Lúcido, sereno, sem guardar mágoas e sem o velho tom de raiva. Este é o perfil do Lula 2022 que poderá voltar a disputar a presidência da República. Com os direitos políticos restabelecidos, após decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente discursou e deu entrevista no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, quando adotou um tom diferente daquele visto três anos atrás, às vésperas de sua prisão pela Lava-Jato.
Quebraram a cara os aliados de Bolsonaro que apostaram na ideia de que Lula faria uma fala mais “raivosa” e dirigida para o público cativo do PT. Ao contrário disso, o petista fez um discurso de tom mais conciliador, o que levou os aliados de primeira ordem de Bolsonaro avaliarem que, se Lula continuar com tom que deu ontem, “pode dar muito trabalho nas eleições de 2022”.
— Há muito tempo atrás sonhei que era possível mudar esse país, criando milhões de empregos; Sonhei que era possível um metalúrgico sem diploma de Universidade cuidar mais da Educação do que os diplomados que governaram esse país; Sonhei que era possível diminuir a mortalidade infantil levando feijão com arroz às crianças. Se foi esse o crime que cometi, vou continuar sendo criminoso nesse país –, sentenciou o ex-presidente.
Sem mágoas
O ex-presidente disse que teria motivos de sobra carregar rancores ou mágoas. Mas não os tem.
— Se tem um brasileiro que tem razão de ter muitas e profundas magoas sou eu. Mas não tenho.
— O sofrimento do povo brasileiro é maior do que qualquer crime que tenham cometido contra mim – completou.
Pregou a união
Sem assumir se irá disputar a eleição em 2022, Lula falou como candidato por cerca de uma hora e meia e depois respondeu perguntas por mais uma hora. Relembrou seus anos de governo e pregou a união entre os brasileiros, em uma cutucada ao atual presidente.
Mentira jurídica
Mas o principal alvo foi mesmo Moro e a Lava Jato.
— Sei de que fui vítima da maior mentira jurídica contada em 500 anos de história [do Brasil] –, disse o petista, avisando que “vamos continuar brigando para que o Moro seja considerado suspeito.
Deus de barro
Lula declarou também que ainda espera que Moro seja considerado um juiz parcial, porque ele não tem o direito de se transformar no maior mentiroso da história do Brasil e ser considerado herói por aqueles que queriam me culpar.
— Deus de barro não dura muito tempo! – disparou.
Minha dor não é nada
No momento de maior comoção em seu discurso, Lula disse que sabe o que sua família passou quando ele se encontrava preso.
— Que a Marisa morreu. Poderia estar magoado. Mas não estou. A dor que sinto não é nada diante da dor que sofrem hoje milhões de brasileiros – , afirmou.
E logo em seguida completou:
— A dor que eu sinto não é nada perto do que sentem os familiares das quase 270 mil vítimas do coronavírus –, disse o ex-presidente.
Defesa da vacina
Por quase duas horas e meia, o presidente falou sobre a necessidade de se empreender uma vacinação em massa contra a covid-19, classificou o governo de Jair Bolsonaro de “desgoverno” e celebrou a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que anulou todos os processos contra o ex-presidente, por fazer “prevalecer a verdade”.
Uso da máscara
As sinalizações explícitas do petista em defender o uso de máscara, vacina e o isolamento social, tudo que é hoje visto como maior calcanhar de Aquiles de Bolsonaro, também preocuparam os aliados.
Pediu licença
Bem diferente das concentrações de Jair Bolsonaro, Lula disse, antes de iniciar o discurso, que estava mantendo a distância dos jornalistas , que estava usando máscara e que esperava que os presentes também estivesse usando.
— Agora, vou pedir licença dos médicos que aqui estão para tirar a máscara quando falar – ,disse Lula antes de iniciar o discurso.
Vou tomar minha vacina
Lula também fez campanha a favor das medidas restritivas dos governadores e pelo imunizante.
— Semana que vem, se Deus quiser, eu vou tomar a minha vacina. Vou tomar a minha vacina. Não me importa de que país, não me importa se é duas ou uma só, sabe?
“Decisão imbecil”
Depois de avisar que já tinha agendado a primeira dose da vacina, Lula cutucou:
— Eu vou tomar minha vacina e quero fazer propaganda pro povo brasileiro: não siga nenhuma decisão imbecil do presidente da república ou do ministro da saúde. Tome vacina!
Repercussão
Nem bem acabara de falar e o discurso de Lula já estava sendo destacado e elogiado nas redes sociais por jornalistas e diversas personalidade políticas. As falas do petista em defesa da ciência e de medidas sanitárias e de uma nova política econômica tiveram boa repercussão.
Efeito Lula
Logo depois do ex-presidente Lula fazer seu histórico discurso com duras críticas à condução do governo Bolsonaro diante da pandemia de Covid-19 e ao armamento da população, o clã Bolsonaro parece ter sentido o baque e se reorganizado.
Em evento realizado nesta quarta-feira (10), o presidente Jair Bolsonaro foi visto de uma forma diferente da habitual: o mandatário reapareceu usando máscara de proteção facial, o que não acontece já há alguns meses.
Então, tá!
Durante sua fala tentou destacar alguns “feitos” de seu governo e disse que “o governo não poupou esforços” para combater a Covid-19. “A seriedade e a responsabilidade faz parte do nosso governo”, disse.
Até tu, filho meu?
O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, também explicitou essa virada narrativa no clã.
O parlamentar compartilhou um meme em que Bolsonaro aparece dizendo que “nossa arma é a vacina”. Lula havia criticado duramente o armamento da população durante o governo Bolsonaro.
Cutucada
O ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ) cutucou o senador e criticou a mudança de postura do governo, após meses defendendo o uso de medicações sem eficácia contra o coronavírus.
— Sentiu –, ironizou Maia.
A fila tem que andar
O deputado Serafim Corrêa (PSB) alertou eu em Manaus existem 4.600 médicos e que a vacinação desses profissionais está aberta há mais de um mês. No entanto, até o momento, somente 3.673 médicos se vacinaram.
— Isso significa que os que não se vacinaram ou já mudaram de cidade ou já mudaram da profissão ou já estão aposentados ou por alguma razão, que não sabemos qual é, não querem se vacinar – observou o líder do PSB.
Vacinas na geladeira
Serafim sugeriu que as vacinas não utilizadas por alguns grupos, por falta de procura, sejam redistribuídas nas faixas prioritárias subsequentes.
—Minha sugestão é que essas vacinas sejam aplicadas,
na sequência, por idade. Dou exemplo dos médicos que são pessoas esclarecidas. Não podemos ficar com essas vacinas eternamente na geladeira –, defendeu o parlamentar.
Jair e Jaildo
O vereador Jaildo Oliveira (PCdoB) apresentou indicação à Prefeitura de Manaus para a criação do “Auxílio Emergencial Estudantil” para os estudantes que se encontram em situação de vulnerabilidade econômica. O valor da babita é de R$400,00 – maior que o de Jair Bolsonaro.
Bom uso
Por sugestão da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), o vereador pediu também que aparelhos eletrônicos como tablets, celulares, computadores e demais dispositivos de informática, apreendidos pelos órgãos públicos, sejam destinados aos estabelecimentos de ensino.
Hoje, na impossibilidade de aulas presenciais, esses equipamentos são necessários à realização das aulas virtuais.
ÚLTIMA HORA
Levantamento CNN/Instituto Real Time Big Data sobre as eleições presidenciais de 2022, divulgado nesta quarta-feira (10), mostra um quadro de empate técnico entre Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É o primeiro levantamento após a decisão do ministro Edson Fachin de anular as condenações de Lula, restituindo os seus direitos políticos. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Segundo os dados, no primeiro turno, Bolsonaro aparece em primeiro, com 31% dos votos, e Lula aparece em segundo, com 21%. Em seguida há um empate técnico no terceiro lugar entre quatro candidatos: Sergio Moro (10%), Ciro Gomes (9%), Luciano Huck (7%) e João Doria (4%).
Conforme o levantamento, num cenário de segundo turno entre Bolsonaro e Lula, a pesquisa estimulada registrou 43% das intenções de votos Bolsonaro e 39% para o ex-presidente Lula. Levando em conta a margem de erro de três pontos percentuais, eles estão tecnicamente empatados no segundo turno. A pesquisa foi feita por telefone com 1.200 pessoas de todo o Brasil, entre os dias 8 e 9 de março.
ORGULHO
Para o legado do jornalista Hélio Fernandes, que faleceu nesta quarta-feira, 10, aos 100 anos de idade, de causas naturais. Irmão mais velho do desenhista, humorista e escritor Millôr Fernandes, Hélio Fernandes foi um dos profissionais da comunicação mais perseguidos durante a ditadura militar. Ele adquiriu o jornal Tribuna da Imprensa em 1962, dirigindo-o até 2008, quando o impresso deixou de circular. Era conhecido pelo estilo combativo de fazer jornalismo. Trabalhou também na revista O Cruzeiro e no jornal Diário Carioca. Seu centenário, completado no dia 11 de janeiro deste ano, foi comemorado com o lançamento do documentário Confinado, do jornalista Mario Rezende. O documentário mostra o período em que Hélio Fernandes foi confinado pelo governo militar por um mês, em um quartel em Pirassununga (SP), depois de ter sido enviado com o mesmo propósito para Fernando de Noronha.
VERGONHA
A apresentadora da GloboNews, Cecilia Flesch, usou um termo preconceituoso em uma postagem nas redes sociais para se referir à maneira como se expressa o ex-presidente Lula. Depois disso, apagou o tuite, tentou se justificar, mas não adiantou: foi enquadrada pelos internautas. Na postagem que provocou os comentários, Cecilia postou “E os ADEVOGADOS”, se referindo a uma fala de Lula, na coletiva desta quarta-feira (10). A reação contrária pelo preconceito linguístico foi imediata. Ela apagou o tuite e alegou: “Deletei um Tweet meu, porque voltamos ao extremismo. Não tô disposta pra isso”. No entanto, não adiantou, pois os internautas não perdoaram. Então, ela ataca o ex-presidente o “extremismo” é de quem a critica?