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XI Jitou acontece no Acre trazendo à tona o tema das pedagogias da floresta

A XI Jornada Internacional do Teatro do Oprimido e Universidade (XI Jitou) homenageou o aniversário de Augusto Boal e abriu o debate sobre o tema: “Teatro do oprimido: cultura amazônica e conexões entre saberes ancestrais”.

As Jornadas Internacionais do Teatro do Oprimido e Universidade (Jitou) são um evento acadêmico para reflexão da teoria e da prática do teatro do oprimido - Fotos: Luiz Moura/ Ascom

A Universidade Federal do Acre (Ufac) foi a anfitriã da XI Jornada Internacional do Teatro do Oprimido e Universidade (XI Jitou), um evento contemplado pelo edital CAPES PAEP/2023, que ocorreu no Acre, neste mês de março. A tônica do evento foi o debate sobre as pedagogias da floresta, que vem sendo encampadas pelo Grupo de Estudos em Teatro do Oprimido (GESTO) da Floresta, o qual surgiu no ano de 2017, com a tônica de chegar a uma epistemologia dos povos da floresta.

O professor da Ufac, coordenador da XI Jitou, Flavio da Conceição, é um dos fundadores do Grupo de Estudos em Teatro do Oprimido (GESTO), que nasce na Unirio, em 2012, torna-se um grupo oficial do CNPq em 2017 e, este ano, ganha sua primeira especialização, na Universidade Federal da Bahia (UFBA). O Gesto da Floresta, explica: “é um braço, uma vertente do Gesto, que pensa a partir do conhecimento dos povos da floresta”, afirma e acrescenta: “a nossa especialidade enquanto Teatro do Oprimido (TO) é dar-nos a entender como ele tende a ser afetado pelo conhecimento das comunidades tradicionais, ribeirinhas, indígenas, dos povos da floresta e das plantas que, há milênios, reconhecem como professoras”.

O vice-coordenador do GESTO, no CNPq, é o professor da Universidade Federal do Sul e Sudoeste do Pará (Unifesspa), César Paro. Ele coordenou a primeira Jitou Norte, que ocorreu em Marabá, em 2022. “A ideia das Jitou Norte é fazer com que o Norte ‘Suleie’ as práticas de TO, pelo contato com a natureza e com os saberes dos povos originários”, afirma César Paro.

Em seu discurso de abertura, a professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará (UEPA), Maria Betânia Albuquerque, do Grupo de História da Educação na Amazônia, a qual coordena uma linha de estudos em processos educativos que acontecem em ambientes fora da escola: terreiros, quintais, florestas, rios, igrejas, teatro, cinemas, etc. explica que, essa epistemologia entende como lugar de aprendizagem ambientes que, postos em perspectiva na Amazônia, são capazes de fazer perceber como as cosmologias amazônicas entendem o modo como humanos, animais e espíritos vêem-se a si mesmos e aos outros seres do mundo.

Ela ministrou palestra sobre o tema: “Aprender com as plantas no antropoceno: em busca de uma pedagogia da floresta”, destacando que os seres humanos aprendem com a natureza e todos os seres vivos.
Pesquisadores do Chile, da Guatemala, do México, da Bolívia, da Inglaterra, com foco na pesquisa sobre como o teatro do oprimido pode desenvolver vivências tradicionais voltadas à percepção de realidades amazônicas, sua estética e linguagem, estiveram presentes. “Este foi um ponto de partida e uma espécie de carimbo que o Gesto da Floresta deixa nas experiências das Jornadas Internacionais de Teatro do Oprimido e Universidade, em sua trajetória pelo Norte”, afirma Flavio da Conceição. Das Jitou, surge a Frente Norte das Resistências, que reúne professores das universidades do Norte do Brasil. A perspectiva agora é que a próxima Jitou possa ocorrer no Amazonas, em 2026.

As Jitou trazem à cena o resultado dessas experiências, hoje aplicadas em programas de ensino - Luiz Moura/ Ascom

O que é?

As Jornadas Internacionais do Teatro do Oprimido e Universidade (Jitou) são um evento acadêmico para reflexão da teoria e da prática do teatro do oprimido, realizado por pesquisadores, professores, multiplicadores, curingas do teatro do oprimido, pessoas do movimento social. Este evento foi criado porque não existia e ainda hoje não existe nenhum outro evento que fale e discuta o teatro do oprimido, suas técnicas e metodologia, no Brasil.

Em cena

Os curingas são formados na metodologia do teatro do oprimido, no Centro de Formação em Teatro do Oprimido (CTO), que surgiu em 1986, fundado pelo teatrólogo, Augusto Boal, como um centro de pesquisa e difusão do teatro do oprimido, em laboratórios e seminários, ambos de caráter permanente, para revisão, experimentação, análise e sistematização de exercícios, jogos e técnicas teatrais.

As Jitou trazem à cena o resultado dessas experiências, hoje aplicadas em programas de ensino, pesquisa e extensão de diversas universidades, do Brasil e do mundo. São um espaço aberto a manifestações, performances, shows, e espetáculos que se traduzem am aulas sobre temas como “A narco-estética do luto”, apresentada pelos chilenos, Roberto Pino e Stephânia Vinet, em oficina de Introdução ao TO Curiosidade e Autonomia: teatro das pessoas oprimidas e sua aplicação em contextos educacionais.

Além das oficinas, ocorreram os espetáculos: “Ecos Ancestrais”, do Allegriah Grupo de Arte e Cultura/em parceria com o Arte e Comunidade (ESAT/UEA); “Serpente cósmica”, uma performance dirigida por Luiz Cláudio Cândido, que é parte do processo criativo desenvolvido pela pesquisa de doutorado, com tema: “Boiúna: um mergulho poético na dramaturgia onírica das águas”, de Tânia Vilarroel Andrade, orientado pela Drª Alice Yagyu, na Escola de Comunicação e Arte (ECA-USP), a performance “Casa de Sananga: contos e chás, que vislumbra uma prática do “conto como terapia” na abordagem das plantas professoras, do formando em Artes Cênicas da UEA, Felipe Fernandes, e um show de música de rezo Huni Kuin.

Além disso, foram lançados, em visita à comunidade tradicional, Colônia Cinco Mil, os livros “Olho da mata: manejo do cipó-titica e sementes nativas na FloNA do Purus”, organizado por Graça Mitoso, “Aglomeração poética: vozes da introspecção” e “Entre palcos e páginas: versos de cena e tinta”, de Jackeline Monteiro; e “Poemas na cabeça”, de Deihvisom. A Escola de Arte e Saberes Florestais Jardim da Natureza da Floresta Nacional do Purus, parceira do Programa de Ensino, Pesquisa e Extensão Arte e Comunidade (ESAT/UEA), participou do encontro, trazendo alunos e professores.

Na abordagem das plantas professoras, do formando em Artes Cênicas da UEA, Felipe Fernandes e um show de música de rezo Huni Kuin - Luiz Moura/ Ascom
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