Um problema técnico na indumentária da Cunhã-Poranga Marciele Albuquerque deixou os torcedores mais atentos tensos durante a apresentação na arena, na segunda noite do Boi Caprichoso no Festival de Parintins. A costeira de Marciele praticamente ‘arriou’, o que fez com ela optasse por evoluir sem a costeira. Na raça, ela não deixou o ritmo cair e, sem o vestuário, conseguiu dar movimentos mais cênicos, empolgando a massa azul e branca,
Se ela perderá pontos, só saberemos na segunda-feira. A indumentária, além de estar sob julgamento, é critério comparativo e de desempate. Se ela não for penalizada por todos os jurados, pelo menos o jurado lateral, que acompanhou o problema mais de perto, pode optar por tirar décimos de Marciele.
Além da apresentação tensa da cunhã, a diversidade religiosa foi a marca deixada pelo Boi Bumbá Caprichoso na abertura da segunda noite. As encantarias mantiveram a galera azulada vibrante e impecável. Na arena, se formava o grande altar que abrigou Nossa Senhora Aparecida, Nhandecy e Yemanjá na alegoria “Matriarca”, dos artistas Aldenilson e Paulo Pimentel.
A evolução do grupo folclórico correspondeu à expectativa da Galera que apoiou, do começo ao fim, o roteiro da apresentação, mesmo nos momentos difíceis, como quando um módulo alegórico que antecedia ao da Cunhã Poranga, Marciele Albuquerque, empacou no portão de entrada da arena. O corre-corre envolveu dezenas de paikicés (empurradores de alegorias), artistas e até o presidente Babá Tupinambá, para evitar atraso na evolução do Touro Negro.
Em mais uma evolução vibrante, o Boi caprichoso seguiu um planejamento criativo e à altura da proposta de conquista do tricampeonato no Festival Folclórico. O passeio pelas encantarias foi vivido intensamente pelos camisas azuis.
O Sacaca da Floresta foi a figura típica regional, do artista Nei Meireles, em uma intensa abordagem do sincretismo religioso brasileiro. O caboclo, herdeiro dos velhos pajés, foi representado por São Sebastião, o santo guerreiro. Foi nesta evolução que Meireles trouxe a exaltação folclórica com o Boi de Encantarias, na conexão Parintins-Maranhão surgiu o boi-bumbá.
Navegar nas encantarias foi a ordem. O espetáculo azul encerrou com o Toré Lalankó, um misto de xamanismo, danças e canções embaladas ao som da toada Waia-Toré, de Ronaldo Barbosa Júnior, enquanto o pajé Netto Simões evoluiu sobre a onça pintada e envolveu indígenas nordestinos até o “Canto para Jurema Sagrada”.
Texto: Floriano Lins e fotos de Nathalie Brasil (Parintins-AM)