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Waldery Areosa compra Ciesa e promete fazer revolução tecnológica no ensino superior

“Meu Deus nunca foi o dinheiro. A Educação é a minha razão de viver!”

Waldery Areosa está com 72 anos.
Waldery Areosa está com 72 anos.

Muita gente até hoje não entendeu quando, em 2008, o empresário do ensino superior, Waldery Areosa, anunciou a venda do Centro Universitário do Norte (Uninorte) – uma faculdade que ele construiu tijolo por tijolo em 40 anos de trabalho. Muitos se apressaram a deduzir o que poderia ter acontecido com o homem que resolveu parar quando começava a colher os frutos de tudo que plantou:

— Ele cansou, já está milionário, pra que continua trabalhando? – dizia um.

— Ah, ele decidiu aproveitar a vida! – arriscava outro.

— Ele tá quebrado e cheio de dívidas! –, dispararam os mais pessimistas.

Mas não foi nada disso. No ápice de sua trajetória ousada, a Uninorte chegou a ter 15 prédios em pleno funcionamento, 50 cursos e 35 mil alunos. Era uma carga pesada demais para o professor que vinha trabalhando pra construir um sonho desde os 21 anos – quando criou o cursinho Einstein, de pré-vestibular -, e que se sentia cansado, estressado e acabara mergulhar num estado de depressão.

— Senti que estava na hora de parar e aproveitei a boa proposta que foi feita de um grupo educacional internacional, que chegou prometendo mundos e fundos.

Agora, aos 72 anos, depois de ter morado algum tempo em Miami, ter casado duas vezes, ter sete filhos e construído o Centro Educacional Século, segundo ele a melhor escola do País, Waldery Areosa volta a surpreender ao anunciar a compra do Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (Ciesa) onde, garante ele, pretende fazer uma revolução tecnológica no ensino superior de Manaus. O empresário recebeu em sua casa o Portal MarioAdolfo.com, e revelou em detalhes como pretende fazer sua história no ensino superior do Amazonas.

Professor Waldery Areosa e Mário Adolfo - Fotos e vídeos: Mário Adolfo Filho/ marioadolfo.com

Confira a entrevista:

MarioAdolfo.com – No ápice de sua trajetória empresarial, depois de construir um verdadeiro império no ensino superior do Amazonas, o senhor resolveu dar um tempo e passou até a residir em Miami. O que tirou o senhor desse universo e o que o traz de volta?

Prof. Waldery Areosa –  Eu tive que sair da parte educacional por conta de um contrato de venda da Uninorte. Por conta desse contrato eu tive que ficar 10 anos sem poder entrar em ensino superior. Nesse período, eu fiquei à frente do Século (Centro Educacional Século é uma escola de ensino 5.0 de tempo integral, que desenvolve um universo aliado à tecnologia da Educação Infantil ao Ensino Médio), que hoje é uma realidade.  A gente pode dizer que em termos de estrutura é a melhor escola do Brasil. E em ensino também, porque o Século é uma escola para os tempos atuais e para o futuro. Então, devido a esse contrato que eu não pude trabalhar em ensino superior, fiquei 10 anos parado.  Veio a pandemia e eu fiquei trabalhando somente no colégio. Como acabou o período do contrato, agora estou retornando à Universidade.

MarioAdolfo.com – Em que momento da sua vida o senhor resolve voltar ao começo, quando poderia decidir apenas aproveitar a vida, já que trabalha com Educação desde os 21 anos?

Prof. Waldery Areosa – Este desafio agora pode ser traduzido com uma frase do Ronaldo Tiradentes (apresentador do Manhã de Notícia da rádio Tiradentes FM).  Eu saí de 72 anos para 18 anos. Estou muito empolgado para recomeçar esse trabalho e encarar esse desafio. O trabalho que está sendo feito hoje em Manaus, no campo do ensino universitário, deixa muito a desejar. Salas com 200 alunos, algumas com 300... isso não funciona! Vamos abrir dois prédios, um apenas com o curso de Direto. No outro prédio vamos trabalhar cursos tecnológicos e as futuras demandas do mercado de trabalho. Então eu estou super animado, empolgado, montando uma equipe boa. Isso fez com que eu voltasse a ser criança de novo.

MarioAdolfo.com – Os primeiros passos de sua carreira empresarial vieram de um cursinho pré-vestibular, onde os estudantes enfrentavam uma verdadeira guerra para ter acesso à Universidade.

Prof. Waldery Areosa – Sim, eu venho do cursinho pré-vestibular. Tinha 21 anos quando cursava Engenharia na Universidade do Amazonas (UA, hoje Ufam) quando montei meu primeiro cursinho, o Einstein, que funcionava inicialmente na rua Miranda Leão, Centro de Manaus. Quando chovia não funcionava porque tinha um igarapé em frente e alagava tudo. Esse início, no Einstein, foi fundamental para a formação de muitas gerações. Hoje, se você pegar os empresários de Manaus, os profissionais liberais, senadores, governadores, boa parte deles estudaram no Einstein.

Depois do Einstein eu fiz um convênio com o grupo Objetivo, de São Paulo, uma das instituições de ensino de maior referência do Brasil, que me deu a concessão para usar a marca e seu método de ensino. Passamos algum tempo com o Objetivo e logo em seguida alçamos o maior voo: a criação da faculdade. Começamos com três cursos superiores, diferente de agora que estamos começando com um Centro Universitário, podendo colocar mais cursos pois temos autonomia para isso. Naquele tempo não, nós tínhamos que pedir autorização do governo e só poderia ter dois cursos por mantenedor. Se tivesse 20 cursos, você teria que ter 10 gestores, imagina esse trabalho de  ter tantos gestores. Além disso, naquele tempo, Universidade não poderia ter fins lucrativos. Quando esse sistema foi instalado no tempo do Sarney, todas as faculdades funcionavam sem fins lucrativos.

MarioAdolfo.com – E isso era possível, administrar uma faculdade sem fins lucrativos?

Prof. Waldery Areosa –  Aí é que está... como você vai trabalhar em um negócio sem fins lucrativos? Impossível. Quando o presidente Fernando Henrique foi eleito, ele acabou com isso, e as faculdades passaram a ter fins lucrativos. E eu transferi a Uninorte para esse modelo, foi quando ela expandiu.

“As universidades estão pagando R$  30,00 a R$ 40,00  para professor com mestrado e  doutorado. Isso não paga uma aula. Isso é até brincadeira com os professores. Vamos mudar” (Waldery Areosa)

MarioAdolfo.com – E por que resolveu dar um tempo no momento em que colhia os frutos das sementes que plantou?

Prof. Waldery Areosa –  Aí não sei o que aconteceu comigo. Mas tive uma série de problemas, uma sobrecarga de trabalho, estresse... e nesse processo todo a gente acaba entrando em depressão. Senti que tinha que dar uma parada. Foi quando decidi vender a Uninorte.

MarioAdolfo.com – Nesse momento de expansão, de metas alcançadas, a Uninorte chegou a ter quantos cursos e quantos alunos universitários?

Prof. Waldery Areosa –   Salvo engano, chegamos a ter 50 cursos, 35 mil alunos, 15 prédios, era uma loucura! Todo dia tinha problemas para resolver. Aí recebi uma proposta boa financeiramente. Era uma proposta boa porque no contrato, além da venda, eu ficaria 15 anos com os prédios alugados e isso valia mais que o valor da faculdade, além de uma série de promessas. Quando o pessoal trouxe uma série de promessas, como mandar os professores estudarem no exterior, fazer mestrado, doutorado, especialização, que iriam investir nisso... Acreditamos, afinal, a Laureate Education é uma empresa americana. Mas, no final, esses caras demitiram todo mundo, não levaram ninguém para fazer curso no exterior. Na verdade, era uma empresa praticamente financeira, que só pensava em lucros e na Educação não funciona assim. Na Educação, primeiro você investe em qualidade para depois você pensar quanto vai ganhar.

MarioAdolfo.com – Qual o primeiro passo da revolução que o senhor pretende fazer no Ciesa?

Prof. Waldery Areosa – Vamos reativar o nome, já estamos trabalhando para isso. Começar, como já falei, com dois prédios, um só para direito, mestrado e doutorado. O outro só para cursos 80% tecnológicos, já pensando no futuro, porque hoje a gente acorda e o mundo já mudou. É a inteligência artificial, novas tecnologias que mudam a cada momento. E isso é coisa que não vai parar.

MarioAdolfo.com – Professor, por que a escolha pelo Ciesa?

Prof. Waldery Areosa – O Ciesa foi uma grande faculdade, aliás, foi a primeira faculdade particular de Manaus. Foi uma oportunidade que abriu em Manaus. O Ciesa tem um bom nome, principalmente em Direito. Os profissionais que saíram de lá, fizeram um bom curso. Chega um período que acontece na vida da gente que todos envelhecemos, não é? Isso é natural. E o Luiz Antônio, com muita coisa pra fazer, resolveu vender o Centro Universitário e nós aproveitamos a oportunidade para possibilitar a minha volta. Se eu fosse começar a criar um Centro Universitário, levaria 10 anos só para aprovar todos os cursos, depois pedir para transformar em Centro Universitário. Isso tudo demoraria mais de 10 anos. Pelo fato do Ciesa já estar pronto, isso encurtou o tempo. Esse foi o principal motivo da escolha.

MarioAdolfo.com – O que muda no perfil do Ciesa a partir de agora?

Prof. Waldery Areosa – A faculdade estava oferecendo mensalidades extremamente baixas, como por exemplo, R$ 250,00 para o curso de graduação presencial. Esses valores eram insustentáveis, tornando inviável a continuidade. As universidades, em geral, estão pagando cerca de R$ 30 por aula, chegando a R$ 40 para professores com mestrado ou doutorado. Esses valores não são adequados para uma remuneração justa. No Centro Educacional Século, por exemplo, pagamos mais aos nossos professores do que as universidades. Buscaremos investir significativamente na educação, reconhecendo a importância do professor como a principal ferramenta para manter nossos alunos envolvidos e motivados a estudar.

Entendemos que cobrar valores irrisórios, em conformidade com as práticas questionáveis do mercado das Instituições de Ensino Superior, não é uma abordagem sustentável. Nosso objetivo é proporcionar um ambiente educacional de qualidade, que promova o desenvolvimento acadêmico e esteja em sintonia com as demandas do mundo contemporâneo.

A partir de agora, o Ciesa seguirá as transformações globais, investindo de maneira significativa na educação.

MarioAdolfo.com – É lógico que, na Educação, é fundamental investir na qualidade de ensino e na estrutura física da escola, mas, em relação à vida do professor pessoal e profissional do professor, pouco se pensa. À frente do Ciesa, o que o senhor pretende fazer neste sentido?

Prof. Waldery Areosa – O trabalho tem que ser pago com dinheiro, certo? Quando eu tinha a Uninorte, meus profissionais diziam o seguinte: “aqui tem duas coisas certas: tempo de aula e o pagamento, que sai na data certa”. Nunca atrasei um dia a folha de pagamento. Ao contrário, antecipava.  Hoje você tem a possibilidade, além de pagar bem.

MarioAdolfo.com – Quando o senhor fala em pagar bem, pensa em quanto?

Prof. Waldery Areosa – Eu falo em algo em torno de R$ 80 a aula. O Século se aproxima disso, E por que essa preocupação em pagar bem o professor? Porque o professor é o cara que segura os teus alunos, o professor é o cara que precisa ter o prazer de dar aula, vontade de ensinar, de usar o laboratório. O motivo de eu voltar para o ensino superior também é esse, pelos professores, que têm saudade do tempo que trabalharam para mim. “Quando é que o professor Waldery volta?”; “O professor Waldery está vindo aí!”. E por que essa expectativa? Porque eu não sou uma empresa financeira. Não estou começando uma faculdade nova pensando somente em ganhar dinheiro. O meu dinheiro eu já ganhei. Então, estou retornando a uma Universidade para fazer um belo trabalho em Manaus, coisa que não está sendo feita. Dar valor aos professores, valorizar o seu trabalho e dar um bom ensino aos nossos alunos. Para você ter uma ideia, já tenho mais de 300 currículos de professores para poder analisar, filtrar os bons e contratar com aumento os salários. Mesmo que isso represente um investimento muito alto, sem lucros no começo, a empresa tem como segurar o custo.

MarioAdolfo.com – O senhor é um homem realizado hoje por tudo o que fez na vida, como empresário, como educador e como homem?

Prof. Waldery Areosa – Eu sou um menino órfão. Perdi meu pai aos três anos e minha mãe, aos cinco. Nasci em Iranduba e quando minha mãe estava morrendo me doou para uma família de Manaus. Uma família que me colocou para estudar, me alimentou e me deu um lar. Eu também ajudava vendendo picolé para ir ao cinema. Mas não foi fácil. Quando fui estudar em Goiânia, cheguei a morar na rua. Tinha um bar com uma calçada boa, onde eu jogava um lençol e dormia. Até o dia em que, por pena, o dono do bar perguntou se eu queria um emprego. Isso me ajudou muito porque pude continuar os estudos e no terceiro ano me tornei o melhor aluno do Liceu de Campinas (escola de Goiânia), onde o pessoal me conhecia como índio. E aí, quando faltava professor eles diziam “chama o índio!”. Com isso eu faturava algum dinheiro. Hoje, graças a Deus, eu cheguei num ponto que posso ser considerado como um homem rico. Mas meu Deus não é o dinheiro. Vivo bem, meus filhos também, cuido de pessoas que precisam, ajudo instituições de caridade, trato meus funcionários com dignidade e ajudo financeiramente quando eles precisam.

Sou feliz não por ter casa bonita, carros de luxo... isso não faz diferença nenhuma.  Me sinto realizado não pode ter ganhado dinheiro, mas sim aprender com a vida que, repito: Meu Deus não é o dinheiro!

Márioadolfo.com – O que esperar do futuro?

Waldery Areosa - Vem aí uma revolução tecnológica no ensino superior. Aguardem!

Waldery com Mário Adolfo Filho e Mário Adolfo
Waldery com Mário Adolfo Filho e Mário Adolfo
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