A fé que navega pelas águas da Amazônia chega em 2025 à 16ª edição da Romaria das Águas, um dos maiores eventos religiosos e culturais do Norte do Brasil. A procissão fluvial parte de Manaus rumo a Parintins levando a imagem de Nossa Senhora do Carmo, padroeira do município, numa jornada de mais de 400 quilômetros repleta de simbolismo, promessas e tradição ribeirinha.
Idealizada em 2009 pelo artista plástico e cenógrafo Juarez Lima, falecido em novembro de 2024, a Romaria das Águas nasceu de uma promessa: após receber uma graça atribuída à santa — a cura de um amigo próximo — Juarez decidiu organizar a devoção sobre as águas, integrando a religiosidade ao modo de vida amazônico.
Desde então, a romaria vem crescendo ano a ano e, a partir de 2022, passou a sair também de Manaus, ampliando o trajeto e fortalecendo ainda mais a conexão entre comunidades ribeirinhas. Durante o percurso, barcos abençoados formam um cortejo com a santa e seu andor monumental — que chega a 16 metros de altura —, distribuindo bênçãos e esperança para moradores de localidades como Mocambo, Tracajá e Boca do Limão.
Programação
Em 2025, a procissão tem início no dia 13 de julho no Mirante Lúcia Almeida, em Manaus, com missas, bênçãos e shows de acolhida para os devotos. Após cerca de 18 horas de viagem, a imagem de Nossa Senhora do Carmo chega a Parintins no dia 14, onde passa a ser venerada em novenas e celebrações até a tradicional procissão terrestre, marcada para 16 de julho — data da padroeira.
O tema escolhido para este ano, “Maria, és a Árvore da Vida…”, dialoga com a proposta de evangelização integrada à preservação ambiental e à cultura amazônica, reafirmando a missão de proteger a floresta e suas águas como obra de Deus.
Homenagem ao criador
Para esta edição, a memória de Juarez Lima — um dos maiores artistas do Festival de Parintins, responsável por cenografias e alegorias históricas — estará ainda mais presente. Além de idealizador da romaria, Juarez projetou diversas esculturas que ainda hoje desfilam nos barcos da procissão e marcam a identidade visual do evento. Em 2025, a homenagem se estende aos filhos do artista, Thyago e Juarez Filho, que assumem a coordenação do cortejo para garantir a continuidade do legado.
Juarez Lima transformou a fé cabocla em espetáculo, respeitando tradições e ao mesmo tempo inovando na forma de expressar devoção. Sua morte, em 2024, deixou uma lacuna entre os artistas parintinenses, mas também reforçou a importância de preservar a Romaria das Águas como símbolo de gratidão e unidade na região.
Mais que fé
Além de seu aspecto religioso, a Romaria das Águas se tornou também um importante elemento cultural e turístico. Movimenta o comércio local, fortalece o calendário festivo e conecta ribeirinhos, artistas e romeiros de todo o Amazonas em torno de valores de solidariedade e esperança.
Em sua 16ª edição, a romaria reafirma que navegar é também um ato de fé — e que a herança de Juarez Lima seguirá viva, refletida no rosto emocionado de cada devoto ao longo das águas do maior rio do mundo.
