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BR-319: O Amazonas não pode mais esperar

Obra de drenagem elimina atoleiros, pontes avançam, e senador Eduardo Braga lidera esforços para pavimentação definitiva da estrada que conecta Manaus ao restante do país

Os 200 km iniciais saindo de Manaus e os 200 km finais chegando a Porto Velho (RO) possuem boas condições - o problema ainda é o trecho do meio - Foto: marioadolfo.com

O Amazonas está cansado de esperar. Cansado de ver caminhões atolados, vidas interrompidas por falta de acesso e promessas empacadas no lamaçal da BR-319. A estrada federal que liga Manaus a Porto Velho tem 870 quilômetros — e apenas 400 deles seguem como o maior entrave logístico da região Norte.

Mas o jogo começou a virar.

Pela primeira vez em anos, os amazonenses atravessam o fim do inverno amazônico com menos transtornos. Os temidos 11 atoleiros que historicamente paralisavam a rodovia desapareceram. A mudança se deve à instalação de infraestrutura temporária com tecnologia de drenagem e base estabilizada, 'rachão' — uma mistura de pedras, seixos, brita e areia, que substitui o barro que tornava a pista escorregadia, lisa e intransitável.

Esse avanço técnico só foi possível porque, pela primeira vez, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) obteve licenças ambientais específicas para obras de micro e macrodrenagem na BR-319. Isso evitou que a rodovia fosse, mais uma vez, transformada em uma armadilha de lama entre os meses de abril e junho.

A trafegabilidade neste inverno amazônico também se beneficiou da revitalização das pontes de madeira: mais de 60 delas receberam novas vigas e pranchões, substituindo a estrutura fatigada por material recém-serrado e resistente. O resultado é uma passagem menos arriscada e muito mais fluida, capaz de suportar o peso dos caminhões que alimentam o comércio e a indústria do Amazonas.

"Nós vamos liberar essa estrada. A BR-319 vai sair do papel", tem repetido o senador Eduardo Braga (MDB), em Brasília e nas redes sociais. Ele foi o responsável por incluir uma emenda decisiva na nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental, que isenta de licenças complexas as obras de manutenção e melhorias em rodovias já existentes - como é o caso da BR-319. A proposta foi aprovada tanto na Câmara quanto no Senado e remove parte do cipoal burocrático que atrasava até mesmo ações básicas de reparo.
Braga durante fiscalização das obras de duas pontes em reconstrução - Foto: Ascom

Pontes em reconstrução

E não é só. Duas pontes cruciais estão em reconstrução: a do rio Curuçá, com entrega prevista para setembro, e a do rio Autaz Mirim, que será finalizada ainda em 2025. Com isso, a fluidez de veículos ao longo da BR já é visivelmente melhor. O trânsito segue liberado, inclusive para caminhões pesados, como os que escoam insumos e mercadorias do Distrito Industrial de Manaus.

— Quando estiver pronta, a ponte sobre rio Curuçá terá sido ampliada para 250m – informou Orlando, garantindo que a de Autaz Mirim também está sendo ampliada.

Os tabuleiros das pontes - superfície por onde passam os veículos -  já estão concretados e as obras caminham para a estapa final.

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O gargalo dos 400 km

A BR-319 é, hoje, a única esperança de ligação terrestre do Amazonas com o restante do Brasil. Dos cerca de 870 km totais, os 200 km iniciais (saindo de Manaus) e os 200 km finais (em Rondônia) já são trafegáveis em pista consolidada. O problema se concentra nos 400 km centrais, entre o rio Igapó-Açu e Humaitá — uma região de solo sensível, em área de floresta densa e com forte pressão ambiental.

Mas é exatamente por isso que a presença do Estado é ainda mais necessária. O isolamento não protege: ele apenas condena. Sem estrada, não há fiscalização, não há alternativas logísticas, não há escoamento da produção. A Zona Franca sofre. As empresas pagam mais caro. Os produtos chegam depois. A vida fica mais difícil.

"Preservar a floresta não significa abandonar o nosso povo", disse Braga em audiência no Senado, ao defender que a BR-319 seja tratada como obra estratégica nacional, não como vilã ambiental.

O desafio do trecho do meio

Estrada reduzirá preços

Corroborando com os esforços de Braga, o presidente da  Câmara de Dirigentes Lojistas de Manaus (CDL-Manaus), Ralph Assayag, aponta que a estrada precisa estar viável e em pleno funcionamento durante todo o ano com a infraestutura adequada e o mais rápido possível.

Ele esteve na BR-319 em maio junto com o vice-presidente da CDL Manaus, Antônio Kizem, Ambos representaram os lojistas da capital e do interior, que dependem diretamente dessa rodovia para o abastecimento e escoamento de produtos. Ralph explicou de forma taxativa que a estrada reduzirá o custo de vida da população do Amazonas.

"A redução de preço que vai acontecer principalmente na área de perecíveis. O iogurte, a carne, o frango... reduz o preço porque nós vamos pagar menos vindo pela BR-319. E mais, automaticamente a concorrência aumenta. As balsas que saem de Porto Velho e Belém vão ter que reduzir seus preços, por causa da BR-319. Com isso, o preço para você, final, vai ficar melhor", explica o dirigente lojista.
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Uma estrada, muitas vidas — sem mais pretextos

Chega de empurrar a Amazônia para o rodapé da agenda com novos carimbos e prazos que se estendem como um tapete de lama sobre o qual ninguém passa. O que paralisa a BR-319 não é a falta de diagnóstico: são décadas de “estudos complementares” que se acumulam enquanto a conta da comida e do combustível estrangula famílias de Manaus. Cada mês perdido em relatórios é um inverno inteiro em que perecíveis apodrecem na balsa, remédios atrasam e emergências médicas dependem de rotas aéreas caras demais para quem vive do salário mínimo.

Preservar a floresta não significa condenar seu povo ao isolamento - como aconteceu em 2021 com a crise de oxigênio durante a pandemia de Covid-19. A engenharia já provou — com rachão, microdrenagem e pontes refeitas sobre o Curucá e o Autaz-Mirim — que há técnicas seguras para manter a estrada respirando mesmo na estação das águas. Empurrar o asfaltamento para depois, sob o verniz de “responsabilidade socioambiental”, só mantém a selva entregue à lei da grilagem, porque onde o Estado não chega, o crime ocupa. É hipocrisia travestida de cautela.

Como lembra o senador Eduardo Braga, “a BR-319 não é só um caminho; é a jugular logística de um estado inteiro”. Foi por isso que ele cravou na nova lei do licenciamento a dispensa de burocracias absurdas para obras de manutenção. Agora que a legislação mudou, as pontes se erguem e o barro recua, resta apenas coragem política para ligar os 400 km centrais ao asfalto já existente nos dois extremos.

Quem ainda insiste em  excursões fotogênicas aos atoleiros para capitalizar votos precisa entender: aqui não há palco para bravatas eleitoreiras, há vidas em jogo. O Amazonas não pede um “libera-geral”; exige o direito de ir e vir em condições dignas, com floresta em pé, emprego de pé, dignidade de pé. A BR-319 não é promessa de campanha—é urgência civilizatória. E urgências, por definição, não podem esperar o próximo ciclo eleitoral.

Trecho Charles começa a ser pavimentado neste verão
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