O cearense Raimundo Barros de Souza era um desconhecido fotógrafo quando chegou a Manaus, por volta de 1975. Estava mais preocupado em fotografar casamentos, bailes de debutantes e formaturas, para depois editar álbuns de fotografias e vender. Até cruzar o caminho do colunista social Carlos Aguiar, que assinava uma coluna no jornal A Notícia. O jornalista fez o convite:
— Você quer ficar famoso? Então, vem trabalhar comigo. Mas não vai ter vida fácil , nem fim de semana. Manaus tem eventos todos os dias.
Raimundo, que ainda não era Barros, topou. “Não entendo nada de jornal, mas para sair da m (*), topo qualquer parada”, respondeu o cearense que, para trabalhar não tinha tempo ruim.
Em pouco tempo, passou a dominar o high society baré acompanhando Carlão a eventos variados, como coquetéis de empresas, aniversários de socialites, bodas de prata, casamentos, festas de 15 anos, desfile de moda e até baladas em boates da época, como Danillo’s , Papagaio’s , Crocodillos e Boate dos Ingleses (The in Crow), Starship, na zona portuária de Manaus.
Às vezes, eram de três a cinco eventos por noite, numa época em que não havia as facilidades da câmera digital. As fotos eram registradas em filmes, que eram levados correndo ao laboratório, onde era feito o ‘copião’ para que o editor selecionasse o que interessava e depois revelasse. Era uma corrida contra o tempo e contra a pressão do colunista. “Cadê as fotos, porra? Tem que fechar a coluna agora!”
Carlos Aguiar, pra “enfeitar o maracá” passou a assinar as fotos de seu colaborador como by Barros ( por Barros). Feliz com o sucesso de seu trabalho, o fotógrafo enviava os jornais para a cidade de Crateús, ao seu velho pai.
Por conta disso, a irreverência que sempre marcou as redações de jornal criou uma lenda urbana para brincar com o fotógrafo: — Quando o jornal chega ao Ceará, o pai de Barros diz emocionado: “Meu filho ficou famoso em Manaus, já mudou até o nome para BI BARROS”. E foi assim que nasceu o apelido “Bi Barros”.
Barros se realizou numa efervescente Manaus que crescia ao ritmo das máquinas do Distrito Industrial e do frenético comércio da Zona Franca de Manaus. Fez amigos, construiu um nome e uma carreira respeitáveis. Ergueu um patrimônio às custas de muito trabalho e persistência.
Fotografou nomes importantes do jet set internacional que visitaram Manaus, como o presidentes francês Giscard d’Estaing , o príncipe de Gales Charles, o premier alemão Helmut Khol, o oceanógrafo Jacques Custeau, o tenor José Carreras, só para citar alguns.
Com o tempo,Barros passou a fotografar, também, para outros colunistas como Gil, Elaine Ramos, Alex Deneriaz (já falecidos), Fernando Coelho , Alexandre Prata, Júlio Ventiralli. Tinha dias em que Barros percorria até três redações de jornais diferentes, numa única tarde, levando fotos a colunistas concorrentes.
Barros morreu na madrugada do último sábado de 2019, aos 70 anos, vítima de um AVC. Por coincidência, no mesmo dia da morte de outro grande fotógrafo: Antônio Gurreiro, o fotógrafo das estrelas.
Nos últimos tempos, o fotógrafo do grand monde manaura já andava sumido dos grandes eventos. Lutando contra diabetes avançada foi perdendo a visão aos poucos, até não conseguir mais focar a principal matéria prima de seu trabalho: a luz.
Texto: Mário Adolfo