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Sobre liberdade de pensamento, violência e tolerância

Somente até aqui, tivemos 40 pessoas assassinadas, no primeiro semestre de 2022 foram registrados 19 casos de violência política contra militantes do PSD, 18 contra membros do Republicanos e 17 casos contra militantes do PT e PL.

Em mais um episódio que paralisa nossos pensamentos e ações, vivemos nos últimos dias uma semana desafiadora para os direitos assegurados em nossa Constituição, para ficar somente com dois dos mais recentes, haja vista a miríade de problemas que diariamente temos encontrado, concentramos nossas reflexões  no que concerne à liberdade de manifestação de pensamento em peculiar o pensamento político.

Agora já conhecido o nefasto episódio no qual o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores em Foz do Iguaçu foi morto a tiros por um ideologicamente apoiador do atual presidente da República, em sua própria festa de aniversário, ele mesmo ao se defender desferindo tiros em seu algoz.

Pois bem, ao que parece as lições que deveríamos ter aprendido durante o período de isolamento pandêmico ficaram para trás, lições como  tolerância, amor ao próximo, auxílio aos que mais necessitam, respeito dentre tantos outros foram relegados a segundo ou último plano.

Conforme assegurado em nossa Carta Constitucional em seu artigo 5º, todos nós, brasileiros e estrangeiros, em nosso país podemos manifestar livremente nossos  pensamentos, desde que dentro dos limites legais, transmitindo ao público em geral nossas opiniões, vontade, ideais, juízos de valor, enfim informações as mais variadas, dentre elas o gosto peculiar por organizar a própria festa de aniversário com o tema que nos apraz, o  mais apropriado para satisfazer nossa vontade de comemorar a nossa passagem em mais um giro em torno do sol.

Difícil compreender então no país extremamente polarizado que vivemos que uma pessoa perca sua vida ao escolher um tema político para sua celebração,  questionemos o seu peculiar gosto, os motivos para esta escolha, a própria ornamentação em si, tudo, mas não o direito constitucionalmente garantido de externar seu peculiar pensamento no dia mais importante de sua existência.

Dados recentes do Observatório de Violência Política e Eleitoral da Universidade Federal do Rio de Janeiro, lançados neste dia 11 de julho, apontam que nos primeiros seis meses de 2022 o  Brasil registrou 214 casos de violência política, número este 32% maior que os 161 casos registrados no primeiro semestre de 2020, último ano em que tivemos eleições.

Somente até aqui, tivemos 40 pessoas assassinadas, no primeiro semestre de 2022 foram registrados 19 casos de violência política contra militantes do PSD, 18 contra membros do  Republicanos e 17 casos contra militantes do PT e PL.

O Direito à manifestação de pensamento foi forjado em lutas e combates os mais extremos, da noção oriunda da revolução pela independência norte-americana pela existência de um país livre, onde pessoas não fossem julgadas ou perseguidas pelo teor de seus pensamentos, um país em que a liberdade de  expressar sua opinião fosse acompanhada do devido respeito a entender que existem opiniões contrárias, noções estas importadas por ninguém menos do que Ruy  Barbosa em nossa primeira carta republicana em 1891.

George Orwell certa feita legou-nos a lição de que “se a liberdade significa alguma coisa, significa o direito de dizer às pessoas aquilo que elas não  querem ouvir”, ódio e radicalismo são inaceitáveis na expressão política de nossos pensamentos e a pouco mais de oitenta dias do primeiro turno  das eleições é necessário que todos, candidatos e militantes, sobretudo as lideranças, condenem veementemente toda e qualquer forma de violência  ou incitação à violência tendo como pano de fundo o pleito.

A chamada “festa da democracia” não pode sobreviver com atos diametralmente opostos a sua própria essência, não há de maneira alguma qualquer justificativa  para atos violentos politicamente motivados ou não, ou aprendemos isto como sociedade, a ser tolerantes com as verdades alheias, diferentes das nossas, ou teremos sem sombra de dúvida um retrocesso enquanto seres humanos nesta quadra histórica em que vivemos. E é isso.

Esta coluna é publicada semanalmente
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