Em mais um episódio marcado por desinformação sobre meio ambiente, o apresentador Carlos Massa, Ratinho, declarou em seu programa de TV que “o Amazonas tem só 1% do globo terrestre. 1% não vai resolver nada você preservar 1%”. A fala, além de equivocada, demonstra profundo desconhecimento sobre o papel que o estado — e a Amazônia como um todo — exerce no clima, na economia e na sobrevivência de milhões de pessoas no Brasil e no mundo.
Durante o programa na noite de segunda-feira (10/11), Ratinho reduziu a importância de uma das maiores regiões de floresta tropical do planeta a uma estatística rasa e sem fundamento, ignorando consensos científicos, dados ambientais e o impacto global da destruição da Amazônia. A fala repercutiu negativamente nas redes sociais, especialmente entre pesquisadores, ambientalistas e moradores do Norte, que classificaram o comentário como negacionista e irresponsável.
Amazônia: 1% do planeta, mas protagonista do clima mundial
Ao contrário do que disse o apresentador, a relevância do Amazonas está muito longe de se limitar a uma proporção territorial. O estado abriga mais de 1,5 milhão de km², uma das maiores áreas contínuas de floresta tropical do mundo. Sua preservação influencia diretamente:
• o regime de chuvas do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil;
• a produção agrícola nacional, afetada pelos chamados “rios voadores”;
• a estabilidade climática da América do Sul;
• a regulação das temperaturas globais;
• o armazenamento de bilhões de toneladas de carbono.
Minimizar essa importância é ignorar décadas de pesquisas científicas e compromissos internacionais de combate às mudanças climáticas.
Desinformação com alcance nacional
Com audiência que atinge milhões de lares brasileiros, Ratinho contribui para espalhar uma visão distorcida sobre a Amazônia ao simplificar — e reduzir — um dos temas mais relevantes da atualidade. Em um momento em que o país enfrenta secas históricas, queimadas recordes e crises hídricas, declarações desse tipo reforçam narrativas negacionistas e enfraquecem políticas públicas de preservação.
“É impressionante como ainda existe quem trate a Amazônia como um detalhe, quando na verdade ela é uma das principais engrenagens do equilíbrio climático da Terra”, disse um pesquisador ouvido pela reportagem.
Desrespeito a quem vive e protege a floresta
As críticas também vieram de moradores do Amazonas, que lembraram que preservar a floresta não é apenas uma pauta ambiental, mas também social e econômica. Ribeirinhos, indígenas, universidades e organizações dedicam suas vidas a proteger o bioma — muitas vezes enfrentando ameaças, violência e abandono do poder público.
Para quem vive na região, ouvir que a preservação da Amazônia “não resolve nada” é mais do que desinformação: é um insulto à realidade da floresta e de seus defensores.
Uma fala que revela mais sobre o apresentador do que sobre o Amazonas
Ao reduzir a Amazônia a “1% irrelevante”, Ratinho expôs não apenas desconhecimento, mas também a velha e perigosa visão de que o meio ambiente é um obstáculo — e não um patrimônio vital.
Enquanto o mundo inteiro aponta para a importância estratégica do bioma, e países investem bilhões para conter o desmatamento, a fala do apresentador vai na contramão do que existe de mais básico em ciência, geopolítica e responsabilidade ambiental.
A Amazônia pode até representar 1% da superfície terrestre. Mas, quando se trata de clima, biodiversidade, água, carbono e futuro, ela vale muito mais do que qualquer cálculo simplista possa considerar.