O governador de Minas Gerais e pré-candidato à Presidência em 2026, Romeu Zema (Novo), voltou a defender a transferência de integrantes do PCC e do Comando Vermelho para presídios de segurança máxima semelhantes ao modelo do Cecot, em El Salvador. E, sem apresentar estudos ou impactos, sugeriu a criação de um “Cecot brasileiro” no meio da Floresta Amazônica, totalmente isolado, com acesso apenas por via aérea e vigilância armada permanente.
A proposta, apresentada em entrevista concedida nesta quarta-feira (12/11), trata a Amazônia como se fosse um território vazio, um espaço onde o país poderia simplesmente despejar faccionados indesejados. Zema descreveu a estrutura como “uma Alcatraz da selva”, sugerindo que eventuais fugitivos “não sobreviveriam na floresta”.
A declaração carrega um estereótipo antigo, equivocado e perigoso: o de que a Amazônia é um “não-lugar”, sem gente, sem vida urbana e sem comunidades. Ao reduzir a região a depósito penal, Zema ignora milhões de brasileiros que vivem ali, incluindo ribeirinhos, povos indígenas, moradores das capitais e cidades amazônidas que seriam diretamente impactadas por uma unidade dessa dimensão.
Além disso, a fala revela uma visão de país que trata a Amazônia como área descartável, disponível para resolver problemas de outras regiões. Não considera os riscos ambientais, logísticos, sociais e de segurança que um presídio desse tipo geraria, nem a complexidade geopolítica envolvida na maior floresta tropical do planeta.
Zema também detalhou a ideia de firmar um convênio internacional com El Salvador para enviar criminosos brasileiros ao Cecot, projeto que classificou como “uma beleza”. O presídio salvadorenho, inaugurado em 2023, tem sido alvo de denúncias de violações de direitos humanos e críticas de organizações internacionais.
Ao transformar a Amazônia em palco de retórica punitivista e soluções fáceis, Zema ignora a realidade, a gente e a importância estratégica da região. E expõe uma visão que diz muito sobre como ele enxerga o Brasil, e sobre quem ele escolhe enxergar.
Governador já expôs preconceito outras vezes
Em entrevista ao O Estado de S. Paulo, em 2023, Zema já comparou as regiões Norte e Nordeste a “vaquinhas que produzem pouco e são tratadas melhor que as demais”. A fala gerou forte reação política e foi vista como preconceituosa e ofensiva.
Zema afirmou que o Sul e o Sudeste deveriam assumir o “protagonismo político” do país, minimizando a importância e o peso eleitoral das demais regiões.
Na mesma entrevista, o governador insinuou que pobreza e desigualdade seriam problemas exclusivos do Norte e do Nordeste, afirmando que no Sudeste “não tem comunidade” e que “todo mundo vive bem”, ignorando favelas, precariedade urbana e a realidade social das grandes metrópoles.

