Médicos da rede pública de saúde estão sofrendo pressões e ameaças de pacientes para que receitem um kit de medicamentos sem eficácia contra covid-19, com incentivo de parte da comunidade médica local, de autoridades e do Ministério da Saúde. Como noticiou hoje o Painel, da 'Folha de S.Paulo', o Ministério da Saúde enviou um ofício à Prefeitura de Manaus para difundir o chamado “tratamento precoce”, cuja eficácia é contestada pela Sociedade Brasileira de Infectologia.
Em relato, os profissionais de saúde dizem está passando por situações em que os pacientes insistiram, às vezes de maneira agressiva, para receber os medicamentos contraindicados. Os médicos contam, também, que os pacientes são incentivados por autoridades e até por integrantes de entidades médicas locais a denunciar no Conselho Regional de Medicina (CRM) e a processar na Justiça os profissionais que se recusarem a fazer a prescrição.
O entendimento, agora, é que o ofício do Ministério da Saúde transformou a pressão em obrigação. A distribuição de “kit covid” agrava a situação do colapso na saúde pública do estado: “Os pacientes estão tomando os remédios sem eficácia em casa e, por acreditarem que estão se tratando, deixam de se preocupar com a saturação [de oxigênio] e acabam demorando para procurar um hospital.” Afirmam os profissionais.
Dos remédios listados nos kits, apenas os antitérmicos comuns como dipirona e paracetamol de fato são indicados em casos leves de covid-19.