A jornalista parintinese Ádria Barbosa até os 27 anos de idade não tinha a consciência e algumas vezes não se aceitava como mulher negra, em virtude do preconceito e do bullying que sofreu enquanto criança por causa da cor da pele e do cabelo.
Ádria é torcedora do Boi Caprichoso e foi no Festival de Parintins, nas toadas e nos debates forjados a partir das apresentações na arena do bumbódromo que começou a entender a importância da herança negra na Amazônia.
Ádria foi chamada para ser “Mãe Catirina” do Caprichoso. Na lenda do auto do boi a mãe catirina é negra e Ádria, não apenas se preparou como atriz para o espetáculo, mas se envolveu no tema e nos debates.
“Aí gente vê a importância que a cultura popular e o folclore, como um todo, tem de ensinar e de transformar. Eu, como mulher preta não tinha consciência até os 27 anos de idade de entender a importância de assumir minha negritude e, a partir da vivência da personagem Mãe Catirina passei a entender, acompanhar as discussões, a partir do black face e da troca do fluxo com a comunidade, pois foi preciso também os torcedores internalizarem isso”, afirmou.
Barbosa entende que as apresentações na arena do bumbódromo é as discussões que os bumbás desenvolvem fora dela tem motivado as pessoas a se encorajarem a declarar suas crenças, por exemplo, em religiões afro-brasileiras.
“A gente tornou muito forte esses discursos e isso reverberou muito na população. Hoje, a gente vê as pessoas falando de sua fé e religião de forma muito aberta e isso eu atribuio aos discursos, as toadas, aos debates promovidos a partir das temáticas dos bumbás. Na verdade estamos desconstruindo e reconstruindo, resistindo e reiventando”, afirma.
Ádria reforça que todas essas questões fazem parte de uma reparação histórica e pede que todos vivam isso no dia-a-dia não apenas no mês de novembro, mas todos os dias quebrando o racismo estrutural que infelizmente ainda está internalizado num pais tão miscigenado e ao mesmo tempo tão racista.