A Polícia Civil do Amazonas apura se a médica Juliana Brasil Santos tentou alterar ou suprimir a prescrição médica original feita ao menino Benício Xavier, de 6 anos, que morreu no dia 23 de novembro após receber uma dose de adrenalina por via intravenosa no Hospital Santa Júlia, em Manaus.
De acordo com o delegado Marcelo Martins, responsável pela investigação no 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP), três testemunhas relataram que a médica teria buscado acesso à prescrição original junto à enfermaria com o objetivo de modificá-la no sistema hospitalar. A intenção, segundo os depoimentos, seria apagar o registro de que a administração da adrenalina deveria ocorrer por via intravenosa, e não por nebulização, como alega a médica.
Juliana e a técnica de enfermagem Raíza Bentes, que aplicou a medicação, são investigadas e podem responder por homicídio com dolo eventual — quando o autor assume o risco do resultado. Benício recebeu uma das três doses de 3 ml de adrenalina prescritas antes de apresentar piora no quadro clínico.
A perícia técnica deverá esclarecer se houve falha no sistema de registros eletrônicos do hospital. Em depoimento, Juliana afirmou que a adrenalina foi prescrita para ser administrada por nebulização, e não por via intravenosa, e que não foi consultada por Raíza antes da aplicação.
Segundo o delegado, ambas teriam descumprido protocolos básicos, como a verificação e confirmação da prescrição. Ele também informou que a médica é investigada por supostamente tentar convencer a mãe da criança a enviar ao hospital uma carta confirmando que a orientação sobre a via de administração havia sido feita verbalmente.
Benício deu entrada no hospital no dia 22 de novembro com sintomas de tosse seca e suspeita de laringite. Após a primeira dose de adrenalina, foi transferido para a UTI, onde sofreu três tentativas de intubação e seis paradas cardíacas antes de morrer, na madrugada do dia seguinte.
A investigação também apura possíveis falhas no processo de intubação. A manobra só foi realizada com êxito após a chegada de uma médica pediatra chamada às pressas. Durante as tentativas, foram administrados diversos medicamentos, incluindo sedativos.
Na manhã desta quinta-feira (5), uma acareação entre a médica e a técnica de enfermagem foi realizada na delegacia. A Polícia Civil também investiga se o número de profissionais de enfermagem disponíveis no momento do atendimento era adequado. Testemunhas relataram que apenas três técnicos estavam responsáveis por cinco setores, o que pode ter contribuído para falhas no atendimento.
A reportagem procurou o Hospital Santa Júlia e as defesas das investigadas, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para manifestações.

