O governo da Itália afirmou nesta sexta-feira (13/6) que não sabe onde está a deputada licenciada Carla Zambelli (PL-SP), alvo de um mandado de prisão internacional. A declaração foi feita pela vice-ministra do Interior, Wanda Ferro, em resposta à interpelação parlamentar do deputado de esquerda Angelo Bonelli. As informações são do UOL.
Nome de Zambelli não constava como procurado nos bancos de dados nacionais ou internacionais da polícia quando a deputada chegou à Itália, disse a vice-ministra. Segundo Ferro, a parlamentar brasileira desembarcou no aeroporto de Fiumicino, nos arredores de Roma, no dia 5 de junho, às 11h40, em um voo vindo de Miami, utilizando passaporte italiano. Porém, o alerta vermelho da Interpol só foi publicado às 16h24 daquele mesmo dia, horas depois da chegada de Zambelli, justificou. "Essa defasagem de tempo não permitiu à polícia italiana executar qualquer medida de detenção".
"As investigações estão em andamento, mas até agora não foi possível localizar a sra. Zambelli", afirmou. "As apurações prosseguem em colaboração com as autoridades brasileiras, e os dados já foram compartilhados com a Procuradoria de Roma", completou a representante do governo de Giorgia Meloni, primeira política da ultradireita no poder desde o ditador Benito Mussolini.
A resposta revoltou o deputado Bonelli, que acusou o governo de omissão deliberada. O líder da Aliança Verde e de Esquerda e do Movimento Europa Verde classificou a situação como "absurda e inaceitável" e afirmou que o governo italiano já sabia da chegada de Zambelli ao país antes mesmo da publicação do alerta da Interpol. Em maio, a parlamentar do PL foi condenada a 10 anos de prisão e à perda de mandato por ter invadido o sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). A decisão foi por unanimidade na Primeira Turma do STF (5 a 0).
"Esta resposta do governo é absurda e inaceitável", disse Bonelli ao UOL. "O governo italiano sabia que Zambelli estava chegando a Roma, não apenas porque estava escrito em todos os jornais, mas porque eu havia informado o governo 36 horas antes de sua chegada à Itália."
Segundo o deputado, o governo permitiu a fuga porque não monitorou a brasileira. "O governo italiano é responsável pelo ocorrido. Eles deixaram uma pessoa procurada escapar e agora dizem que não sabem onde ela está. É uma vergonha para o país. Mas outra notícia grave é que os filhos de Bolsonaro, Flávio, Eduardo e Carlos obtiveram a cidadania italiana", disse.
Bonelli, durante a réplica no Parlamento, acusou o governo Meloni de acobertar Zambelli por razões ideológicas e diplomáticas. Segundo ele, é evidente o vínculo político entre a Lega, partido da base governista italiana, e o ex-presidente Jair Bolsonaro, do qual Zambelli foi uma das principais aliadas. "A Itália não pode se tornar o paraíso dos golpistas e criminosos internacionais. O mundo sabe, o governo brasileiro sabe, que o governo italiano permitiu a entrada de Zambelli sem qualquer monitoramento".
O parlamentar também destacou a disparidade no tratamento dado a jovens imigrantes de segunda geração na Itália. "Colocam vigilância até em meninos filhos de imigrantes. E quando chega uma procurada internacional, dizem que não sabem onde está? Isso é escandaloso", afirmou.
Viagem de Zambelli foi interpretada como fuga pela Justiça brasileira, que decretou o pedido de prisão. A deputada licenciada é considerada foragida e foi incluída na lista de procurados da Interpol. O UOL procurou a assessoria de Carla Zambelli e aguarda um posicionamento.