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João Paulo, o coração valente do Garantido, fala sobre a estreia como amo: 'aliviado, 10 nas três noites'

Entrevista: Ele entrou pela primeira vez na arena com o tio, a lenda Paulinho Faria, aos 3 anos. Hoje é amo do boi e fala da emoção de ser item do Garantido.

João Paulo Faria amo do boi do Garantido
João Paulo Faria amo do boi do Garantido

Junho de 1992. O garotinho que acabara de entrar na arena do Bumbódromo de Parintins segurando na mão do lendário apresentador Paulinho Faria era João Paulo Faria, na época com apenas 03 anos. No entanto, aquela não havia sido a estreia do menino defendendo o vermelho do Garantido. Em 1989 já havia sido campeão, só que, dessa vez, na barriga da mãe Emília Faria. Logo, a identidade de João Paulo com o boi Garantido vem de berço.

O pai, empresário Zezinho Faria, foi presidente do boi na década de 1980. A mãe Maria Emília da Frota Barreto Faria, ex-miss Amazonas, foi convidada para desfiar no Garantido em 1984, se apaixonou pelo jovem empresário,  casou, teve filhos e  nunca mais deixou a ilha. O tio, Paulinho Faria, morto pela covid em fevereiro 2021,  foi o grande ídolo desde criança. O menino foi criado frequentando a casa da avó paterna, dona Maria Ângela Faria , onde tudo era vermelho – paredes, roupas de cama, panelas, azulejo de piscina, móveis... como não amar de paixão o Garantido?

Corta para junho de 2022. Agora, quem está na arena é uma  jovem de 33 anos e pesa sobre seus ombros a nobre missão de amo do boi, em substituição a Tony Medeiros que durantes ano exerceu o papel.  Desta vez, não tem ninguém para segurar sua mão. Ele é movido apenas pela energia contagiante que vem da galera vermelha e por sua paixão pelo boi. Tira versos e corre pé ante pé na arena, irradiando felicidade, talento e juventude. Subitamente, JP para, tira o chapéu, leva a mão ao rosto, caminha para um canto da arena e chora copiosamente. É que, naquele momento, alegria de um barco regional com o nome do tio “Paulinho Faria” entrara em cena e trazia no interior sua mãe e seu pai.

“A emoção foi muito forte, não consegui segurar o choro”, disse ele na entrevista exclusiva ao Blog do Mário Adolfo, onde revela que entrou todo de branco na primeira noite em homenagem ao poeta Thiago de Mello, que nasceu em Barreirinha, mas era cidadão  do mundo e apaixonado pelo Garantido. Na estreia do novo amo, dia 24, foi um verso de João Paulo, homenageando o tio e, ao mesmo tempo Israel Paulain, que abriu a apresentação e trouxe à arena o apresentador:

Hoje com muita saudade
Em versos eu vou contar
A história do Garotinho
De Ouro deste lugar
Quem ama o Boi Garantido
Seus braços vai levantar
Do criador da contagem
Vamos pra sempre lembrar”

(verso para Paulinho Faria)

Paulinho Faria e JP quando ainda era criança - Fotos: Acervo pessoal
Paulinho Faria e JP quando ainda era criança - Fotos: Acervo pessoal

CONFIRA A ENTREVISTA COMPLETA

Blog do Mário Adolfo – Você é filho de uma família 100% Garantido. Qual seu primeiro contato com o boi?

João Paulo, amo do boi Garantido  – Mário, meu pai costuma dizer que eu fui campeão na barriga da minha mãe em 1988, primeiro ano do Bumbódromo, e bicampeão em 1989, no ano que nasci.

BMA – Quantos anos você tinha  quando entrou pela primeira vez, de fato,  na arena do Bumbódromo, levado pelo seu tio, Paulinho Faria?

João Paulo – A primeira vez que entrei na arena foi em 1992, com três anos de idade, de mãos dadas com meu tio Paulinho Faria e com um traje igual ao dele. Repetimos em 93.

BMA – Você tem lembranças dessa noite ou se perdeu na memória do tempo, por ainda ser muito criança?

João Paulo –Tenho flashes guardados na minha lembrança. Lembro, por exemplo, de ter a certeza que o meu microfone de brinquedo funcionava e eu estava, de fato, cantando pra galera! (Risos)

BMA –Teus pais apoiaram a sua vocação direcionada para o folclore. Ou queriam ver você na formação profissional, para a qual estudou?

João Paulo – É curioso porque eu tive todas as chances do mundo pra ficar longe do Boi. Em 2014, por exemplo, estava morando em São Paulo. Quando voltei, em 2015, virei ‘Pai Francisco’ quase que de brincadeira e a coisa começou a ganhar corpo com o tempo. Eu cantava só de brincadeira, na época não imaginava que me tornaria ‘Amo do Boi’ cinco anos mais tarde.

BMA – Você é formado em que área? Estudou nos EUA, nao é isso?*

João Paulo – Sou pós-graduado em Marketing Digital pela ESPM-SP, mas hoje as pessoas me conhecem mais pelo trabalho com fotografia gastronômica no Instagram: @joaoquetirou. Estudei nos EUA quando tinha 16, 17 anos. Experiência essa que, pelo fato de ser tão novo, mudou completamente a minha cabeça em termos de independência e coragem para lutar pelas coisas que só dependem de mim.

JP no primeiro dia do festival de 2022, em homenagem a Thiago de Mello
E hoje eu canto em versos
Pro mundo o teu clamor
Hoje eu me visto de branco
Para exaltar teu amor
Junto do povo vermelho
Ao toque do meu tambor
Thiago do Garantido
Teu sol jamais vai se pôr
Deixastes bem definido:
Não amarás sem amor

(Verso para Thiago de Mello)

BMA – Como você vê o Festival de Parintins. Uma festa de três dias ou como uma opção econômica para o município que acaba em uma semana e tudo volta a ser como era antes?

João Paulo – Vejo como fundamental. Foi muito legal ver a cidade lotada novamente, pessoas indo pela primeira vez e se apaixonando pela festa e os bois encantando suas galeras na arena. Estávamos com saudades. Mas, acredito que está na hora do festival ser, de fato, uma opção de emprego e renda para a população de Parintins não só na festa do boi, mas o ano inteiro. No Garantido, por exemplo, seria lindo ter um museu do Boi em que os turistas pudessem conhecer a história do nosso festival em várias línguas de forma interativa e autoexplicativa. Atualmente, temos somente a sala de troféus (que não é pequena), mas acredito que temos condição de oferecer mais às pessoas que vem de fora e àquelas que moram na Ilha, como forma de sustento.

BMA – JP, você substituiu Tony Medeiros (hoje deputado estadual) que fazia a função do amo há 24 anos. Qual peso dessa responsabilidade?

João Paulo – Não somente isso, mas soma-se o fato de que o item 6 também é o que foi defendido por Lindolfo Monteverde, criador do Garantido e nosso primeiro Amo. Pra mim, uma enorme honra. Eu posso dizer que já tenho a noção exata disso justamente por ter vivido a vida inteira dentro desse boi, conhecer e reconhecer a importância de cada uma dessas figuras históricas. Tony é uma delas, que defendeu o item com competência e talento.

BMA – Como você avalia a sua estreia no maior festival folclórico do país?

BMA – Um misto de êxtase, alívio e alegria. Ouvi muita coisa por um ano e meio, mas deixei pra responder na hora certa. Resultado, no geral: 10 nas três noites! Claro que gostaria muito que o Garantido tivesse vencido mas, justamente por estar há muitos anos nessa brincadeira, já tenho a maturidade pra saber que nem tudo depende só da gente. Estou feliz por ter cumprido a minha missão este ano!

O amo do boi Garantido, item número 6 - Fotos: Acervo pessoal
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