classe política está desgastada, porque está inserida num ciclo infindável de corrupção do qual o eleitor também faz parte. Não adianta colocar a culpa de tudo nos políticos, se é o eleitor que não leva a sério a eleição, e no dia de votar junta um santinho do chão, vota em branco ou vende o voto. Enquanto o eleitor não se conscientizar de que é responsável pelo futuro da sua cidade, continuaremos a eleger políticos como os que estão hoje na Câmara Municipal, de baixíssimo nível.