Para quem comeu jaraqui e nunca mais saiu daqui, uma péssima notícia: o antigo restaurante “Galo Carijó”, o mais saboroso peixe frito de Manaus, fechou as portas e foi colocado à venda. Neste restinho de pandemia – tomara que seja assim –, os amantes do peixe mais popular da Amazônia, o jaraqui, saíram ávidos em matar a saudade do restaurante e deram de cara com a placa exposta na fachada do velho casarão da Rua dos Andradas, 180, Centro de Manaus, com o anúncio: “VENDO”.
A triste realidade foi confirmada pela corretora Naira Santana ( Cresci 3700), que está trabalhando na negociação para a venda.
— A justificativa para que eles colocassem o restaurante à venda? Bem, pelo que sei a mãe do Alfredo (herdeiro do Galo) estava se sentindo cansada e resolveram colocar à venda – explicou a corretora.
Na verdade, o Galo está à venda há seis meses, mas ninguém se deu conta por causa da pandemia. A crise no setor imobiliário também é outro obstáculo para a venda. Os proprietários do imóvel querem R$ 800 mil pelo espaço e, até o momento, a melhor proposta que apareceu foi de R$ 600 mil. “E eles não abrem mão do valor cobrado”, revela a corretora Naira.
O Galo Carijó, quem diria, foi parar no New York Times
O Galo Carijó, nome inspirado no Atlético Rio Negro Clube, o time do coração do criador do espaço, seo Alfredo. Quem conheceu a peixaria ainda nos anos 1970, lembra da figura de Alfredo da Silva Neto diariamente no caixa, pitando seu cigarrinho, conferindo as contas ou jogando “porrinha” com o amigos. Atendia com a mesma simpatia estivadores da Zona portuária de Manaus, jornalistas, advogados, políticos e quem mais chegasse, trajando paletó ou camiseta.
Até que um dia serviu a um jornalista americano que veio fazer uma reportagem na Amazônia. O gringo gostou tanto do jaraqui que, de volta aos estados Unidos, escreveu a reportagem “The King of Fish”, publicada, pasmem, no New York Times. O repórter mandou a página do jornal, que Alfredo emoldurou e a manteve pendurada na parede por longos anos.
Dizem que aquele que faz o que sabe, fica rico até vendendo geladeira no Polo Norte. Seo Alfredo ganhou dinheiro vendendo jaraqui frito ao lado do Rio Negro. Na verdade, em 1971, conta Alfredo Filho, o herdeiro, o número 180 dos Rua dos Andrades era uma taberna que vendia do querosene ao feijão.
— Um dia papai resolveu chamar os amigos para comer um jaraqui frito. Um deles, Celso, gostou tanto que prometeu voltar, se tivesse mais jaraqui. Meu pai respondeu, “tem sim, mas vai ter que pagar”. E Celso concordou: “eu pago”. E foi assim que ele decidiu que o filão era vender peixe frito, transformando a taberna no restaurante Galo Carijó – conta Alfredinho.
Seu Alfredo morreu há 23 anos, aos 63 anos. Os filhos e a mãe, d. Maria Antonieta, seguiram em frente, tocando até aqui o filão comercial do pai, sem nunca mexer na fórmula mágica: peixe bem frito, quase dourado (sem um pingo de óleo), baião de dois, farinha do uariní, tucupí, pimenta murupí e...cerveja bem gelada. Ah, como vai fazer falta!