Mais de 5 mil motoristas foram flagrados usando o celular ao volante em Manaus este ano. O dado é do Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (Manaustrans). O número de autuações aos condutores de veículos pelas infrações de trânsito referentes ao uso do celular aumentou 1% em relação ao ano de 2017.
Para o presidente regional da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET), Laercio de Melo Santos, não há nada no celular que se sobreponha à segurança no trânsito. “Tudo que tira atenção do motorista põem em risco a vida dele e de terceiros”, disse.
De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) são quatro infrações referentes a esta atitude. Uma delas é dirigir utilizando de fones de ouvido: uma infração média que rende multa de R$ 130,16 e 4 pontos na carteira de habilitação.
Outra infração é dirigir utilizando telefone celular. Também é uma classificada como média e a multa de R$ 130,16 e 4 pontos na carteira. O terceiro caso é dirigir veículo segurando telefone celular. No caso, a infração muda para gravíssima e a multa sobe para R$ 293,47. Na carteira, o condutor soma sete pontos.
O quarto caso de infração é dirigir veículo manuseando o telefone celular – infração também gravíssima – multa de R$ 293,47 e sete pontos na carteira.
O acúmulo de 20 pontos ou mais, em um período de até 12 meses, implica na suspensão da CNH. Mesmo com o carro parado no semáforo ou no engarrafamento, o manuseio de aparelhos eletrônicos continua sendo infração passível de multa.
As 5.225 autuações aplicadas pelo Manaustrans este ano são referentes ao período de 1 de janeiro e 24 de setembro. No ano passado, nesse mesmo período, as autuações somam 5.179.
Riscos
Os riscos vão além do bolso e da possibilidade de ter o direito de dirigir suspenso. De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, o uso de celular ao volante já é a terceira maior causa de fatalidades no trânsito do Brasil. Anualmente, o trânsito tira a vida de mais de 37 mil pessoas no país de acordo com a ABRAMET.
Estudos internacionais indicam que manusear o celular durante a direção é tão perigoso quanto dirigir sob o efeito de álcool. “Retira a atenção. Quando você desvia a atenção corre-se o risco seríssimo de provocar um acidente. Um segundo é suficiente para causar um grave acidente”, aponta o presidente regional da ABRAMET, Laercio de Melo Santos.
Tecnologia
A indústria coloca no mercado automotivo carros cada vez mais equipados e, entre as inovações, as facilidades para uso e manuseio do celular como atendimento de chamadas por bluetooth e espelhamento da tela do aparelho em monitores multimídia.
Apesar de punir o manuseio do celular, a legislação brasileira ainda é omissa sobre o uso do
telefone por meio da tecnologia bluetooth, que permite a conexão sem fio do aparelho com o sistema do som do carro. A ferramenta permite ao motorista falar ao telefone enquanto dirige sem precisar segurar o aparelho.
“É contraditório. Não sou favorável. O motorista fica distraído em qualquer situação que envolva o uso do aparelho. Tira atenção para mudar a música, tira a atenção simplesmente
recusar uma chamada também. Todo mundo faz isso com o carro em movimento”, avalia.
Por isso, na opinião do presidente regional da ABRAMET o uso de celular em qualquer hipótese deveria ser proibido. Estima-se que teclar ou atender uma ligação ao volante amplia em 400 vezes a chance de provocar um acidente.
Usar o celular ao volante tira completamente a atenção do motorista. A uma velocidade de 100 km/h, se percorre uma enorme distância em apenas poucos segundos, por isso uma distração pode ser fatal.
“Leva um tempo para se alterar as resoluções de trânsito e, ao mesmo tempo, a tecnologia avança de forma rápida e surpreendente”, avalia Laercio. “O correto seria desligar o aparelho quando for dirigir. Tem gente que dirige com o som ligado, se envolve com a música de uma forma que canta e interpreta ao volante. Será que esse motorista está dando a devida atenção ao trânsito? ”, questiona.
Mudanças
Até 2016, o uso de celular ao volante era uma infração média. O crescente número de acidentes fez com que uma alteração no CTB a transformasse em infração gravíssima. Mesmo com maior rigor, os números sugerem que a prática segue ocorrendo.
Uma possibilidade para tornar ainda mais grave esse tipo de infração seria impor o chamado “fator multiplicador” na aplicação da multa. É o que ocorre, por exemplo, para quem é multado por dirigir sob o efeito de álcool. Também classificada como gravíssima, o valor da multa é multiplicado por 10, atingindo o patamar de R$ 2.834,70.
Pedestres
O uso de celular no trânsito também é um risco para os pedestres. É cada vez mais comum o registro de atropelamentos de pessoas que estavam distraídos com o seu smartphone no momento de atravessar uma rua ou um cruzamento.
Ler, digitar, falar e usar o fone de ouvido pode aumentar pode tirar completamente a atenção do pedestre na rua. Há estimativas que indicam um aumento em até 80% na chance de um acidente nessas circunstâncias.