Uma mapa postado no Twitter pelo administrador manauara Rodrigo Freitas causou grande debate nas redes sociais na quinta-feira e sexta-feira, 21 e 22 de junho. A imagem mostra a capital do Amazonas praticamente 'tomada' por igrejas em todas as zonas da cidade - principalmente Norte e Leste. De acordo com os dados da publicação, são 7.865 templos religiosos em Manaus (🟣), enquanto há 1.743 estabelecimentos de ensino (🔵) e 1.056 unidade de saúde (🟡).
O total de igrejas é 7,4 vezes maior que o número de pontos de atendimento em saúde e 4,5 maior que a quantidade estabelecimentos escolares. "O nome da pesquisa é Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos, do Censo de 2022. Tem um mapa interativo com diversas camadas. É possível cruzar as informações. A postagem é mais para gerar reflexão. Não estou desmerecendo o papel da religião, porém, a educação gera desenvolvimento, em todos os sentidos", avaliou Rodrigo.
Análise
Para o professor e cientista político Helso Ribeiro, é inquestionável que a religiosidade sempre esteve presente na formação e desenvolvimento do Brasil. Mas ele avalia que, nos últimos 30 anos, é inegável o crescimento das religiões neopentecostais e, logicamente, com o passar dos anos, acabaria refletindo no nosso dia a dia e até na política.
"Muitas vezes as igrejas entram em um espaço deixado pelo Estado, que falha no acolhimento, não promove lazer ou bem estar. Elas entram fazendo este serviço. Então, se entram, mostra que as igrejas têm trabalho nas comunidades. Acabaram criando uma relação de confiança com as pessoas", avalia Helso.
O Portal do Mário Adolfo já mostrou que, na eleição para vereador de Manaus, em 2020, os dois mais votados são evangélicos. O pastor evangélico João Carlos dos Santos Mello, de 44 anos, teve 13.830 votos e é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Já o vereador Joelson Silva, com 12.943 votos, é ligado à Assembleia de Deus.
Na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (ALEAM), dos dez mais votados em 2022, dois representam igrejas evangélicas e fazem questão de falar sobre o assunto quando sobem ao plenário da Casa: Felipe Souza (50 mil votos) e João Luiz (44 mil votos).
Este fenômeno também é avaliado por Helso. "Começamos a ver o surgimento das bancadas evangélicas. No meu entendimento é a utilização da fé, porque os trabalhos começaram a ser feitos aliados a compromissos políticos. Esse nicho religioso acaba transformando nossos parlamentos numa espécie de apêndice", aponta.
O cientista político chegou a dizer que, nas andanças pelos bairros mais distantes de Manaus, já viu um quarteirão com três ou quatro igrejas e todas com seus respectivos 'rebanhos'.
"Em 1990 o Brasil se torna um estado laico (que não pertence, ou não está sujeito a uma religião, ou não é influenciado por ela), mas a gente sabe que isso sempre foi pra inglês ver. A própria Igreja Católica sempre teve privilégios. E com o crescimento dos evangélicos, eles fizeram, das 5.600 casas parlamentares, um segmento da igreja e os opositores pouco ousam a falar sobre isso. É terreno vasto pra cresceram cada vez mais", pontua Helso Ribeiro.
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