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Tráfico já não é o centro do crime: estudo mostra que drogas representam fatia mínima do negócio das facções

Tráfico de drogas, atualmente, é apenas 4% do negócio. Grande parte do dinheiro vem de golpes virtuais e roubos de celulares

Tráfico corresponde a apenas 5% do motor financeiro do crime organizado de 2022 a 2024 - Arte: marioadolfo.com.

A repressão armada ao tráfico de drogas continua sendo vendida como resposta principal ao crime organizado no Brasil. Mas os números mais recentes do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) mostram um cenário muito diferente: o tráfico hoje é uma das menores partes da economia criminal, e focar apenas nele significa mirar no passado, não no presente.

Segundo o estudo 'Follow the Products - RASTREAMENTO DE PRODUTOS E ENFRENTAMENTO AO CRIME ORGANIZADO NO BRASIL' -, as organizações criminosas movimentam cerca de R$ 348 bilhões por ano no país. E o narcotráfico, historicamente tratado como o coração dessas redes, representa, hoje, aproximadamente 5% dessa cifra— uma mudança radical na geografia do crime.

Enquanto políticos e setores da segurança ainda celebram operações que prendem líderes do tráfico, o estudo revela que a realidade é outra: não é mais na favela, nem no território local, que o crime concentra sua força. Hoje, a engrenagem criminosa opera em cadeias logísticas complexas, mercados internacionais, rotas comerciais e sistemas financeiros globais.

O verdadeiro mapa do dinheiro do crime

O relatório mostra que os maiores motores financeiros do crime organizado no Brasil, em 2022, 2023 e 2024 são:

1º - Golpes virtuais e roubos de celulares: R$ 186 bilhões por ano;

- Combustíveis e lubrificantes adulterados, roubados ou fraudados: R$ 61,5 bilhões;

3º - Bebidas ilegais e falsificadas: R$ 56,9 bilhões;

4º - Garimpo ilegal de ouro: R$ 18,2 bilhões;

5º - Tráfico de cocaína: cerca de R$ 15 bilhões;

6º - Cigarros ilegais: R$ 10,3 bilhões;

Ou seja: vender droga não é mais o núcleo financeiro do crime — hoje, é quase detalhe. Fraudes digitais, combustíveis, bebidas e ouro superaram amplamente o narcotráfico como fonte de receita e influência.

Prisão de líderes enfraquece o crime? Não mais

Operações que eliminam ou prendem lideranças, como a mais recente no Rio de Janeiro, continuam sendo tratadas como grandes vitórias. Mas o estudo mostra que, na prática, o impacto é quase nulo.

Nas palavras dos autores:

“Facções criminosas operam uma economia complexa que envolve tanto o fluxo de capital quanto a troca de mercadorias com valor de mercado, como ouro, combustíveis, bebidas, tabaco e produtos falsificados.”

A lógica mudou: as facções não dependem mais de chefes presos ou de comando local. A engrenagem financeira corre por fora das prisões — e frequentemente nasce dentro delas.

O crime é corporativo — e transnacional

O estudo reforça que as organizações não estão mais centralizadas em favelas. Elas operam em:

Como resume o relatório, o crime hoje movimenta “produtos estratégicos com alto valor agregado e baixa fiscalização”, e sua expansão vai muito além do território e da arma na mão.

Política pública olhando pelo retrovisor

Insistir apenas no confronto armado com traficantes é atacar o sintoma que sobrou, não a doença.

Enquanto parte do debate público segue presa ao imaginário dos anos 2000, o crime já se sofisticou, diversificou e globalizou. Ganha bilhões sem disparar um tiro — e financia violência com dinheiro limpo, vindo de combustível, ouro, bebidas e golpes virtuais.

A guerra às drogas, nesses termos, não só fracassou — ela ficou obsoleta.

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