A internet de alta velocidade chegou às escolas de São Gabriel da Cachoeira, no noroeste do Amazonas — uma das regiões mais isoladas e culturalmente diversas do país. Às margens do Rio Negro, o município é reconhecido como a cidade mais indígena do Brasil: mais de 90% da população se autodeclara indígena. São 23 etnias que fazem deste território um dos maiores mosaicos culturais da Amazônia. Agora, as escolas locais passam a integrar o grupo das 598 unidades indígenas já contempladas, pelo programa Aprender Conectado.
Chegar com a internet até o coração da Amazônia é um desafio logístico e tecnológico. A travessia por rios extensos, a floresta densa e as grandes distâncias exigem planejamento, inovação e parcerias estratégicas. Em áreas onde a fibra óptica não chega e a energia elétrica é limitada, a solução tem sido combinar conexão via satélite com sistemas de energia solar, garantindo autonomia e funcionamento contínuo da internet na escola.
A Entidade Administradora da Conectividade de Escolas (Eace), responsável pela execução do programa, firmou contrato com a Telebras para viabilizar a conexão via satélite em regiões de difícil acesso. A iniciativa integra a Estratégia Nacional de Escolas Conectadas (Enec) — política pública do Governo Federal que faz parte do novo PAC e tem como meta levar internet de qualidade a 138 mil escolas públicas em todo o país até 2026.
“Cada nova escola conectada representa um salto em oportunidades educacionais e de inclusão digital”, afirma Flávio Santos, diretor-geral da Eace. “Nosso compromisso é garantir que nenhum estudante brasileiro fique desconectado, independentemente de onde viva”.
Mais do que acesso à rede, a conectividade chega como ferramenta de preservação das culturas e ampliação do acesso ao conhecimento. Nas escolas indígenas, ela permite que professores e estudantes utilizem recursos digitais para registrar línguas, tradições e práticas pedagógicas próprias, fortalecendo o diálogo entre o conhecimento ancestral e o contemporâneo.
Para a professora Luísa Trindade Veloso, da escola Dom Bosco, a mudança é visível. “A internet nos trouxe um novo olhar para o futuro e transformou completamente a nossa rotina escolar. Estou há quase 30 anos na docência e posso afirmar: a conectividade facilitou nosso trabalho, ampliou o embasamento das pesquisas e aumentou o envolvimento dos alunos. Só tenho a agradecer por essa transformação”, relata a docente, que vê na tecnologia uma aliada para ampliar o alcance e o reconhecimento da cultura local.
O Aprender Conectado prevê levar internet via satélite a cerca de 10 mil escolas públicas em todo o Brasil, com foco especial na região Norte — onde a complexidade geográfica impõe maiores desafios logísticos. A meta é conectar 40 mil escolas até o fim de 2026, garantindo que o acesso à educação digital seja um direito de todos, seja por fibra óptica ou conexão satelital.
Em São Gabriel da Cachoeira, cada antena instalada representa mais do que infraestrutura: simboliza pertencimento, acesso e futuro. “Um elo entre a floresta e o mundo”, resume a professora. E é justamente esse elo que o Aprender Conectado fortalece — unindo escolas, culturas e saberes que agora também se encontram no mesmo espaço digital.
Sobre o Aprender Conectado
O Aprender Conectado é executado pela Eace (Entidade Administradora da Conectividade de Escolas) e integra a Estratégia Nacional de Escolas Conectadas (Enec) — política pública que prevê levar internet a 138 mil escolas em todo o país. O programa tem como meta garantir conectividade significativa a 40 mil escolas públicas, promovendo inclusão digital e contribuindo para a melhoria da qualidade da educação básica no Brasil.