O domingo amanheceu mais silencioso no samba manauara. Morreu, na madrugada deste dia 17, Daniel Salles, compositor, escritor, pesquisador da cultura e do esporte amazonense e considerado por muitos como uma das maiores referências vivas da história do carnaval de Manaus. Ele tinha longa luta contra complicações provocadas pela diabetes.
Daniel Salles deixa um legado profundo que atravessa o samba, o futebol, o rádio, a literatura e a pesquisa sobre a cultura popular do Amazonas. Autor do livro “É Tempo de Sambar”, obra frequentemente chamada de “a Bíblia do samba manauara”, Salles registrou fatos essenciais das escolas de samba, preservando memórias que corriam risco de se perder.
Era conhecido por amigos como o “Lamartine Babo do Norte” pela capacidade de compor hinos — muitos deles para clubes amazonenses como América, Manaus FC, Amazonas FC e Princesa do Solimões — e por sua produção incansável como compositor de sambas-enredo em diversas escolas.
Pelas redes sociais, Reino Unido da Liberdade, Sem Compromisso e Boi-Bumbá Corre Campo e demais agremiações publicaram notas de pesar, reconhecendo a trajetória e a generosidade de Daniel. “Que sua luz permaneça acesa em cada lembrança”, escreveu a Reino Unido. A Sem Compromisso afirmou que o sambista “imortalizou seu nome no carnaval e no futebol amazonense”. A diretoria do Corre Campo destacou que ele “cumpriu sua missão nesta vida e agora descansa no plano espiritual”.
Daniel era pai de Ellen Juliana, Rainha da Escola Reino Unido da Liberdade, e sogro do presidente Rangel Magalhães. Deixa também inúmeros amigos, discípulos, parceiros musicais e admiradores.
As escolas de samba de Manaus se manifestam desde o início da manhã, lamentando a perda e celebrando sua obra — um dos pilares da memória cultural do carnaval.
A homenagem emocionada de Mosani Santiago
O professor, poeta e compositor Mosani Santiago, amigo íntimo e parceiro de décadas, gravou um depoimento emocionado sobre a morte de Daniel Salles. Trechos da fala:
“Perdemos Daniel Salles. O compositor, o historiador, o escritor, o poeta, o cantor. Aquele conhecido como Lamartine Babo do Norte. Uma perda irreparável.”
Mosani lembrou da genialidade e da dedicação do amigo:
“Se o Daniel morasse no eixo Rio–São Paulo, seria reverenciado todos os dias.”
Falou também da parceria musical que os unia:
“Posso dizer: quase todos os sambas que eu assinei, ganhando ou perdendo, o Daniel estava presente. Era parceiro de todas as horas.”
Sobre o legado, Mosani destacou:
“Daniel escreveu a Bíblia do samba manauara. Deixou um grande legado, deixou inúmeros amigos, deixou o samba de luto.”
E concluiu emocionado, chamando-o de irmão:
“Obrigado por tudo, Daniel Salles. Obrigado por me ensinar muitas coisas na vida, na boemia, no samba. Perdemos um gênio. Perco um irmão que o samba me deu.”




