A história do prédio da Cadeia Púbica Raimundo Vidal Pessoa começa a lembrar o destino que teve a Santa Casa de Misericórdia de Manaus –, abandonado, castigado pelo tempo, entregue à própria sorte e saqueado por invasores que estão retirando tudo aquilo que podem reaproveitar ou comercializar, como telhas, portas, janelas, ferro, madeira e outras peças levadas na calada da noite ou até mesmo em plena luz do dia.
Em maio de 2017, a Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa foi desativada pelo Governo do Estado, depois de funcionar por 111 anos com presídio e, em determinados momentos de sua história ,como depósito humano, devido à falta de controle da população carcerária. No dia 6 de dezembro do mesmo ano, representantes do Governo do Estado estiveram no antigo prédio verificado as instalações, quando anunciaram o projeto de restauração do complexo para transformá-lo em Centro de Cultura Popular do Amazonas.
Essa já era a ideia do ex-secretário de Cultura, Robério Braga, que também não colocou em prática porque deixou o cargo após a eleição do governador Amazonino Mendes (PDT). De acordo com o atual secretário, Denilson Novo, manter a ideia de transformar a Cadeia Pública em Centro Cultural foi uma determinação do próprio governador.
Mas não é isso que está sendo colocado em prática. A antiga unidade prisional está sendo dilapidada por saqueadores e até usada como abrigo de marginais, vagabundos e moradores de rua, que usam o espaço para se drogar. Fotografias tiradas nesta segunda-feira (5) mostram que o prédio já está sem o telhado, assim como as portas clássicas – que eram verdadeiras obras de arte da marcenaria -, também estão sendo levadas. A fiação para a venda do cobre também já foi roubada, além de que o mato e o lixo tomaram conta do local.
─ Aí dentro deve estar acontecendo todo tipo de delito, drogas, prostituição… porque à noite ouvimos gritos. Qualquer dia, como ocorreu na Santa Casa, aparece um morto aí dentro -, teme uma moradora das proximidades que prefere não se identificar.
HISTÓRIA PERDIDA
Se o governo não tomar uma providência urgente, Manaus vai perder um prédio histórico, de linhas arquitetônicas clássicas, construído no estilo art nouveau, característico da Belle Époque, em pleno centro da cidade. A antiga cadeia pública foi inaugurada em 19 de março de 1907, como Casa de Detenção de Manaus, no governo de Antonio Constantino Nery.
Pela Lei nº 1694, de 15 de julho de 1985, sancionada pelo então governador Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo, a Unidade Prisional Central passou a denomina-se Penitenciária Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, mantendo-se assim até 1999, quando o Estado inaugurou o Regime fechado do Complexo Penitenciário Anísio Jobim. A ideia era abrigar somente presos provisórios à disposição das autoridades judiciais, aguardando julgamento. Mas não era bem assim que funcionava.
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