Reportagem do Correio Brasiliense mostra que o pedido de demissão de Sergio Moro do comando do Ministério da Justiça fez rodar a roleta das apostas sobre quem será o próximo integrante do primeiro escalão a desembarcar do governo Bolsonaro. As fichas estão sendo direcionadas para o ministro da Economia, Paulo Guedes, que esteve na berlinda nos últimos dias devido às divergências com o presidente e com a ala militar sobre a condução da política econômica, em meio à recessão que se forma pela pandemia da Covid-19.
A grande dúvida, no entanto, é se Guedes conseguirá continuar no cargo após a saída de um dos ministros com popularidade maior do que a do presidente. Foi ele quem convidou Moro para integrar o governo e o apresentou a Bolsonaro, lembram amigos do responsável pela política econômica. Fontes próximas a Guedes acreditam que não abandonará o barco tão facilmente, apesar de ter um temperamento explosivo parecido com o do presidente.
Assim como Moro era o pilar da confiança da sociedade de que o governo combateria a corrupção, Guedes é a sustentação junto aos investidores e aos empresários de que Bolsonaro não vai fazer as estripulias fiscais que levaram as contas públicas a registrarem deficit primário pelo oitavo ano consecutivo. Sua atuação tem limitado o espaço para novos gastos no combate à atual crise. Analistas evitam comparar Guedes com Moro.
Na avaliação de Murilo Aragão, advogado e sócio-fundador da consultoria Arko Advice, com o tamanho da crise, Bolsonaro e Guedes devem “se conciliar”. Contudo, uma das dúvidas no mercado é se o ministro botará um freio nas aspirações desenvolvimentistas do ministro-chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto, que apresentou o plano Pró-Brasil de retomada da economia.
Guedes ficou decepcionado com o Ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que ajudou na concepção do plano de Braga Netto. Técnicos da equipe econômica contam que o programa está “mal estruturado” porque foi feito às pressas e atropelou o trabalho que vinha sendo feito pela pasta para a pós-pandemia, focando na aceleração de concessões e privatizações e na simplificação tributária. Internamente, o plano da Casa Civil é chamado de “PAC do Marinho”, em referência ao Programa de Aceleração do Crescimento dos governos petistas.