Depois de engendrar uma ‘Amazon da Amazônia’ para criar um ecommerce caboclo, a Bemol, maior varejista da região Norte, agora quer bancarizar as populações do interior da floresta. A matéria é do site Reset.
A rede, que faturou R$ 3 bilhões no ano passado, começa a oferecer na próxima segunda a Conta Bemol, com aplicativo, cartão, saque, depósitos e empréstimos. Tudo sem tarifas, como em qualquer banco digital que se preze.
A conta será oferecida nos 78 dos 150 municípios da Amazônia Ocidental onde a rede já está presente, especialmente nas 37 lojas físicas – na maioria das localidades a companhia atua por meio de quiosques com representantes que usam a infraestrutura do ecommerce, mas sem uma loja.
A meta é chegar a 100 mil contas ativas até o fim do ano, e o jogo começa com 5 mil contas que foram ativadas na fase de testes. Cerca de 4 mil delas são dos colaboradores do próprio grupo, que agora passam a funcionar como agentes multiplicadores, recebendo um incentivo de R$ 5 para cada novo cliente que trouxerem para dentro de casa.
O objetivo extrapola a bancarização – por si só um desafio de grande proporção.
“Estamos matutando há muito tempo como será nossa estratégia de longo prazo no interior da Amazônia. A ideia é montar um ecossistema de relacionamento com o cliente muito profundo, que passa por varejo, farmácia, internet e conta”, diz Denis Minev, CEO da rede. “Olhando para múltiplos negócios conseguimos extrair uma rentabilidade somada de todos eles e diminuir o ponto de break even de vários.”
A Conta Bemol não é um banco mas a ideia é disponibilizar muitos dos produtos e serviços bancários. A infraestrutura do novo negócio fica por conta do banco BV, mas a interface com o cliente é toda Bemol.
Há dois mercados-alvo. No interior da Amazônia estão na mira os ribeirinhos, quem está na informalidade do sistema financeiro, muitas vezes tomando dinheiro de agiotas e que nunca apareceu na base da Serasa ou do SPC.
“É com esse público que achamos que teremos a maior vantagem. Para muitos dos nossos clientes do varejo no interior, fomos a primeira fonte de crédito formal".
As capitais também interessam, mas nelas será preciso brigar com a Caixa, por conta do pagamento de benefícios governamentais, e principalmente com Bradesco e Nubank.
O Bradesco, diz Minev, é fisicamente presente, mas é caro. Já o Nubank é isento de tarifas e tem penetração impressionante nas capitais –, além de ser muito competente em descobrir quem merece ter acesso a crédito. “No nosso centro de distribuição de Boavista, por exemplo, temos 25 colaboradores e 70% deles têm conta no Nubank.”
Em Manaus, a cliente típica do banco deve ser uma mulher de 35 a 55 anos, que compra financiado e que todos os meses vai à loja pagar a prestação. “Essa cliente tem conta em banco, mas usa como cofre. Saca o dinheiro e vem pagar o boleto na loja, não usa cartão. É a sociologia vencendo a tecnologia.”
Minev também acredita que nos ambientes urbanos a conta poderá resolver um problema de acesso à geração Z, que tem menor fidelidade à marca Bemol.