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Golpista em série: Por que o aeroporto de Manaus homenageia Eduardo Gomes?

Brigadeiro participou de quatro movimentos para derrubar presidentes civis e jamais foi punido. Fantástico contou a história

Eduardo Gomes morreu em 1981, aos 84 anos - Arte: marioadolfo.com

Quem desembarca em Manaus, principal porta de entrada da Amazônia, é recebido pelo Aeroporto Internacional Eduardo Gomes. Poucos passageiros sabem, porém, que o militar que dá nome ao terminal teve uma trajetória marcada por golpes de Estado e sucessivas tentativas de subversão da ordem democrática no Brasil.

A história voltou ao debate após uma reportagem do Fantástico, da TV Globo, revelar em detalhes o papel central de Gomes em quatro rupturas institucionais ao longo do século 20.

O militar da Aeronáutica, Eduardo Gomes, participou de ao menos quatro momentos da história em que militares tentaram influenciar nas decisões do Brasil. São elas:

✈️ 1922: Revolta dos 18 do Forte

Em 5 de julho de 1922, jovens oficiais do Exército se rebelaram contra o governo civil de Epitácio Pessoa.

Eduardo Gomes, então tenente da Aeronáutica, foi um dos protagonistas da chamada Revolta dos 18 do Forte, movimento tenentista que tentou derrubar o presidente. A insurreição foi duramente reprimida, mas abriu caminho para novas articulações.

✈️ 1930: Queda de Washington Luís

O fracasso de 1922 não desanimou Gomes. O militar voltou à cena em 1930, quando a crise do café abalou a economia e serviu de combustível para outro levante.

Desta vez, ele participou da conspiração que depôs o presidente Washington Luís, abrindo caminho para Getúlio Vargas assumir o poder fora das urnas.

✈️ 1954: Pressão sobre Getúlio

Décadas depois, já general, Gomes assinou um manifesto de generais que pedia a renúncia de Getúlio Vargas.

A pressão política e militar foi tamanha que Getúlio, em gesto dramático, tirou a própria vida no Palácio do Catete.

✈️ 1964: Golpe militar

Em 1964, Eduardo Gomes já era marechal e novamente se alinhou ao golpe que depôs o presidente João Goulart, eleito democraticamente. Nunca foi punido por nenhuma dessas ações — pelo contrário, acumulou promoções e prestígio.

Silêncio e homenagem oficial

Apesar dessa sequência de atentados contra a democracia, o nome de Eduardo Gomes foi escolhido para batizar o principal aeroporto do Amazonas.

O decreto que oficializou a homenagem é da década de 1970, período em que o regime militar — que ele próprio ajudou a instaurar — controlava as decisões sobre infraestrutura e memória oficial.

"O aeroporto de Manaus foi inaugurado em 1976 e, na época, o presidente do Brasil era Ernesto Geisel, militar extremista, não colocaria nome de civil. Mas, seria relevante um pedido popular para mudança", sugeriu o Frank Souza, pelas redes sociais.

Historiadores ouvidos pelo Fantástico e por nossa reportagem são unânimes: a trajetória do brigadeiro se insere em uma tradição de impunidade e anistia que naturalizou golpes de Estado no Brasil.

“Não havia constrangimento em deixar um rastro de conspirações. Golpear o Estado de Direito nunca custou caro no país”, assinala a análise do professor de Direito da FGV-SP, Oscar Vilhena.

Pergunta que ecoa no saguão

A revelação do Fantástico reacendeu a discussão: faz sentido que a principal porta de entrada da Amazônia leve o nome de um homem que passou a vida atentando contra a democracia?

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