Com exposição marcada para, Deruta, na Itália, passagens por galerias de Nova York, França e telas em cenário de novelas da Globo, o artista plástico amazonense vive seu melhor momento
(Rio de Janeiro) – Já andaram dizendo por aí que, muitas vezes, é a ousadia e não o talento que leva um artista a ocupar seu lugar no palco. O artista plástico amazonense, Arnaldo Garcez, 64, tem os dois. Consciente de que santo de casa não faz milagre, partiu para o Rio de Janeiro em 1979, levando na bagagem o sonho de escrever sua história através do desenho e da pintura, desejo acalentado desde 1977. Disposto a vencer na cidade que ostenta a fama de ser a metrópole com mais artistas por metro quadrado do país, Garcez estudou desenho, pintura, escultura e gravura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage.
Inquieto e disposto a furar o bloqueio que geralmente é imposto a artistas principiantes, viajou em 1983 para a Alemanha onde fez pesquisas sobre o expressionismo e a litografia, técnica originária daquele país. De volta ao Brasil, em parceria com a Funarte – na gestão de Paulo Kerkenhoff –, criou a oficina de arte “Urucum e Carvão como Elemento de Linguagem”. Nesse momento, Garcez começa a trilhar o caninho de volta às suas origens, ao direcionar seu trabalho para uma técnica de pintura utilizando materiais simples e de fácil acesso da população amazônica como o urucum e o carvão.
Hoje, respeitado por quem já pousou os olhos sobre suas telas e captou a sua rebeldia de traços, tintas e explosão de cores o amazonense Arnaldo Garcez vem expondo pelo mundo e “expõe” há pelo menos 20 anos, telas em cenários de novelas memoráveis na da Rede Globo, como a de agora, Travessia. Encontramos Arnaldo Garcez numa sexta-feira em dos botequins mais festejados de Ipanema, o Popeye onde batemos um papo cheio de novidades, velhas lembranças, história de vida e sonhos para o ano novo que está chegando. Tudo isso entre um chopp e outro. Não podia ser diferente. Confira:
Blog do Mário Adolfo – Em que projeto você trabalho vem trabalhando agora, neste final de ano?
Arnaldo Garcez, artista plástico – Estou com o pé na estrada rumo à cidade de Deruta, que fica na região de Úmbria, Província Perúgia (Itália), famosa pelas porcelanas. Lá estou com a data marcada para uma Exposição em Abril 2023, como convidado da Associação dos Artistas Plásticos de Perugia.
BMA – Podemos dizer, então, que a sua arte cruzou as fronteiras e ganhou o mundo?
Garcez – Não diria ganhar o mundo, pois ainda existem muitas metas a alcançar e muito a aprender. Mas posso dizer que cheguei alguns lugares que me realizam como artista. Fiz exposições no Artexpo New York, evento de grande importância no calendário artístico cultural, onde encontram-se artistas e galerias de diversos países. Venho expondo meus trabalhos, desde 2007 em galerias importantes de São Paulo, Rio, Brasília, Miami, na Organização das Nações Unidas (ONU). Recentemente participou de exposições na Itália, em Nápoles no Centro Cultural Cassina Pompeana, , além de hoje ser membro da Galeria Carré D’Artistes da França.
BMA – Ter obras compondo o cenário de novelas da Globo de certa forma popularizam sua pintura ou isso é inferente a uma parcela do público que nem sempre se interessa por arte.
Garcez – Acredito que é muito importante justamente para despertar esse interesse e tornar conhecida a minha obra, num veículo que chega a todos os tipos de camadas sociais. Nestes últimos anos, meus trabalhos fizeram parte na composição de cenários das novelas e puderam ser vistos em “Cheias de Charme”, no quarto da personagem Chayenne; E diversas outras telas puderam ser vistas em Em “Passione”, “Caminho das Índias”, “Beleza Pura”, “Páginas da Vida”, “América” , “Belíssima”, “Senhora do Destino” , “Da cor do Pecado” e “Mulheres Apaixonadas”. Ah, sim, minhas telas também ilustraram o cenário do Apartamento de Betina (Isis Valverde ) em “Amor de Mãe”.
BMA – Seu quadros também estão no cenário de Travessia, certo?
Garcez – Sim, no cenário principal . Eu acho que sou o único artista que ficou dentro da TV Globo, se somar todos os projetos de novelas.
BMA – Por que você decidiu deixar Manaus? Tem a ver com aquela máxima de que “santo de casa não faz milagre” ?
Garcez (risos) – A minha relação com Manaus é de amor e de críticas, jamais ódio. Afinal, é a minha cidade, onde fiz minha primeira exposição, com o incentivo do pessoal do Clube da Madrugada, onde Jorge Tufic (escritor) foi o primeiro cara que me incentivou. A primeira a primeira amostra do meu trabalho, ainda em desenho primários, aconteceu no rol da Pinacoteca depois, por volta de 1978. Mas notei muito cedo que as coisas caminhavam lentamente, às vezes nem aconteciam. Então, a minha saída de Manaus foi uma saída necessária, porque nessa época a gente não tinha muita estrutura e muito menos conhecimento para alçar grandes voos. Era tudo muito limitado. Eu lembro que eu tinha uma banda, fiz música, fiz poesia fiz tudo, mas era uma coisa muito muito complicada e a partir desse momento eu saí e foi em busca da vivência e do conhecimento para fazer o que eu queria fazer.
BMA – Em que momento suas raízes amazônicas e a identidade dos povos da floresta começa a influenciar sua arte?
Garcez – Amazônia até hoje ainda é vista como estado estático. Sempre foi assim. As pessoas ainda olham a Amazônia como uma região intocável, aonde você não pode mudar nada. Não é assim,. Tudo pode ser tocado, desde que não destrua. É da natureza do homem mudar as coisas. O homem pode mudar tudo, inclusive a consciência. No instante em que isso aconteceu comigo, decidi estudar e voltar a fazer minhas pesquisas. Foi aí que nasceu o projeto com urucu e carvão, como um elemento de linguagem para dar informações sobre nossas raízes amazônicas.
BMA – Aos 64, quem é Arnaldo Garcez?
Garcez – Um artista que continua seguindo seu destino, tocando seu trabalho de forma orgânica, independente, cumprindo seu ciclo de vida. Seguindo a história que Deus me proporcionou, por isso dou grato. O futuro é uma ilusão de desejo variáveis, capaz de destruir tudo inclusive o amor. Artista só existe quando seus valores estão somados às necessidades do seu povo.