O relatório com a situação nutricional das crianças de Novo Airão, a 195 quilômetros de Manaus, pode servir de projeto piloto para um programa alimentar com potencial para ser implementado em todo o Amazonas. O estudo de meninos e meninas até cinco anos está sendo desenvolvido no município pelo Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Amazonas (COSEMS-AM) e em breve fará parte de um relatório de avaliação.
De acordo com a coordenadora do projeto, Estér Mourão, nutricionista do COSEMS-AM, a introdução alimentar nos primeiros anos da criança tem impactos para a vida inteira, mas a questão é pouco valorizada no Amazonas. Com isso, a desnutrição ainda é presente em muitos municípios do Estado.
Na região Norte, 18,8% das crianças de zero e cinco anos têm altura muito baixa ou baixa para a idade, e 6,4% delas têm peso muito abaixo ou baixo para a idade, devido a desnutrição. Os dados são da Fundação Abrinq, que em 2018 lançou uma nova edição do Cenário da Infância e da Adolescência no Brasil.
“Poucos governos avaliam ou fazem a relação das doenças com o estado nutricional da criança e como mudar isso. É um assunto muito subestimado. Não costumam avaliar o impacto da nutrição na vida das criança. E no Amazonas, principalmente no interior, temos uma alimentação pobre em nutrientes”, explica Estér Mourão.
Para mudar o quadro, o COSEMS firmou parceria com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e implantou o projeto em Novo Airão. Mais de 500 crianças já passaram por avaliação feita por acadêmicos de Medicina e com equipamentos cedidos pelo Inpa. A Secretaria Municipal de Saúde de Novo Airão também tem dado suporte.
“O próximo passo é avaliar estes resultados e, a partir daí, organizar uma proposta nutricional para o município. Vale ressaltar que a prefeitura vem apoiando o estudo, pois sabe que no futuro as crianças de Novo Airão podem sofrer com menos doenças e serem mais saudáveis”, assinala a nutricionista do conselho.
Com 20 anos de experiência na área de nutrição, Estér Mourão vai além ao falar do projeto: “Quem sabe tenhamos começado um estudo que pode servir para todo o Amazonas…”, vislumbra. O sonho já começou.