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O prefeito Arthur Virgílio (PSDB) está completando 2.000 mil dias administrando a cidade de Manaus. Ele admite as críticas, mas garante que  que esse tempo foi gasto, intensamente, no trabalho para organizar a cidade dos estragos do passado. Isso em plena crise, e mantendo o compromisso com a valorização do servidor, que há 12 anos não recebia reajuste de salário. Nesses tempos, em que as críticas se tornaram ainda mais ácidas, o prefeito lembra que Manaus viveu um inverno avassalador, mas garante que agora a cidade está ficando “coalhada de obras”.

Homem que respira, almoça, janta, dorme e amanhece na política, Arthur disse que vai fazer um esforço muito grande para “pendurar as chuteiras” e dar um tempo para ele mesmo, mas sabe que a política é muita mais forte que seu desejo. “Eleições são a minha energia”, garante.  Sobre a corrida ao governo do Estado,  Arthur disse que ainda é cedo e vai deixar “julho quieto”. Só vai falar quem serão seus candidatos no momento certo. E até adianta que o PSDB pode sair com candidatura própria, chapa “puro sangue”. Mesmo sem cogitar nomes, ele confirma que existe, sim, um indicativo de que o vice–prefeito Marcos Rotta e seu herdeiro político, Arthur Bisneto, podem ser esses candidatos.

Em 1985, na campanha para a eleição presidencial, Tancredo Neves visitou o gabinete do então deputado federal Arthur Neto. O jornalista Mário Adolfo guardou a foto e presenteou o prefeito

Confira:

BLOG DO MÁRIO ADOLFO – Nesse balanço dos 2 mil dias de sua administração, que avaliação o senhor faz de Manaus, de seus avanços, dificuldades e das dificuldade de administrar uma cidade complexa em meio a uma crise?

Arthur Virgílio, prefeito de Manaus – Eu quero ressaltar o fortalecimento institucional da cidade. Manaus aproveitou todo esse tempo de crise, todo esse tempo de dificuldades para crescer institucionalmente. Pelo índice do FIRJAN, somos hoje uma das cidades mais ajustadas fiscalmente, uma das escolas públicas mais acertadas do país entre as cidades e capitais dos estados. A que tem a previdência pública mais segura. É considerada, do ponto de vista da contabilidade pública, como a melhor capital do pais. Então, nós aproveitamos isso para fazer de Manaus uma cidade independente. Porque a gente  não tem ajuda do governo federal, não tem ajuda do governo estadual e seria uma brincadeira eu dizer ao contrário.

BMA – Como o senhor reage diante das críticas e cobranças, em relação ao estado da ruas da cidade, dos buracos  e da falta de asfalto?

Arthur Virgílio – Passamos por muito sofrimento. Enfrentamos  muito sofrimento,  muitas críticas, tantas dificuldades. Sabendo que isso era uma coisa que estava além de nossa força de trabalho. Tentamos trabalhar em meio a um inverno avassalador. Encontramos uma estrutura muito combalida da cidade, sem conseguir consertar tudo que estragaram em décadas. Asfalto mal feito, sem cuidar da base, da sub-base, sem a compactação correta. E nós  fomos segurando tudo isso esperando a hora da revanche, porque uma hora tem a volta do anzol. E a volta do anzol é agora. A cidade está coalhada de obras e até  julho vamos tropeçar em obras.  Vai ter gente reclamando que as obras estão atrapalhando o trânsito. É muita obra mesmo, com bastante tapa-buracos, drenagem, muito recapeamento,  num total de R$  320 milhões, que seria uma soma razoável se tivesse mais participação do governo estadual e federal. Mas é uma soma que eu considero excelente levando em conta eu e só nosso o dinheiro. É uma poupança só de Manaus, só do povo de Manaus, só do governo de Manaus.

BMA – Como não atrasar salários em plena crise e ainda segurar dinheiro para lançar um projeto que, segundo senhor diz, vai deixar a cidade “coalhada de obras?”

Arthur Virgílio –  Então, a preparação institucional fez com que a cidade não esteja perdida como tantas outras, que  não pagam  pessoal, que não paga isso, que não paga aquilo. Uma outra coisa é o desrespeito que acontece em quase todo o Brasil, onde os governos estaduais meterem a mão na previdência estadual e os governos municipais meteram a mão na previdência municipal. Pra quê? Para fazer obras, para dar impressão de normalidade, para dar impressão que tá tudo bem. Então meteram a mão no futuro dos aposentados e  no futuro daqueles que ainda vão se aposentar. Realmente isso é um crime, que precisa ser investigado, que precisa de uma intervenção do Ministério Público e da imprensa. É  só fazer uma comparação com a previdência privada e pública e gostaria que essa investigação começasse pela nossa de Manaus. A nossa é sólida. Nós tínhamos para investimentos em fundos , que temos que fazer em seguros,  algo como R$ 200 milhões em fundos , sendo também R$ 200 milhões em fundos podres, por isso não sobrava nada para investimentos. Dinheiro preso, se desvalorizando, fundos escusos, que não são sérios. E nos fomos saneando até reduzir a R$ 93 milhões. A medida que cresce o fundo limpo, o fundo podre vai saindo no ralo, com as lembrança do desrespeito ao povo de Manaus.

E eu respondo assim, quando alguém pergunta como não atrasamos salários e continuamos  fazendo tantas obras. Vem disso. Vem da seriedade com  a questão fiscal, vem da seriedade com que se grata a questão previdenciária… Porque a gente também poderia ter feito isso, ter pegado o dinheiro da previdência, mistura daqui faz uma obrinha aqui, outra obrinha ali, até que um dia explode. Eu não quero que exploda. Explodiria quando eu já estivesse longe de Manaus, quando não fosse mais prefeito. Mas o que eu ganho fazendo mal à cidade que me elegeu três vezes prefeito? Que me fez o senador com a votação estúpida que eu tive em 2002? Que sabe que votou em mim e que meu mandato foi furtado em 2010? Que me fez sempre  deputado federal mais votado ou um dos mais votados para a Câmara? Então, como é que eu posso pagar toda essa confiança do povo amazonense fazendo brincadeira de mau gosto, metendo  a mão para qualquer fim que não fosse prevenir a aposentadoria na previdência municipal? Então, isso ainda vai estourar, ainda vai ser alvo de investigação pelo Ministério Público.

BMA – Já que o senhor falou em obras, na campanhas para as eleições suplementares o senhor apoiou o governador Amazonino, e o acordo era que, se eleito, haveria uma ação conjunta. Com início desse Plano de Verão, ainda tem tempo para isso ou o governador esqueceu?

Arthur Virgílio – Olha, sinceramente, eu adoraria ser uma Pitonisa (nome dado pelos  gregos as todas as mulheres que tinham a profissão de adivinhar), para numa leitura de mão entender o Amazonino. Ele é difícil de se entender. Engraçado, ele me chamava de Solimões e ele era o Rio Negro. Por  voto, o que não se faz, né? Depois, ele foi se sentido eleito – em parte pelo rio Solimões (risos) –, e foi sumindo meu nome dos comícios dele. Eu falava no nome dele, mas ele falava cada vez menos em mim. Isso não era importante, falar em mim. Mas era importante falar que  ele não seria  candidato, porque quando eu o apoiei eu disse “vou apoiá-lo, mas nas seguintes condições: depois do tampão, você não é candidato mais, vamos cuidar de restaurar as finanças do estado e normalizar a vida da cidade, cuidando da segurança”.

BMA – Mas, em se tratando de Amazonino, a coligação acreditou mesmo que ele se contentaria com um mandato tampão de um ano e poucos meses?

Arthur Virgílio –  Ele tinha que entender que esse seria uma mandato tampão. Mas não sei se entendeu. Ele age assim. Agora, a última lambança é a do ex-prefeito de nova York  Giuliani (Rudolph). Eu morei em Nova York na época mais dura e não se compara de forma alguma com a  realidade que vivemos hoje no Brasil. Não se compara de forma alguma com a realidade que a gente vive hoje em Manaus. Havia gangues, havia assaltos, mas nada e compara ao que vivemos hoje em nosso país. Eu não sei qual a contribuição real, que o ex-prefeito de Nova York pode dar. Não sei o que pode acontecer. A consultoria realmente é muito cara e a gente espera uma coisa muito especial daí. Mas imagino até que foi mesmo um mero golpe publicitário, que não vai resultar em nada, que não ajudar em nada.

BMA – O senhor nunca apoiou o Amazonino e até chegou a ser um adversário histórico do governador. O que mudou em sua cabeça para de repente, em 2017 apoiá-lo nas eleições suplementares?

Arthur Virgílio – Diretamente foi a primeira vez. Mas, em , em 1998, eu tive como candidato ao senado o Mestrinho (Gilberto). Naquele momento eu não preocupava tanto com Amazonino e sim com Mestrinho. E eu senti que tanto Amazonino como Mestrinho corriam risco naquela eleição que tinha Eduardo Braga como o político novo que poderia ameaçar a sua candidatura. Eu decidi apoiar o Mestrinho e recomendei que ele procurasse o Amazonino. E ele pediu que eu fosse com ele. E nós fomos juntos lá acordamos algumas coisas: que Gilberto seria candidato com Amazonino, que era candidato ao governo, porque os dois se fortaleceriam. E eles quase perderam a eleição, você, lembra? Para o Marcus Barros (Senado) e Eduardo Braga (governo). Decidimos que eu daria o tempo do PSDB  para o Amazonino e eu praticamente não fiz campanha para mim, fiz pro Gilberto. E  no final foi aquele sufoco na hora da apuração. Então, o Amazonino sempre é chegado a uma moleza. Em 94 enfrentou  o Nonato Oliveira e em 1992, na eleição para a prefeitura ele ganhou a eleição com um parceiro nosso que não era tão bom de voto, era um bom amigo: O José Dutra (PMNDBD). E ele espalhou que derrotou a mim e ao Gilberto. Mas, não foi, ele venceu o Dutra. O meu candidato àquela altura e eu disse para o Gilberto e ele não concordou, era o ex-dono desse jornal aqui (referindo-se ao EM TEMPO), o  Marcílio Junqueira, que, se lançado iria acabar com ele. E  na eleição para de 98 ele quase  não vai. Foi um parto laborioso.

BMA (interrompendo) – Mas, na maioria das vezes o senhor sempre esteve do lado contrário ao Amazonino, não é?

Arthur Virgílio –  Enfrentei o Amazonino sozinho, desarmado, combatendo com a baladeira e  ele com  duas máquinas. Foi um massacre  nos tribunais e fora. Uma bomba de gás! Ele venceu. Mas, não pode se queixar. Ele reclama de um problema de saúde aqui outro ali – e eu lhe desejo a melhor saúde, melhor felicidade. Por outro lado, ele foi muito apaniguado pela sorte, na escolha de adversário.

BMA – Nos bastidores existem muitos comentários de que o senhor possa reatar outra vez com o Amazonino nesta eleição. Existe essa possibilidade?

Arthur Virgílio –  Eu não vejo. Eu não quero antecipar nada de política, vou deixar quieto no mês de  julho. Mas não vejo nenhuma potência nessa história. Mas eu, realmente,  estou com tudo em aberto em relação à candidatura. Inclusive, o PSDB, pode sair com candidatura própria, pode sair apoiando alguém, em alguma chapa.

BMA – Então o senhor não tem nada definido, em relação às eleições para governador?

Arthur Virgílio – Ainda não, nós temos, inclusive até a possibilidade de sair com chapa própria, puro sangue e bem amparada por candidatos a senadores que tenham boa possibilidade de eleição.

BMA – Prefeito o senhor ainda espera por aqueles R$ 100 milhões que o governador Amazonino Mendes disse que repassaria, por conta da tal “ação conjunta”?

Arthur Virgílio – É verdade,  foram R$ 100 milhões que ele disse que seriam retirados de R$ 300 milhões de empréstimo do Banco do Brasil e colocar R$ 100 milhões pra Manaus e até hoje… E mais: ele se esquece de uma conta que foi levantada pelo deputado Serafim Corrêa, outro dia, que nós temos quase R$ 800 milhões de créditos do Governo do Estado. Porque o então prefeito Amazonino, foi comigo e o deputado Serafim ao STJ (em dezembro de 2008), que numa sessão histórica reconheceu o direito de Manaus. Que Manaus estava sendo lesada por uma  conta mal feita e dolosamente feita pelo ainda governador Eduardo Braga. O Amazonino ficou indignado, principalmente porque ele queria receber, se não me engano, R$ 238 milhões. Fez uma petição, tudo isso na prefeitura, entrou com uma ação, que tinha o parecer do jurista preferido dele, que qualquer coisa, o Ives Gandra, que serve até para dor de barriga , serve pra tudo (risos). É uma espécie de guru dele, com quem, em tudo ele vai ao Supremo. Sempre o Ives Gandra, não tem outra pessoa que saiba. Mas o Ivez Gandra, de fato, conhece e deu um parecer a  favor de Manaus, e o prefeito Amazonino queria que o governador Eduardo Braga pagasse essa diferença de ICMS em cima daqueles fundos do Governo do Estado. Manaus estava  perdendo, naquela época 238 milhões e agora, como foi divulgados pelo cálculos do deputado Serafim entre R$ 750 a R$ 800 milhões.

N.R. (Sobre isso, o deputado Serafim Corrêa informa que Amazonino então prefeito, ajuizou uma a ação contra o governo Eduardo Braga e até hoje o Governo não pagou. Hoje Arthur tenta receber, mas o Amazonino foge).

BMA – Se essa dívida ainda existe, por que o senhor não cobra?

Arthur Virgílio – Eu já propus ao Amazonino dividir isso em 50 e poucas vezes. Desculpe, 24 vezes. Daí, óbvio, que eu cobrei a ele o dinheiro que ele me prometeu, os R$ 100 milhões. E como ele fala que resolveu a questão econômica do estado e que está por cima da carne seca  e que arrumou o dinheiro para pagar os  reajuste, data base, não sei onde, eu cobrei. Mas ele não paga. Com ele é tudo atrasado. Tudo é uma coisa pra pagar num sei quando. Pra gente é tudo certinho. Pra mim se o acordado é 1º de junho é 1º de junho. E não 10 de agosto. O dele é tudo estrambolado uma coisa meio…. enfim.

BMA – Qual é a resposta quando o senhor procura o governador para receber?

Arthur Virgílio – Bem, aí eu aproveitei pra dizer ao Amazonino: Vamos dividir esses R$ 750 milhões aí em 24 meses, me pague a vista logo os R$ 100 milhões que é um compromisso de honra seu. E mais R$ 200 milhões. Desses, R$ 100 milhões o senhor usa na sua Região Metropolitana, mas sob a minha fiscalização, claro, porque obra em Manaus tem que ser fiscalizada por mim. E eu não abriria mão disso nunca. E os outros R$ 100 milhões o senhor repassa à prefeitura para reforçar nossas obras em  Manaus. E eu aproveitei também para dizer: o senhor não pode entrar com menos de R$ 300 milhões se eu estou entendo com R$ 320 milhões . O senhor fez e aconteceu,  contrato com o Giuliani e não é possível que não tenha R$ 300 milhões para ajudar a cidade que o hospeda e que lhe deu uma votação que foi dada também com um esforço nosso. Então, por favor, ajude Manaus. A gente com 620 milhões, 320 meu e 300 dele, seria um grande negócio para Manaus.

BMA – Se cumprida essa negociação poderia ser uma garantia de apoio?

Arthur Virgílio – Não. Eu não em falei em apoio, não. E nem houve reposta.

BMA – E qual é relação, hoje, do prefeito de Manaus como governador?

Arthur Virgílio – Quando o encontro é boa , é cordial. É assim. Ele finge que me paga, eu finjo que recebo… (risos). É tudo assim, numa boa.

BMA – O senhor tirou seu filho, Arthur Bisneto e o vice, Marcos Rota das secretarias. Isso seria o indicativo de que eles podem ser os candidatos do PSDB?

Arthur Virgílio – Há sim, indicativos de que eles podem ser candidatos. Eu vejo por aí muitas falas, muitas especulações, muita história. Mas em eleição, eu conheço bem a minha cidade, meu estado. Daqui a pouquinho vai chegar a hora de a gente ver quem tem café no bule. Por enquanto podem brincar  à vontade, pode fazer a maior Disneylândia que eu não estou preocupado. Na hora própria, sem prejudicar a minha gestão, vamos ver quem tem ou quem não tem café no bule.

BMA – Houve muita repercussão, inclusive internacional, o fato em que o senhor se recusou a receber o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence.  Isso pode causar algum reflexo negativo a Manaus?

Arthur Virgílio – Não vejo.  Mas eu vejo que o vice-presidente foi insolente, fazendo cobranças que ele não tem moral pra fazer. Cobrando sobre os venezuelanos refugiados. E as crianças brasileiras que ele (governo Donald Trump) separou dos pais?  E o tratamento que eles dão ao mexicanos, inclusive, querem obrigar o México a pagar um muro  que não interessa ao México. Um muro que eles vão construir e querem que o México repasse o dinheiro a eles.  Isso de separar pai de filho, mãe de filho, acontecia  por um sujeito perturbado, esquizofrênico, que tinha um bigodezinho  e que de 39 a 45, no século passado, transtornou o mundo postando as bases para o que seria o grande conflito da 2ª Grande Guerra. Então, o homem do bigode , Adolf Hitler, foi considerado o símbolo do mal. Quem separar pais de filhos está imitando esse modelo. Eles separavam lá, também (Auschwitz), só que para matar na câmara de gás.  Separando pais de filhos, mata de angústia, de sofrimento. Então, o presidente Trump recebe mal imigrantes, cumpre fielmente  o projeto de campanha dele que é de desrespeito aos imigrantes, de perseguir os imigrantes, esquecendo a enorme contribuição que eles dão aos Estados Unidos ao longo da história americana.  Grande parte dessa prosperidade foi construída pelos imigrantes. E eles (os americanos) se apossaram de duas regiões mexicanas, hoje Texas e Califórnia, que teriam feito do México uma  superpotência econômica, se o México fosse dono, como era no início.

Não sou nenhum antiamericano, não prego isso. Eu apenas fiquei indignado com o gesto que ele tomou. Primeiro não tem moral para falar sobre imigrantes. Nós fomos reconhecidos pelo alto comissário das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), por sermos uma cidade que soubemos dar um tratamento adequado aos venezuelanos, inclusive nos pediu técnicos nosso para ir ajudar na luta lá em Roraima. E mais: disseram que nós serviríamos de exemplo em outros episódios pelo mundo afora,  e eu fiquei muito feliz por isso. Então, ele não tem moral para nos ensinar a ser solidários.

BMA – Houve também restrições do cerimonial?

Arthur Virgílio – Ele chega aqui manda avisar que vem com as seguintes condições. Eu teria que ir sozinho, nem esposa poderia levar, nenhum  assessor, ninguém . E eu teria que esperar duas horas, no aeroporto, por ele. E a imprensa, pior do que eu, teria que esperar desde as 07h da manhã. Não vejo por que. A  imprensa é livre. Se errar, paga seu preço profissional, mas ele dizer que horário a imprensa deve chegar, a hora que não deve? E mais essa coisa, restrição à minha esposa.  Então, o que esse rapaz quer?  Depois desce de um avião cargueiro que, quando abriu as portas, só se via helicóptero. Aquele clima belicoso, as pessoas em posição de guerra, um bando de “Rambos” subindo no telhado, interditando ruas, fazendo uma confusão. Quer dizer, ele não queria conversar comigo, e pelo que vimos também, não queria conversar com o governador. Passou por cima de tudo que é hierarquia que é símbolo de poder no país e no Amazonas. E eu não costumo aceitar uma coisa dessas. Não sou antiamericano, ao contrário, não gosto da ditadura do Maduro. Eu detesto a Venezuela do Maduro. Gosto da Venezuela dos democratas  que haverão de libertá-la. Mas demonstração de racismo, preconceito, prepotência e ignorância não aceito. E por isso fiz uma nota. Um vice-presidente que visita um pais amigo com aquele aparato militar é no mínimo esquisito. Eu achei a visita dele uma visIta esquisita.

BMA – O TSE divulgou o teto de gastos para os partidos. Para deputado federal será R$ 2,5 milhões. Pra estadual R$ 2,5 milhão. O senhor acha que esse valor  é suficiente para uma campanha?

Arthur Virgílio – Eu não sei nem se eu tenho direito, viu? Porque  briguei tanto dentro do PSDB que, de repente, eles vão dizer assim: O Arthur está de castigo, não tem dinheiro para campanha do pessoal do Arthur. Esse projeto (de verba para campanhas) é esquisito, porque é mais um imposto cobrado ao povo, para um atividade que justamente  o povo não está prezando, que é a atividade política.  Politico tem se dá ao respeito, sim. Hoje em dia politico tem que ter experiência, competência e nome limpo. São três coisas que você precisa ter pra fazer a política voltar ao tempos em que os políticos era respeitados. Lá na minha casa, a gente estava na maior algazarra e minha mãe dizia assim: vamos parar com a palhaçada que hoje vem aqui em casa o ministro fulano de tal. E a gente parava mesmo, ou era mandado pra casa do vizinho. Hoje, se falar que vem o ministro na casa de alguém vão jogar futebol na sala, por cima da cabeça dele. Ou seja, se perdeu a densidade de respeito (risos).

Mas acho que isso pode ser bom, é um dinheiro bastante para se fazer uma campanha, embora eu discorde  da fonte. Eu acho que  tem que haver fiscalização de empresa que empresa que trabalha com caixa 2. E empresa que trabalha com caixa 2 deve ser punida muito severamente. E  que, aliás, não são punidas nunca.

BMA – O senhor acha que essas verbas de campanha devem vir de vaquinha virtual, da internet?

Arthur Virgílio – Sim, da internet, das vaquinhas virtuais e de empresas ditas como limpas, não é? Que não esteja vinculado a nenhum voto de deputado, a nenhuma pressão sobre deputado. Todas essas aí que estão na Lava Jato deveriam ter sido excluídas. Mas eu vejo que podem sim, vir de mobilização na internet, vaquinhas virtuais de seguidores, com CPF, que é muito sofrido de conseguir. E eu espero que a parte do Amazonas chegue aqui.

BMA – Prefeito, existe alguma possibilidade de o senhor vir a apoiar o candidato de seu partido, Geraldo Alckmin, depois de todo que houve quando o senhor se lançou a uma possível prévia do PSDB (que não houve),  a presidente da Republica?

Arthur Virgílio –Eu vou conversar com o Alkmin, a situação dele aqui é bem difícil. A questão não está em apoiar ou não apoiar. Porque, por exemplo, teve aqui outro dia o Álvaro Dias, de um partido pequeno, grande amigo meu, meu irmão. Não sei se você sabe, mas das pessoas que atingiram os 70 anos, daí pra cima, sobraram dois dinossauros na política brasileira. Ele e eu. Os outros foram perdendo as eleições, foram sumindo. Nós soubemos nos adaptar à democracia. Porque a ditadura, é uma coisa tão  perversa que ela adoece quem apanha, mas ela adoece também quem bate. Quem bate também fica psicótico. E você aprende a dizer sim ou não. Ou  você  diz sim incondicionalmente  pra ela ou diz não. E você não constrói um país  futuroso, se ficar entre o “sim” e o “não”, no maniqueísmo. Tem que pensar no “talvez”, no “pode ser”. E não é dúvida sim, mas não é indecisão.   Duvida e quando precisa estudar mais o assunto. E indecisão é quando você é coluna do meio.

BMA – Isto significa que o Alckmin nem pensar e o Álvaro Dias é uma possibilidade?

Arthur Virgílio – O Alckmin eu vou conversar com ele, em Brasília, São Paulo. No caso do Álvaro, eu estivesse na FIEAM (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) e disse a ele, “eu  vim aqui, tenho minhas  admirações partidárias, mas eu  recebo qualquer presidenciável que me procure”. E, claro, não poderia deixar de receber o Álvaro que é tão querido meu. E o que eu quero dizer é que, quando a gente fala em Zona Franca de Manaus a gente cobra dos outros que ele digam que apoiam. Mas o Álvaro já apoiou. O Álvaro foi meu parceiro no Senado e estava a disposição da Zona Franca para o que desse e viesse, no voto e na voz. . O Alckmin teve aquelas das Adins (Ação Direta de Inconstitucionalidade), por sinal no meio de eleições minhas. Adins fadadas à derrotas porque nos temos a cobertura constitucional, por estar nas disposições transitórias da Constituição e isso foi prorrogado também. O Alckmin, não sei o que ele  vai dizer, mas quero ouvi-lo. Jamais me fecharia a ouvi-lo, vamos ver o que vai dar.

BMA –  Prefeito, o  ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso teve uma admiração muito grande pelo senhor, e, de repente, quando o senhor alçou um voo mais alto para se candidatar à presidência da República, ele negou esse apoio, não foi?

Arthur Virgílio – Eles acham que a gente aqui do Norte/Nordeste serve para ser até ministro, mas não serve pra ser presidente.

BMA – O que o senhor sentiu com essa atitude do Fernando Henrique, de quem o senhor era um defensor intransigente?

Arthur Virgílio –Foi uma decepção geral. Foi um choque porque meu próprio nome foi vítima de preconceito. Na Câmara, na minha primeira fala pro Jornal Nacional, em 1983,  eu não tinha esse preconceito, esse complexo de vira-lata. O tempo inteiro eu fui líder de governo, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, líder de governo de novo, depois o Fernando Henrique disse que eu era o candidato pra ser líder de governo dele, mas eu disse que não porque queria chegar e ficar o primeiro ano, mas no segundo ano sim. Aí ele não admitiu e me deu uma dura. Aí eu nunca expliquei isso pro Romero Jucá. Ele era do PSDB, e ele era candidato a líder e eu estraguei a candidatura dele. E ficou uma coisa meio chata. O Fernando Henrique disse que o Romero passaria para o PMDB e passaria como líder, e isso traria uma imagem ruim, ao passo que nós, se perdêssemos, seria um baque menor. Aí ficou um clima meio chato, de desacerto com o Jucá, mas eu venci a eleição, fui líder do Fernando Henrique durante oito anos. As assinaturas corriam, não tinha eleição, não tinha ninguém que competisse comigo e eu fiquei lá por oito anos. Aí, com todas essas credenciais eu me candidato à presidência da República pelo meu partido, que  dirigi nacionalmente por três anos e percebi que eu tinha um limite e que esse limite era regional. Meu limite pode ser tudo: menos presidente da República. Eu sou de um estado pequeno e o Geraldo Alckmin é de um estado grande, mas do que adianta? Será que se eu fosse candidato eu não teria crescido mais que ele? estaria ali naquele “rame rame” dele? O Fernando Henrique, hoje, já tem acenado até pra Marina Silva. Ela até poderia ser uma candidata real ao segundo turno se conversasse com todo mundo e deixasse o radicalismo de lado.

BMA – A Marina seria um bom nome à presidência da República?

Arthur Virgílio – Seria uma candidata real, em potencial ao segundo turno se  deixasse o radicalismo, se deixassem ela falar. Como fez o Lula com o PT. O Lula disse: “Olha se vocês não deixarem eu falar com o banqueiro, com empresário, não deixarem eu falar com ninguém eu não sou o candidato! Aí o PT aceitou. Como o PT aceitou o Lula foi candidato e usou o José de Alencar como salva vidas. Pois é, se a Marina desse esse grito de independência, ela teria amplíssimas chances de ir para o segundo turno. E o Bolsonaro é aquilo. Destrata todo mundo, tem um pensamento atrasado e se esconde atrás do economista. Ele é homofóbico. Teve também aquele comentário dele sobre o estupro, bate em cabeça de jornalista.  E depois diz que é o homem da família, da moralidade e da segurança. Mas quando fala de coisas pessoais, é um desastre. É complicado, eu não sei como ele está,  mas se você ver o Bolsonaro, acho que ele tem mais do que esses 20% que apontam as pesquisas. Se você pegar a chegada dele no aeroporto de Manaus e de São Luiz é coisa de louco. Sem gastar um centavo.

BMA – O senhor já vem trabalhando ou já vislumbra algum nome que possa sucedê-lo na prefeitura?

Arthur Virgílio – Se ele estiver disponível  até lá será difícil tirar essa prefeitura do Marcos Rotta. Se ele estiver disponível.

BMA – Depois do mandato, qual será o futuro politico do Arthur Virgílio?

Arthur Virgílio – Essa parte é  chata (risos). Mas eu quero dar um tempo pra mim. Acho que mereço isso. É muito tempo, muita luta. Mas não sei se consigo. Eu não sei ser nada pela metade. Se eu abraço uma causa, aquela causa vira uma obsessão diária. Acho que tenho que  experimentar outras coisas, palestras. Eu preciso de um certo descanso. Quero ter médico às 10h  e ir ao médico às 10 horas, e não adiar no meio do caminho porque surgiu outra coisa.

BMA – Então o senhor está dizendo que vai deixar mesmo a política?

Arthur Virgílio – Eu nunca descartaria a política. Político serei sempre. Falo em política partidária. Eu tenho muita vontade de ter força para sair. Reunir todas as minhas forças para não sofrer a tentação de voltar.  Mas isso é mais forte do que eu realmente desejo. Eleição é uma coisa que me estimula. Me fascina. Gosto tanto de eleição  que ao invés da urna eletrônica, sinto saudades daquela cédula do papel, da contagem voto a  voto.

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