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Por conta do desgaste que os partidos de esquerda vêm sofrendo, a notícia de que a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) seria candidata a uma cadeira na Câmara dos Deputados, correu como um rastilho, principalmente no Amazonas. No entanto, ela descarta que isso tenha algum fundamento. Mesmo por força da reforma política, o que exige de seu partido eleger um maior número de deputados federais, ela avisa que sua reeleição ao Senado é prioridade do PCdoB.

— Minha candidatura está confirmada. Nunca disse que seria candidata a deputada federal. Não há razão para isso -, disse a senadora em visita ao Blog do Mário Adolfo.

Numa ampla análise do quadro político da atualidade, a parlamentar comunista disse que a reforma da previdência não passa, que não acredita na prisão do presidente Lula e que parte da população brasileira já percebeu que o governo ilegítimo de Michel Temer” não é o caminho que muitos esperavam” .

— Desde 2014, a gente assiste a uma tentativa muito forte de desgaste nas forças políticas mais à esquerda que estavam no poder. Em determinado momento, as forças conservadoras acreditavam que derrotariam este grupo nas eleições. Na hora em que eles perderam a eleição, eles disseram: “não, esse grupo não pode continuar no poder, não vamos permitir – analisa a senadora.

Com 30 anos de vida pública, Grazziotin foi eleita duas vezes vereadora, exerceu três mandatos de deputada federal e um mandato de senadora. Sempre no PC do B.

 

CONFIRA A ENTREVISTA:

BLOG DO MÁRIO ADOLFO – Nos bastidores da política, comenta-se que senhora é candidata à Câmara dos Deputados, para não correr riscos de não se eleger ao Senado. Isso é verdade?

VANESSA GRAZZIOTIN – Não sei aonde corre uma notícia sem fundamento dessas e em que é baseada. Mas há uma prioridade do PC do B Nacional, que é a eleição de uma bancada maior de deputados federais. Você sabe que foi aprovada uma nova reforma política recentemente, tem a cláusula de barreira e fim de coligações, então a nossa meta nacional é eleger uma bancada maior de deputados federais.  Aqui no Amazonas, sou candidata à reeleição e tenho dito isso. É uma prioridade e não minha, mas do PCdoB. Minha candidatura está confirmada. Nunca disse que seria candidata a deputada federal. Não há razão para isso. Tenho visto umas pesquisas com dados bem interessantes. Agora, é óbvio, a gente vive numa realidade de não  se pode isso ou aquilo.

 

BMA – Senadora, é evidente que a esquerda vem sofrendo um linchamento público, tanto na mídia quantos nas manifestações populares. A senhora acredita que isso pode comprometer a reeleição de políticos dos partidos de esquerda, como o seu?

VG –   As coisas mudaram muitas de 2014 para cá. Aquelas manifestações em 2013, que aparentemente surgiram do nada, não surgiram do nada. Ao contrário, foram bem trabalhadas. Houve ações bem coordenadas nas mídias sociais, foi algo muito bem trabalhado porque ninguém cai do céu de uma hora para outra fazendo manifestação. Foram ações coordenadas de fora do país, com uma participação muito forte nas redes sociais. Ações estas que não deixam nenhum país imune, veja os resultados das eleições nos Estados Unidos, onde o presidente eleito está sofrendo um processo de investigação por conta de possível utilização de robôs de redes que vieram lá da Rússia. Desde 2014, a gente assiste um tentativa muito forte de desgaste nas forças políticas mais à esquerda que estavam no poder. Em determinado momento, as forças conservadoras acreditavam que derrotariam este grupo nas eleições. Na hora em que eles perderam a eleição, eles disseram: “não, esse grupo não pode continuar no poder, não vamos permitir”. Hoje, você comprova isso com várias gravações. Veja o caso do Aécio, que era candidato. Quando terminou a eleição ele entrou com um processo contra a vencedora (Dilma) e depois disse “não, isso foi só pra encher o saco!” Ou seja, a gente vive de fato um  ataque não só a uma pessoa. É claro que existem pessoas que sofrem mais e outras menos, mas foi  um ataque a um projeto de país, de Estado. Em 2016, sofremos a ápice dessa ação com a retirada da presidente Dilma do poder, sem que se comprovasse nada, absolutamente nada, contra ela. Tiveram que inventar as tais das pedalas fiscais. Inventaram o Plano Safra, porque não tinham apartamento com R$ 50 milhões em dinheiro vivo, não tinha mala de dinheiro pra cima e por baixo… na ausência dessas provas arranjaram as pedaladas e a tiraram do poder.

 

BMA – A senhora acha que parte da população já percebeu isso e vem mudando sua forma de pensar em relação à esquerda?

VG – Então, a esquerda vem sofrendo um massacre, mas eles não conseguem dar o tiro de morte. Pelo contrário, a principal figura que representa esse projeto é o ex-presidente Lula, que acabou de ser condenado e, no julgamento que, quem assistiu, viu que era um teatro. Foi algo combinado. Eles dividiram o que cada um desembargador ia dizer.  O apartamento que dizem que era do Lula vai a leilão agora, então como não tinham como comprovar a propriedade do presidente Lula, disseram “não, a OAS é laranja” . Ou seja, a construtora dona do apartamento agora virou laranja? Algo assim, na jurisprudência brasileira, inacreditável. Mesmo assim, eles não estão conseguindo acabar com o ex-presidente Lula, porque ele só cresce.

 

BMA – A senhora quer dizer que o opinião pública já percebe que o Michel Temer não era o caminho que muitos esperavam?

VG – Na mensagem que mandou ao Congresso, o presidente ilegítimo, Michel Temer,  disse que estamos em um ano positivo. Mas positivo para quem? Pra ele, porque ele escapou de dois processos que poderiam ceifar o seu poder. E escapou, ele sabe como, às custas de compra de votos de parlamentares, na base de liberação de emendas, nomeação de cargos públicos.  A população começa a perceber. Ela (a população) não está muito à vontade ainda, porque se sente um pouco responsável por ter colocado essas pessoas no poder. Achavam que qualquer um poderia ser melhor que a Dilma. E que precisa trocar para o Brasil se recuperar. Mas o Brasil não está se recuperando. Temer disse que foi um ano positivo, que baixou juros. Mas, espera aí, se baixasse os juros o endividamento público teria caído. Ao contrário, o endividamento público cresceu em 2017, quase meio bilhão de reais. Por que ele passou mais de um ano desse período em que ele está no poder, com as taxas de juros maior do que no governo anterior. A queda começou agora, mas o que ele já repassou de dinheiro público para o mercado financeiro é algo extraordinário. A situação é muito complicada e eu acho que as  pessoas, no processo eleitoral, vão prestar mais atenção, porque agora é o delas que “está na reta”.

 

BMA – Então, os políticos que votaram para livrar a cara do presidente Michel Temer, naqueles dois processos, vão pagar um preço nas urnas, em 2018?

VG –  Tenho andado muito pelo interior e tenho visto uma população crítica e muito bem informada. Não existe mais isso de “vou votar em quem meu prefeito mandar”. O que foi atacado foi um projeto social. O “Fome Zero”, dificuldade no Fies, acabaram com as farmácias populares. Fui comprar um botijão de gás e paguei R$ 95 . Michel Temer já  pensa até em fazer uma política de subsídio popular e tá liquidando o país. Está entregando o Brasil para o capital externo. A State Grid é uma empresa chinesa que vai ser responsável pela distribuição de energia elétrica brasileira. Isso é inadmissível. Entramos com uma liminar na justiça. Os seis estados brasileiros subsidiados a Eletrobras são: Amazonas, Rondônia, Roraima, Acre, Piauí e Alagoas, quatro no Norte e duas no Nordeste. Qual a empresa privada que vai distribuir energia elétrica em Parintins? Dá prejuízo. Isso tem que ser repensado.

 

BMA – Como a senhora vê a situação do Amazonas, um estado que teve três governadores em um ano e um deles está preso?

VG –  Pois é, eu vi que isso foi até enredo da Bica, não é (risos)! O Amazonas não é exceção no Brasil. Vivemos um momento delicado. É preocupante porque perdemos uma continuidade. Mas por outro lado, tudo o que estamos assistindo de denúncias, investigações e de apuração, na verdade, são gravíssimas, mas  têm seu lado positivo, porque estão  contribuindo e criando  oportunidade de esclarecimento que esse processo pode trazer, inclusive sobre os esquemas de corrupção no Amazonas.  A Maus Caminhos (operação) está mostrando que o Mohammed comandava cinco unidades de saúde. Isso é errado. Nossa saúde está nas mãos do setor privado, está terceirizada. Então, houve uma descontinuidade, mas também houve um esclarecimento. Tivemos três governadores e um deles foi um governo interino, inclusive o presidente da Assembleia esteve à frente desse governo tampão e fez um trabalho relevante.

 

BMA – O PCdoB tem nomes ao governo ou vai apoiar candidato de outro partido?

VG –  Não temos pré-candidato ao governo. Vamos fazer coligação. Tem alguns nomes no PT como José Ricardo, Praciano (Francisco), a Rebecca Garcia, do PR, etc. Mas não há nada definido.

 

BMA Como a senhora avalia o governo Amazonino Mendes, eleito com o slogan de “arrumar a casa”?  

VG – Essa proposta de governo “arrumar a casa” está demorando muito. Ele disse que ia só arrumar a casa, mas cresceu o olho nesse período. Estava cansado, com uma certa  idade, mas agora o poder voltou a subir na cabeça dele. E parece que ele é candidato. Ao menos foi isso que ouvi.

 

BMA – Na sua avaliação, Lula será preso?

VG – Não sei se é meu desejo que fala mais alto, mas acho que não será preso. Lula tem a metade da população ao seu lado. Se ele for candidato à presidência ele ganhará às eleições. Mas se prenderem, a possibilidade de Lula apoiar outra pessoa e fazer um “estrago” é grande. Eu sinto isso.  Eu me expus muito por minha fidelidade ao ex-presidente Lula e à ex-presidente Dilma e fui muito atacada nas ruas. Mas hoje isso está mudando. As  pessoas que me enfrentam nas ruas com nível de respeito é bem maior. Elas respeitam a minha posição.

 

BMA – A reforma da Previdência passa?

VG – Não passa. Não passa porque esse ano vão enfrentar as eleições. Vão congelar a votação e só depois vão passar a reforma.

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