Quem trafega pela Alameda Cosme Ferreira, bairro Aleixo, vai se deparar com uma cena que está virando rotina na vida urbana de Manaus. Dois jovens parados no cruzamento com a avenida Beira Rio (Coroado), exibindo uma placa de papelão postada sobre o peito onde se lê “Preciso de Trabalho,ten documentação. Uma diária”. A placa é meio confusa e mostra o verbo ter escrito com a grafia errada. E “uma diária” deve ser o valor cobrado por sua mão de obra.
Quem já perdeu a capacidade de se indignar com cenas assim, acelera o carro e segue seu destino. Afinal, como eles, existem centenas na cidade pedindo esmola. Mas este não estão esmolando, são sadios, fortes e jovens. E só querem uma oportunidade. O repórter estaciona o carro e segue o faro da notícia e as pegadas da história.
Eles são os irmãos Eduardo José Mendonza, 21 anos e Frank Jackson Quezada Mendoza, 26. São venezuelanos. Têm ensino médio completo, abandonaram suas famílias e fugiram de sua pátria por não conseguir mais trabalhar, estudar ou comer. Em Manaus, eles estão dormindo na rua e só se alimentam quando alguém se compadece de sua história de vida e lhe dão algum trocado para comer.
— Tenho mulher e um filho de um ano. Não podia mais continuar na Venezuela, onde hoje, viver, é uma aventura perigosa – diz Eduardo, que foi auxiliar de produção na empresa Granizo; chapeiro na empresa Subway e auxiliar de produção no Consórcio Siderurgia Nacional. A maioria dessas empresas, segundo ele, fecharam as portas vencidas pela crise instalada no país com a ascensão de Nicolas Maduro à presidência.
Frank Jackson trabalhou como operador de máquina na indústria Macusa C.A. (até ela fechar); auxiliar de deposito e ajudante de caminhão na empresa Vilcola e ajudante de caminhão na empresa Concreteira ROH CA.
O dois rapazes abrem um saco plástico e mostram que têm toda a documentação e uma algumas cópias de currículos impressas.
— Não estamos pedindo esmolas. Só queremos uma oportunidade, um trabalho e viver dignamente. Escolhemos vir ara Manaus porque temos conhecimento da generosidade de seu povo –, apela Eduardo José.
Em Manaus eles conseguiram ajuda de uma pessoa que cedeu o endereço e o telefone para eles colocarem no currículo, caso surjam oportunidades de trabalho – Rua Álvaro Bandeira de Melo, 155– Bairro Jardim Petrópolis. CEP 69067-210. Telefone (92) 99321-6379.