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MPF cobra União por descumprimento de sentença sobre saúde indígena no Vale do Javari

Sentença transitada em julgado determinou série de obrigações para garantir assistência integral às comunidades da região

Terra indígena Vale do Javari - Foto: Adam Mol/Funai

O Ministério Público Federal (MPF) apresentou nova manifestação à Justiça Federal em Tabatinga (AM), reiterando a urgência do cumprimento de medidas determinadas judicialmente à União para garantir o atendimento integral à saúde das comunidades indígenas do Vale do Javari. A sentença impôs obrigações como a contratação de profissionais, a melhoria das estruturas de apoio e o fornecimento regular de medicamentos e insumos.

A ação foi apresentada originalmente contra a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), mas o MPF entende que, com a criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde, cabe à União o cumprimento integral das obrigações.

Na nova manifestação, o MPF afirma que, embora a União tenha apresentado relatórios sobre a atuação do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) do Vale do Javari, as informações demonstram que as medidas determinadas pela Justiça ainda não foram implementadas de forma plena. A própria União reconhece, em diversos trechos dos documentos apresentados, a existência de lacunas graves na prestação do serviço.

Falhas persistentes
Entre os principais problemas apontados estão a insuficiência de médicos e odontólogos nos polos-base — atualmente, são oito unidades, mas apenas seis contam com médicos alocados, em regime de revezamento. No caso da saúde bucal, três polos ficaram sem qualquer cobertura durante o ano de 2024. A contratação de pessoal ainda é feita por meio de entidade privada, sem perspectiva de realização de concurso público.

Também foram relatadas condições precárias nas Casas de Apoio à Saúde Indígena (Casai). Em Atalaia do Norte, a estrutura está desatualizada, sem acessibilidade e com enfermaria desativada. Já a Casai de Tabatinga, segundo a própria União, encontra-se em estado crítico, com infiltrações, falhas estruturais e comprometimento da higiene. A proposta de construção de nova unidade foi rejeitada pela Sesai.

Com relação à distribuição de medicamentos, a União informou que há abastecimento regular a partir de central farmacêutica, mas o MPF destaca que não há comprovação suficiente sobre a efetividade da distribuição até as aldeias mais isoladas. O órgão também considera que a comunicação entre as equipes e a sede do Dsei continua deficiente, uma vez que parte das unidades ainda não dispõe de infraestrutura própria de internet.

Pedidos
Apesar de reconhecer que houve avanços pontuais, como a instalação de alguns equipamentos de conectividade e a reforma parcial de polos-base, o MPF considera que as falhas persistem e compromete o acesso adequado à saúde pelas populações indígenas. Diante disso, o procurador da República Gustavo Galvão Borner, responsável pelo caso, requer que a União apresente à Justiça, no prazo de 30 dias, um cronograma detalhado e vinculante de ações para resolver as pendências identificadas.

Entre os pedidos estão a apresentação de planos de contratação, reformas, cobertura médica, abastecimento de medicamentos e ampliação da conectividade. O MPF também solicitou a aplicação de multa diária de R$ 10 mil em caso de descumprimento das futuras determinações judiciais.

Ação civil pública nº 0000240-43.2008.4.01.3201

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