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O Boi é o Bicho do Brasil

Neste sábado, Manaus deu uma prova incontestável desse novo tempo. Em dois eventos da cidade, simultaneamente, nossa cultura explodiu

Festival da Cunhã, em Manaus - Foto: Divulgação

A cultura do boi-bumbá está mais viva e forte do que nunca — e, enfim, espalha seus galopes e acordes por todo o Brasil com a força de uma avalanche cultural da floresta. O que antes era visto como um espetáculo exótico e regional começa a ocupar o lugar que sempre mereceu: o centro da identidade cultural brasileira.

Neste sábado, Manaus deu uma prova incontestável desse novo tempo. Em dois eventos da cidade, simultaneamente, nossa cultura explodiu. No Sambódromo, o Garantido ensaiava como se já estivesse no Bumbódromo de Parintins, arrastando uma multidão de torcedores apaixonados. Ao lado, na Arena da Amazônia, a cunhã-poranga Isabelle Nogueira transformava seu festival em um verdadeiro acontecimento nacional — com público lotando o espaço e convidados de todo o Brasil celebrando a força feminina e a beleza da nossa festa.

Ver dois eventos distintos, em locais diferentes, tomarem a cidade de maneira tão vibrante é um sinal claro: Manaus redescobriu o orgulho de ser vitrine principal do boi-bumbá de Parintins. E isso já vinha ficando claro nas disputadas festas da vitória do Caprichoso nos últimos anos. Nós mesmos e o restante do Brasil, aos poucos, redescobrimos nossa alma amazônica.

A festa da vitória do Caprichoso em 2024

Lembro bem de 2005 e os anos que se sucederam naquela década. Caminhava pelas ruas de Parintins e via uma ilha quase vazia, sem turistas, sem alarde, sem o devido reconhecimento. Um silêncio quase triste contrastava com a grandiosidade do que o povo daquela terra preparava. O festival estava sendo reduzido apenas aos poucos fãs, quase um nicho bovino. Era preocupante.

Hoje, essa realidade mudou. As toadas ecoam em playlists do Spotify, aparecem em programas de televisão, ganham o coração de quem nunca pôs os pés na floresta. Até mesmo aqueles nossos amigos que outrora pouco falavam de boi, agora vibram com as toadas e stories nas redes sociais.

O Brasil está, finalmente, prestando atenção. E se maravilhando com o espetáculo que por tanto tempo viveu à margem.

Mario de Andrade, gênio da nossa cultura, já havia percebido isso há quase um século. Em sua missão de registrar a alma brasileira, concluiu com a sabedoria que só os visionários têm: o boi é o bicho do Brasil. Hoje, mais do que nunca, ele está certo.

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