O senador Omar José Abdel Aziz , 61, governou o Amazonas no período de 2011 a 2014. Foi o 46.º Governador do Estado, tendo sido eleito no primeiro turno com cerca de 64% dos votos (mais de 940.000 votos). Deixou o cargo como a mais bem avaliado governador do País, de acordo com pesquisa do Ibope encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) , apontando que 74% dos entrevistados consideraram sua gestão “ótima” ou “boa”. Apesar disso, o senador não conseguiu retornar ao governo na eleição de 2018, ficando apenas em quarto lugar, com 8,03% dos votos. Hoje, mais maduro, o senador avalia que seu “tempo passou” e não alimenta mais o sonho de retornar ao governo”.
— Não. Nenhum. Digo o seguinte: Fiz um bom governo, com propostas e programas que deram certo. Não me recordo de ter tido crise na Saúde no meu governo. Na Segurança Pública eu implantei o maior programa que foi o “Ronda no Bairro”. Fiz uma clínica para dependentes químicos. Vacinei todas as crianças para HPV. Fiz o programa Viver Melhor. Construí mais de 30 mil casas. Fiz mais de 20 escolas de Tempo Integral. Fiz o plano de cargos e carreira dos servidores do Estado. Meu tempo passou –, diz o senador, em entrevista exclusiva ao Blog do Mário Adolfo, garantindo que torce para que o governo Wilson Lima (PSC) – que o derrotou na última eleição dê certo, assim como torce para o prefeito Arthur Virgílio (PSDB).
— Torço muito, como torço pelo prefeito e qualquer outro gestor. O processo eleitoral tem que mudar essa imagem de que o cara tem que se acabar para eu ganhar. Eu nunca agi dessa forma.
Omar considera que ainda é cedo para se posicionar sobre o nome que deve apoiar para a prefeitura de Manaus, nas eleições municipais de outubro. “Isso é uma discussão que eu estou tendo com os parlamentares do meu partido para saber qual a decisão. Ainda é cedo, mas até junho termos uma definição.
Sobre as críticas ao presidente Jair Bolsonaro, que vem fazendo a Zona Franca de Manaus viver vários sustos – o último foi esta semana com o IPI dos concentrados –, em apenas um ano, o senador garante que seria não foi só com o Bolsonaro que tivemos problemas. “Seria injusto dizer isso. Tivemos problemas com o Fernando Henrique, Lula, Dilma e até com o Temer, “embora Lula tenha prorrogado a ZFM por mais 25 anos”.
Confira a entrevista:
Blog do Mário Adolfo – As eleições municipais estão batendo à porta. O PSD já definiu que nome deve apoiar. Ou se vai sair com candidatura própria?
Omar Aziz (PSD), senador da República – Meu partido está discutido isso internamente. Há uma possibilidade grande de o partido lançar um candidato. Acho que vai ter em torno de 14, 15 candidatos nessa eleição. Uma eleição que, como não tem mais coligação de chapas, geralmente, cada partido vai ter que sair com uma chapa para vereador. Muito diferente das outras que nós vimos.
BMA – Já existem conversas para possíveis alianças?
Omar – Isso é uma discussão que eu estou tendo com os parlamentares do meu partido para saber qual a decisão. Ainda é cedo, mas até junho termos uma definição. Agora é um momento de filiação de candidatos, tanto da capital quanto do interior. É importante apresentar um candidato competitivo, que possa disputar a eleição. Disputar é uma coisa, ganhar é outra. O momento é que vai dizer se a pessoa vai ganhar. Hoje em dia, se você perguntar quem será o próximo prefeito de Manaus, não posso dizer.
BMA – Dos nomes que estão postos no jogo, o senhor manifesta simpatia por algum deles? O senhor se identifica com algum candidato em potencial?
Omar – Eu tenho uma boa relação com todos. Hoje eu tenho uma boa relação com o David (Almeida), falei com ele no dia da morte de sua esposa (Lúcia Almeida), do Avante. Conversamos ao telefone. Tenho uma relação parlamentar com o Zé Ricardo (PT), temos uma relação amistosa e respeitosa. Acho que o Hissa (Habraão) mesmo é uma pessoa por quem eu tenho um respeito e carinho. A Conceição Sampaio (PSDB), que falam no nome dela como possível candidata é uma pessoa que eu também tenho um carinho muito grande. O próprio Alfredo Nascimento (PR) eu tenho uma boa relação. Os nomes que estão falando aí, eu conheço quase todos e tenho respeito por todos. Mas, questão política é outra coisa. O meu papel como senador será ajudar o prefeito que for eleito para ajudar Manaus.
BMA – O senhor sempre teve uma relação muito forte com o prefeito Arthur Virgílio (PSDB). Essa relação está sendo mantida ou houve uma quebra, um distanciamento, ao longo do tempo?
Omar – As contingências políticas nos afastam. O prefeito Arthur tem muitos problemas na cidade e ele tem focado nisso, em trabalhar e tentar resolver esses problemas. Não tenho conversado com o prefeito sobre, nenhum tipo de assunto. Nem político e nem outro. Não temos conversado sobre isso, mas creio eu que o prefeito vai ter alguém para apoiar. Naturalmente você quer apoiar uma pessoa que dê continuidade ao trabalho que você tem feito.
BMA – Nos últimos meses, a Zona Franca de Manaus e o Amazonas sofreram grandes sustos no governo do presidente Bolsonaro. Vide agora na questão da redução para 8% na alíquota do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) do concentrado. Como senhor avalia esse tipo de “apreço” que ele diz ter pelo Amazonas, mas que, na prática, não é bem assim?
Omar – Não foi só com o Bolsonaro que tivemos problemas em relação à Zona Franca. Seria injusto dizer isso. Tivemos problemas com o Fernando Henrique, quando ele tirou o Processo Produtivo Básico (PPB), que era discutido aqui em Manaus e eles levaram para Brasília. Quando não tem nada similar no Estado, tem que ser feito um novo PPB, e isso foi tirado daqui quando Mauro Costa veio para cá sem o menor compromisso. O intuito era prejudicar, quando tiraram daqui o PPB, isso ficou claro. Depois com o presidente Lula tivemos embates e até com Dilma e Temer...
BMA (interrompendo) – Mas foi o Lula que prorrogou a Zona Franca por mais 25 anos.
Omar – Sim, mas, como sempre, tivemos problemas. Depois ele prorrogou a ZFM por mais 25 anos e isso foi um ganho. Depois veio a Dilma, também embates. Eu me lembro de um fortíssimo que ganhamos. Eu era governador. A indústria de ar condicionado tinha saído completamente de Manaus. Eles estavam importando motor e bens intermediários e montando em Santa Catarina. Isso porque a Dilma tinha assinado um decreto para reduzir o IPI para a compra de motores para a Petrobras, mas isso acabou atingindo todo tipo de motor que você queria trazer. E, então essa brecha foi usada e se perdeu competitividade. A indústria de termoplástico estava pré-falimentar porque os televisores não se usavam mais plástico. E com uma conversa com a Dilma, conseguimos aumentar o IPI e retomamos a indústria de ar condicionado ao Amazonas. Hoje, 95% dos ar condicionados que são vendidos no Brasil são fabricados aqui no Amazonas. O Guido Mantega era o ministro da época, ele ficou muito áspero, mas ela bateu o martelo a nosso favor.
BMA – Mas nunca houve tanto problemas como agora. Em um ano de governo , foram várias tentativas de “acabar com a Zona Franca”.
Omar – Não é específico do Bolsonaro. Tivemos outro problema como esse mesmo do IPI dos concentrados que era 40% depois reduziu para 20%, depois pra 12%. O embate não é só com a equipe econômica, mas sim com a Receita Federal também, que não reconhece crédito e isso tem deixado as empresas que estão no Distrito Industrial com uma dificuldade muito grande, que é a financeira, pois a cada real que é hoje produzido pelos concentrados, 40 centavos é contingenciado pelo governo. Então, é impossível você manter um equilíbrio econômica para essas empresas.
BMA – Mas a verdade é que a bancada tem que ficar constantemente em estado de alerta, para evitar ser surpreendida, não é mesmo?
Omar – Em 2019 não tivemos nenhuma perda. Tenho que ressaltar o esforço de toda a bancada, dos três senadores e dos deputados federais, muito unidos em torno disso. Nossa preocupação era que a política de Paulo Guedes, que é contra qualquer renúncia fiscal. Foi preciso fazer ele entender que a renúncia fiscal daqui era um baita investimento na divulgação do Brasil em preservar as suas florestas. E conseguimos isso com a Lei de Informática, pois a Organização Mundial do Comercia estipulou uma data (31/12/2019) para que o Brasil mudasse a sua lei de informática, caso contrário receberia sanções, com exceção da ZFM, que eles não entendiam como renúncia fiscal, mas sim como um polo de desenvolvimento e proteção da Amazônia. Entramos num jogo ganhando de 1 a 0. Tentaram reverter isso na Câmara e no Senado e graças a Deus conseguimos mudar e convencer os deputados. No mais, em relação a esse embate vai ter hoje, amanhã, sempre terá. Não há nenhum que se sobressaia mais que os outros. Talvez eu fale como coordenador da bancada, mas todos estão ajudando, colaborando, contribuindo, se preocupam com isso. Dia 7 de fevereiro teremos o julgamento no STF que foi um agravo feito pelo Governo Federal sobre a matéria votada no STF que ganhamos com relação ao reconhecimento do crédito. Não será discutido o mérito, mas se mata de vez essa questão com relação ao reconhecimento de Crédito Tributário.
BMA – O deputado Silas Câmara acabou de anunciar (quarta-feira,15) no rádio (Tiradentes FM) que o presidente Bolsonaro vai rever a questão dos concentrados. O senhor acredita nisso?
Omar – Ele não falou comigo sobre isso. Conversei com o ministro Paulo Guedes, mas é importante e eu acho que o Paulo Guedes ficou de dar uma posição. Conversei demoradamente com Carlos Costa (secretário Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade – Sepec), e vou procurar saber.
BMA – Mas o senhor tratou disso com o presidente Bolsonaro?
Omar – Já falei com o presidente várias vezes. Com relação à ZFM o presidente é o cara mais verdadeiro que existe. Vamos dar a César o que é de César. Bolsonaro tem defeitos como qualquer ser-humano, mas ele foi bem claro com toda a bancada. Ele disse pra mim assim: “Eu sou a favor da ZFM mas não entendo nada disso. Converse com o ministro Paulo Guedes”. Quando você discute isso com ele, ele é muito franco. Ele não discute tecnicamente sobre algo que ele não tem conhecimento. Mas ele disse que é a favor, que há 30 anos que é a favor da ZFM. Cita muito o Pauderney, dizendo que “ele enchia o saco pra votar... (a favor da ZFM).
BMA – Mas houve um momento em que a própria bancada do Amazonas considerou o ministro Paulo Guedes como “o inimigo número 1 da ZFM”. Isso mudou?
Omar – Mudou. Mudou com a Lei da Informática. Ele foi de uma grande ajuda pra gente votar a lei da informática que está aí hoje. Ele tem deixado claro isso e eu espero que ele nos dê uma posição sobre isso (IPI dos concentrados).
BMA – Como o senhor vem avaliando o governo de Wilson Lima, já que se manifesta, em algumas questões, muito próximo a ele?
Omar – Veja bem, não é que eu seja próximo do Wilson Lima. Eu fui adversário dele na campanha, eu fui candidato e não ganhei a eleição, mas eu tenho a responsabilidade de ser senador da República pelo estado do Amazonas. Não é o governo do Wilson Lima não dando certo que eu vou ganhar com isso. Acho que todos perdemos. Torço muito, como torço pelo prefeito e qualquer outro gestor. O processo eleitoral tem que mudar essa imagem de que o cara tem que se acabar para eu ganhar. Eu nunca agi dessa forma. Eu, como senador tenho feito o possível para ajudar o governo. São ações como essa do IPI da ZFM que são importantes pro governador. Ele me chamou, pediu ajuda da bancada e na hora disponibilizamos essa ajuda. Agora, o governo atravessa por dificuldades como todo o governo brasileiro. Você vê Roraima, São Paulo, Rio de Janeiro com problemas. O fato é que houve um decréscimo na economia e aumento de pessoas desempregadas nos últimos tempos. Somatizando isso, a população estava acostumada a ter um crédito em todo lugar. Naquele boom da economia, a pessoa tinha dez carnês e pagava em dia. Todo mundo comprou casa e carro para todos os filhos. Chegou a ter venda de carro no Brasil com entrada zero e pagar em 40 vezes. motos venderam no Brasil todo, de dez financiamentos o banco aprovava 9. Então, o banco se acostumou com aquilo. Se tem em casa três filhos com internet, cada quarto com uma televisão, cada um tem um carro, estudam particular, você tem salário e sua esposa também, mas aí se um dos dois perder o emprego, desanda toda a família.
BMA – Isso acabou levando, em 2018, o eleitor a buscar o novo que, convenhamos, não é tão novo assim.
Omar – Foi o que aconteceu. Essa é a revolta do povo com os políticos. A criminalização da política nunca foi positiva. Se você acha que aquele político não serve para te representar, exclui ele na próxima eleição, mas você criminalizar aleatoriamente, é um agravante para a democracia. Tanto é que se você for ver, todas as discussões com a equipe econômica, não só técnicas, são políticas também. Você tem hoje um país com 12 milhões de desempregados, um país que hoje tem um grande problema que é a perda do poder aquisitivo e isso é uma coisa que as pessoas não perdoam. Você tem um Distrito Industrial estancado com a geração de novos empregos, porque não se diversificou com novas indústrias de novos setores, novos segmentos. Não se trabalha isso, eu já disse isso. Nós temos aqui três âncoras fortes: Informática, Eletroeletrônico e Polo de Duas Rodas, mas, se a gente não trouxer cosméticos, têxtil, alimentício para gerar empregos, a indústria 4.0 vai acabar com os empregos, porque a automação é natural mesmo com o Processo Produtivo e a garantia de emprego. É impossível ter competitividade se não se adequar a uma realidade.
BMA – Com tudo isso o PIM continua faturando ou estão estagnados?
Omar – Vai continuar faturando. Em 2019, o polo industrial faturou, é verdade, mas foi por conta do dólar alto. Não houve a geração de um emprego, não entrou uma nova indústria em 2019 e isso é preocupante,. Então, quando você trabalha economia macro no Amazonas, lógico, vamos procurar alternativas pro interior. Nada pode ser produzido no interior em alta escala, nós não temos área. Não é má vontade, não foi má vontade do Lindoso, do Gilberto, do Amazonino ou do Eduardo (ex-governadores), nós não temos área. Você fazer uma indústria de cana no Amazonas? Não tem área.
BMA (interrompendo) – Mas nós temos a maior várzea do mundo, para cultura de seus meses e não usamos.
Omar – Sobre a várzea, tem-se o custo. Por que o peixe produzido em Manaus, em cativeiro, tem o preço mais caro que o produzido em Roraima e que chega em Manaus? Porque o maior insumo para produzir o peixe é a ração e nós não produzimos soja, milho e eles produzem. Por isso fica barato... O frango e a carne aumentaram bastante e o peixe não aumentou porque o Brasil não exporta peixe. E o preço do frango e da carne não cairão mais, esquece. Quando você fala em alternativas econômicas, primeiro você tem que conhecer a nossa região. Alta escala. Não há nada que você gere emprego se não for em alta escala.
BMA – Antes da politica partidária, o senhor fez movimento estudantil, militou no PCdoB e lutou pelas Diretas. Como analisa a guinada que a juventude vem dando em direção ao conservadorismo de Direita?
Omar – Nós somos de uma geração que lutou pela redemocratização desse país e quando eu vejo alguém falando em um AI-5, o cara não tem noção do que representa isso. Não sabe o que é não poder se posicionar e nem exercer seu direito de cidadão em um estado de direito. Esse regime não resolve o problema de ninguém, pelo contrário, isso acaba com a economia. Veja o Irã, muito rico, petróleo aos montes, mas com os boicotes que recebe por parte dos EUA, a população empobrece se manifesta. Aquilo é por falta de comida, falta de expectativa da juventude.
BMA – Nesse “admirável mundo novo da internet” todo mundo diz o que quer ofende, acusa, criminaliza. Como avalia esse momento?
Omar – É verdade. Todo mundo pode ser “jornalista” e escreve o que quer. O mais espantoso é a hipocrisia que algumas pessoas confundem com democracia. O cara amanhece falando em Deus, dando conselhos de auto-ajuda e em seguida escreve, ‘tomara que morra’, ‘tem que se foder’. Usam filosofia do século 12 achando que estão falando alguma coisa moderna, quando o que foi escrito não lá não se adapta aos dias atuais.
BMA – O senhor alimenta o sonho de voltar ao governo do estado?
Omar – Não. Nenhum. Digo o seguinte: Fiz um bom governo, com propostas e programas que deram certo. Não me recordo de ter tido crise na Saúde no meu governo. Na Segurança Pública eu implantei o maior programa que foi o “Ronda no Bairro”. Fiz uma clínica para dependentes químicos. Vacinei todas as crianças para HPV. Fiz o programa Viver Melhor. Construí mais de 30 mil casas. Fiz mais de 20 escolas de Tempo Integral. Fiz o plano de cargos e carreira dos servidores do Estado. Meu tempo passou. Por isso eu torço pelos novos. Não posso achar que eu resolvo tudo, ou que Amazonino (Mendes) vai resolver. Nosso tempo vai passando. Não tenho mais aquela juventude de 26 anos com aquela força. Esses jovens podem fazer melhor do que a gente. O Gilberto, por exemplo, foi um grande governador. As pessoas demonizavam ele, viam ele como um homem vingativo, mas ele era uma alma boa. Foi um grande político. Amazonino teve seus momentos de grandes propostas. O Eduardo Braga também. Todos tiveram suas participações e a vida continua para todos nós.
BMA – O senhor está dizendo que apoia qualquer governo, mesmo que o governador seja deu adversário político?
Omar – Minha contribuição é como senador. É minha obrigação, não um favor. Temos que torcer pra novos empregos, pra saúde dar certo, torcer por mais segurança, casas, escolas. Só para dar um exemplo, recentemente o governador teve um problema com 140 pessoas com o salário acima da média e tal. Isso teve uma reação negativa na sociedade e o governador recuou. Isso tem que ser aplaudido. O recuo não é uma derrota! Errar todo mundo erra. E ser governador não é tão fácil. Ele vive cercado de gente oportunista. Se cita uma piada sem graça, todo mundo ri. Imagina todo mundo tá ali puxando o saco e rindo de piada sem graça contada pelo governador. Isso não é bom. Amigo que puxa o saco não é amigo. O amigo diz a verdade na cara. É isso que o governador quer ouvir. O governador Wilson Lima sempre terá apoio do senador. Enquanto eu estiver vivo, vou apoiar. Não defendo o quanto pior, melhor. Eu não ajo assim. Tenho minhas divergências com o senador Eduardo Braga (MDB), mas sempre vou reconhecer que ele foi um gestor importante. Não dá para se culpar o governador atual por conta disso. Outro exemplo é esse caso que o prefeito (Arthur Virgílio ) está passando. Ninguém quer ver o filho (Alejandro Molina Valeiko, envolvido no assassinato do engenheiro Flávio Rodrigues dos Santos) preso e o rapaz é doente, tem que ser tratado. Quem não respeita essa dor, não pode ter a dor respeitada. O prefeito e a esposa (Elizabeth Valeiko) passam por uma dor imensurável. O embate político tudo bem, mas tirar proveito de tragédia humana é de uma crueldade sem limites.
BMA – Nos dias atuais, o senhor faria o mesmo governo que fez, quando havia um boon na economia ou os tempos são outros?
Omar – Houve um momento em meu governo, que tinham 2 mil trabalhadores na ponte, mais de 3 mil na Arena, mais 5 mil no Viver Melhor. Imagine quantos empregos geramos aí? Mais de 20 mil empregos gerados só com obras do estado. Fora as construtoras particulares. Era um outro momento que nós vivemos. Era um volume grande de pessoas que tinham salário.
BMA – A “menina dos olhos” de seu governo era a Cidade Universitária, que não teve continuidade em outros governos e hoje é uma obra fantasma abandonada no meio da selva. Como o senhor sente diante desse quadro?
Omar (sob visível emoção) – Muito triste. Era a mais importante obra do governo, porque aquilo não era pra mim. Era para as futuras gerações do estado. Ali iam ficar morando 2 mil alunos do interior do Amazonas. Espero que Deus abençoe alguém para retomar aquilo. Era uma obra pro futuro. A UEA é a maior universidade multicampos do Brasil. Dinheiro não falta. 1% de faturamento de informática, vai para a UEA. É Lei e foi feita pelo Eduardo (Braga). Pegue o orçamento da UEA em 2002 quando o Amazonino foi governador e pegue o orçamento da UEA hoje. Pode fazer qualquer ajuste de inflação que não vai chegar perto do que fizemos na UEA. Eduardo Braga foi um grande apoiador pra isso. Com a Lei de Informática, ele salvou a UEA.
BMA – Quanto o senhor investiu na Cidade Universitária?
Omar – Não lembro. A proposta era vender a Cigas e investir na Cidade Universitária.
BMA – No governo Eduardo Braga era repetido inúmeras vezes que, com a chegada do gasoduto a Manaus, o preço do táxi cairia e a tarifa de energia elétrica também. Por que até hoje isso não aconteceu?
Omar (irritado) – Pergunte a esse pessoal que está aí na Cigás que não contribui com nada. O governador tem que rever isso. Temos uma energia de baixa qualidade, cara, quando o gás era a grande salvação para ter uma energia barata e limpa. Estamos tendo um grande problema. Hoje o Amazonas poderia ser o maior produtor de gás do Brasil. Mandei um documento pra Agência Nacional do Petróleo, questionando por que eles retiraram do leilão os campos da Petrobras no Amazonas. O Pará quer comprar gás do Texas e não daqui porque não temos quantidade para vender. Estamos do lado do Pará. Seria a saída macro. O Amazonas tem 50 locais com gás, no Purus, no Solimões, no Juruá. Agora, a Petrobras não perfura um poço mais aqui na região, nem coloca em leilão os campos que nós temos. O ministro Paulo Guedes ficou preocupado e discutimos isso. Eu pedi ajuda dele. Perguntei dele sobre a relação que ele e Bolsonaro têm com os Estados Unidos, poderia num acordo bilateral, o Trump exigir que se comprasse 20 ou 30 bilhões de dólares da ZFM. Estamos a 4h50m de Miami de avião. Mais perto do que daqui para Porto Alegre. Americano não produz mais carro, o IPhone vem do México ou da China. Qualquer casa de americano que tem uma TV é a mesma que a nossa. Não tem diferença. Se você assistir Madiba, que é a vida de Mandela, ele diz que a melhor arma é a negociação, não tem arma melhor, Mário. Só o diálogo pode mudar a história.