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A jornalista e apresentadora de TV Baby Rizzato aliás, Beatriz de Castro e Costa, carrega em seu histórico profissional a incrível marca de ter ficado no ar 43 anos apresentando o programa Nosso Encontro, com um detalhe, na mesma emissora, a TV A Crítica - Hebe Camargo ficou 57 anos, mas em emissoras diferentes. A porta de entrada para Baby foi em 1969 na TV Ajuricaba (canal 38) – a pioneira do Amazonas –, a convite da empresária Sadie Hauache, onde apresentava o Baile das Debutantes.

Foi o empresário Phelippe Daou, através de sua agência, Amazonas Publicidade, que teve a grande sacada de comprar  15 minutos do horário na Ajuricaba para lançar o programa “Baby Sempre às Quintas”, em 1970. Convidada pelo empresário Ayrton Pinheiro, Baby foi parar na TV Baré, canal 4, filiada à Rede Tupi, emissora dos Diários Associados, onde estreou no dia fia 13 de agosto de 1972,  o Nosso Encontro, inspirado no encontro da jornalista com o primeiro produtor do programa, o paulista Heron Rizzato que viria a ser seu marido. O sucesso foi tão grande, que quando os dois se casaram, uma multidão de fãs invadiu a Praça da Matriz, onde se formou uma verdadeira feira, com vendas de churrasquinho, cerveja, tacacá, etc.

Mas, em meio à crise do “milagre brasileiro”,  a Tupi já andava mal faz pernas.

Com a falência da Rede, em 1980, a TV Baré passou a gerar sua programação de maneira independente, até tornar-se afiliada ao SBT, em 1981, de Sílvio Santos. Em Manaus, as coisas também começavam a se arrumar. A TV Baré era uma sociedade de 30 acionistas, que posteriormente venderam suas cotas a Umberto Calderaro Filho, dono do jornal A Crítica, onde Baby também assinava uma coluna. Estava tudo em casa e a apresentadora continuou na emissora. Calderaro assumiu o controle da emissora em 1981, e nesse ano, a TV Baré passa a se chamar TV A Crítica, assumindo o nome do jornal que era a “galinha dos ovos de ouro” do jornalista, agora comandando um império formado por jornal, rádio (Tarumã) e televisão.

No início da década de 1980, o Nosso Encontro era uma revista que se preocupava com o que rolava no high society. Moda,  música, culinária, além de um quadro de socialites chamado de “luminosas” que entrevistavam  outras socialites que brilhavam nos salões de uma Manaus de pouco mais de 700 mil habitantes. A fórmula dava certo, mas o país estava mudando e a burguesia já não tinha tantos encantos.

— O programa instigava o telespectador, porque com a Baby não há meio termo. Ou você ama ou odeia! – traduziu certa vez Fábio Marques, um de seus produtores na década de 1980.

O Nosso Encontro era uma revista que se preocupava com o que rolava no high society

Foi aí que num certo sábado de 1983, a produção do programa, sem Baby saber direito,  deu uma guinada de 360º na pauta do programa. Trocou o tema de abertura a música Baby do cantor e compositor Arthurzinho -(Oh, baby/ me mostra o caminho certo/ que é pra eu poder ficar mais perto/ mais perto do seu coração...)  por “Baby” de Caetano Veloso, interpretada por Gal Costa – “Você precisa saber da piscina/

Da margarina/ da Carolina/ da gasolina / Você precisa saber de mim/ Baby, Baby/ eu sei que é assim…”  As personagens que transitavam pelo estúdio, quase sempre perfumadas, com cabelos  escovados e sacolejando brincos, colares de pérolas e pulseiras de ouro também mudaram. De repente, pelo tapete vermelho de Baby, arrastado uma sandália com a sola salpicando lama,  entrou nada menos que a irmã Helena, uma freira negra que liderava  a  frente de invasões  de sem-terras que vinha tirando sono de latifundiários e do poder público de Manaus.  Logo em seguida,  aboletava-se no  sofá de Baby o líder metalúrgico  Ricardo Moraes, que liderava uma greve que há 15 dias havia arado o Distrito Industrial. Nem bem acabou o programa, o telefone do estúdio tocou. Piranha, o cinegrafista atendeu:

— É o senhor  Caderaro querendo falar com senhora.

— Valei-me, agora a casa caiu! – tremeu a apresentadora.

— Alô? Baby, quem foi que que teve a ideia de mexer no programa?

— Foi o produtor...  (disse o nome do/ rapaz, já esperando o paredon).

—  Parabéns! Isso é que é programa, porra! O telespectador quer ver é  circo pegar fogo!

Naquele dia, Baby pegou os “meninos” da produção, pagou uma pizza e meia-dúzia de chopps na pizzaria Beija-Flor, uma das patrocinadoras do programa.

E assim foi por longos 43 anos. O último programa foi ao ar em 19 de dezembro de 2015, por razões que até hoje não foram muito explicadas. Cinco anos depois, ainda é possível ouvir o eco do brado de fé que a filha de Iansã, senhora dos ventos e das tempestades,  dava antes de entrar no ar:

Eparrei minha mãe!

Baby ficou no ar por 43 anos

Confira a entrevista completa:

Blog do Mário Adolfo – Quanto tempo você ficou no ar e qual a gota d’agua pra deixar a televisão que você tanto amou?

Baby Rizzato, jornalista e apresentadora de televisão –  Fiquei no ar por 43 anos, desde quando o canal  4 chamava-se "TV Baré"  e transmitia a programação dos Diários Associados. O programa que era ao vivo. Era contratada da emissora, carteirinha assinada e tudo. Entrei pela porta da frente, pelas mãos dos donos (Ayrton Pinheiro, na primeira fase e Umberto Calderaro na segunda), e creio ter feito um trabalho satisfatório. Do contrário, não teria passado tanto tempo. Entrei jovem, casada, uma filha bebê. Hoje, vivo uma vida de deusa: divorciada, com dois  filhos adultos, independentes, vitoriosos. A vida passou e eu nem senti.

BMA – Mas quem decidiu que estava na hora de parar, você ou a emissora? Repetindo, houve uma  “gota d’água”pra você dizer “já deu pra mim, está na hora de ir pra casa”?

Baby Rizzato — Não. Não  houve gota d’água. Houve cansaço, saturação, vontade de correr o mundo, sem lenço, mas com documento. Sem compromissos, sem amarras. Foi o que fiz e continuo a fazer até hoje: viajar, viajar, viajar.

BMAO que mudou na programação da TV, do tempo em que você esteve no ar para a época atual?

Baby Rizzato — Muita coisa mudou. Hoje, existe pouco jornalismo, muito "mundo cão". Gente no lugar errado, porcaria entrado na casa da gente e a tal da televisão fechada, gringa toda a vida, dando um banho na televisão aberta (dita) a popular. Mudou tudo. E pra pior, diga-se.

Baby entrevistou o poeta Vinícius de Moraes

BMA – Quais os grandes momentos do Nosso Encontro que você lembra e quais os entrevistados mais importantes que passaram pelo seu sofá?

Baby Rizzato — Todos os instantes do nosso encontro foram importantes para mim. Todas as ações feita com o melhor de mim, com a verdade saindo do meu coração, fosse rindo, fosse chorando. Alegre ou triste, eu entrava no ar, batendo ponto, cumprindo meu horário, com a responsa de uma trabalhadora fiel e feliz com o que fazia. Nada programado, ensaiado. Ali, sempre... ao vivo!  Tivemos grandes momentos  pelo programa passaram Vinícius de Moraes, Dick Farney, Quarteto em Cy, João Bosco, Antônio Marcos, Gilberto Gil, Novos Baianos, e mais, e mais e mais.... E, claro, o travesti  Rogéria, que virou um grande amigo, o Astolfo Barroso Pinto.

BMA –  Você acha que existia mais classe, glamour e um pouco mais de caráter nos apresentadores do passado, que trabalhavam sem os recursos e a parafernália eletrônica que existem hoje ?

Baby Rizzato — Com absoluta certeza! Eu, por exemplo, me preparava como se fosse para uma festa. Sabia que estava invadindo a casa das pessoas e me enfeitava  pra isso. Cansei de servir champanhe, fingia tomar copos de cerveja (que na realidade era guaraná quente para fazer espuma), o cenário era lindo, um espaço enorme, utilizando-o integralmente, com entrevistas, grupos de música, até ballet clássico, desfiles de moda. O Nosso Encontro serviu ao telespectador como exemplo de caráter e respeito.  O apresentador não se vendia.

BMA – Alguma vez você enfrentou problemas com a censura, na época da ditadura, onde haviam censores centro das redações ?

Baby Rizzato — Eu não chamaria de problema. Apesar de, na época, querer matar quem solicitava uma "prévia do programa", que era enviada à Policia Federal.

BMA (interrompendo) – Ué, mas se censura não era bem um problema, então o que seria?

Baby Rizzato — Chamava-se censura prévia. Se hoje existisse isso, não se ouviria o Faustão chamar “porra” em alto som, e nem se desrespeitava uma pessoa de idade, mostrando cenas de sexo, quase explícito. A programação hoje é micha, isto é, grotesca, sem nível, do ponto de vista da sociologia comportamental.  Tem programa, como Malhação (TV Globo) que entra no ar às 5h da tarde, com cenas de sexo. É difícil até deixar que crianças e que adolescentes assistam. Não tenho nada contra. Não se trata de conservadorismo, mas existe hora e momento para tudo.  Lembro que  havia um tempo onde se alertava no início de qualquer transmissão “esse programa é  liberado para maiores de 16 anos”, etc.

Ela recebeu homenagem na Câmara Municipal de Manaus

BMA – Ao pensar assim, você não está engrossando o caldo da  “cruzada” moralista que retornou ao Brasil com a chamada “nova política”?

Baby Rizzato — Não, porque não estou me referindo à política. Nem a discursos conservadores tanto da direita, quanto da esquerda. Falo do nível de certos programas, do mal gosto, que vai da televisão até a música. Hoje, com todo o respeito à grade de programação de algumas televisões, mas tem apresentador que ficaria melhor em um circo, porque existem programas que é uma verdadeira avacalhação!

BMA – Você viveu uma época de grande apresentadores: Hebe Camargo, Flávio Cavalcante, Cidinha Campos, J. Silvestre... Ainda haveria espaço, hoje, para tipos de programas como dessas “verdadeiras lendas” da televisão, como o seu, por exemplo?

Baby Rizzato — Sempre haverá espaço para uma boa entrevista, esclarecer fatos sobre a vida alheia. Aliás,  a vida alheia sempre anda fazendo a festa. Vamos confessar que a vida dos outros é incrivelmente interessante. Sempre vai haver tempo para fazer o que o Bial (Pedro, TV Globo) faz hoje. E isso, modéstia à parte,  eu já fazia na década de 1980. Então...

Baby ainda pequena, com os pais

BMA – Você  tem saudades do espelho do seu camarim e das câmeras?

Baby Rizzato – Eu não chamaria de saudade. Chamo de falta que me faz o papo cheio de risadas, com cabeleireiros, maquiladores, produtores que foram muito importantes na minha vida (Heron Rizzato, Braga, Fábio Marques, Mário Adolfo, Herman Marinho, Alberto Jorge, Cauby Cerquinho, Alexandre Prata, .Kid Mahall). Agora, em relação às câmeras, como  nunca tive preocupação de fazer pose para as lentes, elas não me fazem falta.

BMA – Como vive a Baby de hoje, longe das câmeras  e das redações  dos jornais?

Baby Rizzato – Vivo bem, de bem com a vida, continuando a escrever minha coluna para o jornal A Crítica, o que venho fazendo há 40 anos. Mimada pelos filhos, pelos funcionários seculares da minha casa, amigos sinceros. O resto é festa!

BMA – É verdade que você pode voltar  para a televisão?

Baby Rizzato – Isso é uma outra história (risos).

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