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CO cantor e compositor Chico da Silva, autor de sucessos como, ‘Sufoco’, ‘Vermelho’, ‘O amor está no ar’ e muitos outros, é símbolo vivo da cultura e da arte amazonense. O artista, que passou boa parte da sua carreira no Rio de Janeiro, tomou gosto pelo samba e se tornou famoso nacionalmente após a cantora Alcione ter gravado ‘Pandeiro é Meu Nome’, em 1977, e ‘Sufoco’, em 1978. A fama o levou a participar veemente de programas da Rede Globo, onde participou da abertura do Programa Fantástico, ainda em 1978.

De bermuda branca, camisa do Festival de Parintins e sandálias do seu time de coração, o Botafogo, Chico recebeu o Blog do Mário Adolfo em sua casa e revelou que prefere o samba à toada e que o cidadão Francisco da Silva é Caprichoso por nascença, embora imparcial, quando compõe. Chico enfrentou muitas batalhas, entre elas, um câncer na garganta, em 1988, que o afastou por um tempo dos palcos e o consagrou compositor de toadas.

Confira a entrevista.

Blog do Mário Adolfo – Boa parte das pessoas lhe conheceram primeiro como sambista, através de “Pandeiro é meu nome”, “Sufoco”… mas quem veio primeiro Chico sambista ou compositor de toada? Você se identifica mais com a toada ou com o samba?

Chico da Silva — O Chico sambista veio primeiro, portanto, me identifico mais com o samba. Tive grande influência do meu pai que cantava muito samba do Roberto Silva, Geraldo Pereira, Noel Rosa, Chico Alves… Meu primeiro contato com música e na noite foi com o samba, que surgiu na minha vida de uma maneira natural. O samba, no fundo, é uma toada. A adaptação do samba para toada é muito fácil. Mas da toada para o samba, não. Tenho um desdobramento muito grande com o samba, com a toada, não. Me sinto bem melhor no meio do samba.

BMA– Você ainda encontra hoje algum traço no boi de sua infância? Ou você acha que a festa está desfigurada?

CS — O que houve foi que o boi cresceu. O boi bumbá era um boi de rua, que saia ali nos terreiros e todos os componentes que existiam no boi no passado – exceto as figuras femininas que foram introduzidas ao longo do boi – existem até hoje. O folclore como cultura tem uma abertura para outras manifestações. Se você observar, o boi bumbá tem várias identificações como marujada, caboclinho, até o reisado com aquelas fitinhas, que representa o Dia de Reis. O boi ainda não está inserido nos desencontros sociais, mostra mais a regionalidade. Já o samba fala mais dos desencontros sociais.

BMA – É claro que a festa do boi cresceu, se transformou em um grande espetáculo para o turista ver, gerando emprego renda, mas ao mesmo tempo afastou o parintinense da festa que ele criou. Como você avalia essa transformação?

CS — Esse é o ponto mais bonito do festival folclórico. A arte faz com que tudo cresça, sobretudo em termo de cultura. Isso cria curiosidade, além do mais de uma arte fina, diferenciada, feita pelos nossos artistas de Parintins que são fabulosos. Essa arte atrai, naturalmente, os grandes empresários que querem mostrar as suas demandas comerciais associadas à arte, no caso as grandes empresas que patrocinam o festival.  A arte atrai os turistas, que têm dinheiro e gastam durante a festa, o que gera renda. Acredito que essa foi a sobrevivência do Festival como um todo. Se não fosse essa erupção econômica, talvez ele tivesse se tornado comum como tantos outros. Se Parintins dependesse só de dinheiro público seria uma catástrofe.

BMA – Nas grandes cidades onde têm um time com camisa vermelha, a torcida canta a sua toada “Vermelho”?

CS — Sim. Sei de muitos relatos, uns são até muito engraçados. Portugal, no Benfica, que é vermelho o time; em Porto Alegre, no Internacional; em Natal, no América, que soube disso lá por causa do Alfredo Nascimento que é de lá e já jogou futebol.

BMA – Dizem que Vermelho toca até na Rússia, Portugal… você recebe os direitos autorais do exterior?

Chico da Silva — Sim, recebo. Só não recebo do boi. O boi não paga os direitos autorais para mim. Sou filiado à Universal Music e a Warner Chappell e essas empresas vão buscar esses direitos autorais para mim até no fim do mundo.

BMA – Muitas pessoas falam que você é Caprichoso, porque foi criado praticamente na comunidade do boi azul. Mas houve um momento da sua carreira que foi mais ligado ao Garantido. Existe essa torcida por boi ou a relação é somente profissional?

CS — Olha, o meu boi de origem é o Caprichoso, sempre foi. A minha mãe, inclusive, foi uma das fundadoras do Caprichoso, por isso o cidadão Francisco Ferreira da Silva é Caprichoso de nascença, mas, o cantor e compositor Chico da Silva é arte, é o festival, é tudo. Então tive a felicidade de compor para os dois bois, inclusive, em concorrer em toadas. Em três oportunidades, concorri comigo mesmo nos dois bois, em uma noite. Sou o único cantor que sai na mesma noite nos dois bois e sou querido pelos dois bois.  A minha maior riqueza  é essa aceitação nos dois bois. Parei com isso, porque acho que não tem nada a ver.  O Caprichoso e o Garantido nasceram na mesma fonte, que foi o Boi Galante.

BMA – Você deixou de compor toada? Guarda alguma mágoa dos organizadores dos dois bois que parecem não valorizar o trabalho dos artistas como você Emerson Maia, e outros grandes compositores de toadas?

CS— Não componho mais toadas. Os dirigentes dos bois não dão a mínima para os autores, especialmente, para os mais antigos. Você sempre tem que dar oportunidade aos jovens, mas tradição tem os ingredientes que não podem deixar de estar presentes. O Garantido não me paga direito de arena, direito das minhas músicas e estou com um processo aí que está rolando na justiça, inclusive o Garantido está proibido de cantar as minhas músicas. Mas eu não componho nem para o Garantido e nem para o Caprichoso, porque eles querem que as nossas toadas sejam apreciadas pelo Conselho de Arte. Sou um pouco marrento nesse aspecto. Músicas lindíssimas foram rejeitadas pelo boi e que depois se tornaram sucesso. Vermelho é uma delas. 

Texto: Luana Dávila

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